DOIS OPERÁRIOS
Por Maria Estela Ximenes | 06/12/2013 | CrônicasDOIS OPERÁRIOS
De repente, o tombamento de um guindaste mata dois operários. Dois trabalhadores que saíram de seus respectivos lares para erguer um estádio de futebol que pleiteia a abertura da Copa de 2014. Itaquerão.
Operários que até então colocavam as mãos na massa para construir uma arena histórica, palco amplamente apreciado por uma clássica torcida alvinegra.
Até para os menos entusiastas de futebol, difícil ignorar o interesse e a exposição política, artística e esportiva que domina o país em tempos de competição - o hino, a seleção e a bola.
Há de se considerar dois grupos: aqueles que desprezam toda a euforia do universo futebolístico, e aqueles que almejam absorver nas entranhas a emoção que o mundial pode proporcionar. Ambos torcem.
Torcem para o clima atrapalhar o dia dos jogos, por tímidas vendagens de ingressos para assistir à partida, para a derrota da seleção da casa ou adversário favoritos. Desdenham a motivação de um evento absurdamente caro destinado para um público absurdamente necessitado. E não cabe aqui enumerar as necessidades. Torcem por gols espetaculares, o brilhantismo de um atacante, a vitória, gramado impecável e uma arquibancada estrondosa.
Mas os dois operários partiram – e as obras não podem parar, espera-se aceleração e agilidade pois o tempo não adormece.
Espera-se também lucros consideráveis – mas nessa espera, os dois operários que tiveram as suas vidas ceifadas por um guindaste não vão assistir ao evento, tampouco gramados e bolas substituem vidas.