DOIS OPERÁRIOS

De repente, o tombamento de um guindaste mata dois operários. Dois trabalhadores que saíram de seus  respectivos lares para erguer  um estádio de futebol que pleiteia a abertura da Copa de 2014. Itaquerão.

Operários que até então colocavam  as mãos na massa para construir  uma arena histórica,   palco amplamente apreciado por uma  clássica torcida alvinegra.

Até para os menos entusiastas de futebol, difícil   ignorar  o interesse e a exposição política, artística e esportiva que  domina o país em tempos de competição  - o   hino, a seleção e a bola.

Há de se considerar dois grupos:  aqueles que desprezam toda a euforia do universo   futebolístico, e aqueles  que  almejam absorver nas  entranhas a  emoção que o  mundial    pode  proporcionar. Ambos torcem.

Torcem para o clima atrapalhar o dia dos  jogos, por tímidas vendagens de ingressos para assistir à partida, para a   derrota da seleção da casa  ou adversário favoritos. Desdenham  a motivação de   um evento absurdamente  caro destinado para  um público absurdamente necessitado. E não cabe aqui enumerar as necessidades. Torcem por gols espetaculares, o brilhantismo de um atacante, a vitória,  gramado impecável e uma arquibancada    estrondosa.

Mas os dois operários partiram – e  as obras não podem parar, espera-se  aceleração e agilidade pois o tempo não adormece.

Espera-se também  lucros consideráveis  – mas  nessa espera,   os dois operários que tiveram  as suas vidas ceifadas por um guindaste não vão assistir ao evento, tampouco  gramados  e bolas substituem vidas.