Doi menos, aprender com os erros do outro.

Ao longo de história dos tempos e do comportamento do homem frente aos seus desafios, aqueles que conseguem fazer o que aprendeu, e conseguem projetar essa forma, de modo a fazer o que sabe, do seu jeito, com valores a mis agregados ao que aprendeu, com um algo a mais daquilo que aprendeu, vai mais longe e consegue fazer a diferença que o mundo espera. Esse fato nos remete a situações diante das quais é preciso ser forte para manter-se com as raízes fincadas no chão que que te serviu de base, mas com as asas em uso elevando sonhos e possibilidades de voar cada vez mais alto. O Pai, qual arqueiro que se curva diante da tenacidade da corda que mantém o arco em riste, curva-se para que o seu “tiro” de arco e flecha alcance o ponto mais distante possível, o projétil do seu esforço: sua flecha. Nesse momento, além da força, esteve em jogo, o conhecimento, o foco e a determinação.

Com o filho, por mais que lhe custe, todos nós os criamos para o mundo, para a vida, para o perigo, para a incerteza... mesmo assim, o forjamos como sendo capaz de deslindar quaisquer embaraços, decifrar quaisquer enigmas, desvendar quaisquer mistérios...

Ora, como prepará-lo para um mundo para ele desconhecido, como o mundo dos limites, o mundo do não, o mundo do eu não posso, não devo, não faço... A criança destemida dos dias de hoje. Não é necessariamente a corajosa do amanhã, seu destemor pode perfeitamente está encravado na ignorância de uma escala de valores que certamente não está na moda, por assim dizer, mas aquela do “crio-o, sem que lhe falte nada. Crio-o de modo a protegê-lo de qualquer pessoa ou situação que o contrarie. Não permitirei que o mundo o contradiga. Ele é perfeito!”

Com esse discurso, o pai acredita estar formando um novo homem. Preparando-o para o futuro de um tempo que não se sabe como se descortinará diante dos olhos desta e daquelas gerações do porvir. A criança não se habitua com a palavra “não”, certamente não saberá pronunciá-la quando for preciso decidir, por si mesma, na vida adulta, tempo em que os pais não estarão mais no “comando” da situação. E não há retorno.

No tempo do senta que lá em história, vale recordar:

“O mestre conduz seu aprendiz pela floresta. Embora mais velho, caminha com igualdade, enquanto seu aprendiz escorrega e cai a todo instante.

O aprendiz blasfema, levanta-se e cospe no chão traiçoeiro e continua a acompanhar seu mestre.

Depois de longa caminhada, chegaram a um lugar sagrado. Sem parar, o mestre dá meia volta e começa a viagem de volta.

-Você não me ensinou nada hoje- diz o aprendiz, levando mais um tombo.
-Ensinei sim, mas você parece que não aprende – respondeu o mestre – estou tentando te ensinar como se lida com os erros da vida.

-E como lidar com eles?

– Como deveria lidar com seus tombos- respondeu o mestre- Em vez de ficar amaldiçoando o lugar onde caiu, devia procurar aquilo que o fez escorregar.”

Muitos pais e educadores, por necessidade de estar distante da formação dos seus filhos, por conta do trabalho tentam compensar com duas armas letais: nunca dizem não e o filho sempre tem razão. Dois caminhos que se não tortuosos, são perversos. Quando precisar enfrentar qualquer dificuldade na escola, na rua, no esporte, no seu futuro casamento, no trabalho o seu filho será um fraco. Não porque não tenha fibras físicas saudáveis ou raciocínio logico capaz de colocá-lo à frente dos problemas, mas porque ele não foi forjado no calor simultâneo do sim e do não, do fale e do me ouça, do eu te respeito, mas quem manda sou eu. Esse é um padrão de comportamento machista e patriarcal? Deem o nome que aprouver, os mais acomodados, mas ser firme não significa ser grosseiro, ser rude; castigar por castigar, mas sim, ser rigorosamente afetivo a ponto de ser reconhecido como o autor da formação do perfil de um novo homem.

Eu sei, não queria saber se... Mas o meu ilho precisa saber que caminhamos em busca do fim. Meu filho não sabe, não sei se queria que ele soubesse...  Eu sei, mas meu aluno não sabe que eu sei que ele não sabe...

Com tantas tecnologias e inteligências artificiais creio que ele sabe que não sabe, mas não sabe que seu pai sabe.

No fundo ele sabe que precisa saber como seu pai sabe, mas o “me deixe, que estou estressado” o torna arrogante demais para admitir que depende de alguém que lhe diga não, quando a resposta é não e lhe diga sim, se achar conveniente agir assim. Afinal, a palavra, seja ela a primeira ou a última pertence a quem banca. Ao patrocinador de eventos que formam a vida de uma criança, seja a dotação financeira ou institucional, cabe a palavra norteadora, a palavra gestora, a palavra corretiva, punitiva, ilustrativa, se for o caso.

Sabe-se que para a garotada que está aí, tudo parece muito simples. Simples para responder maquinalmente. Nada contra, em tese, à inteligência artificial, mas é preciso por em prática raciocínio lógico integrado aos sentimentos. Não cabe discutir ensinamentos e aprendizagens fora da área de  cobertura da humanização com vistas a resultados concretos. Não dá para se esperar que uma criança que não está habituada a ouvir isso sim, isso não, desenvolva parâmetros que a faça refletir para agir. “Não viveremos tempo suficiente para aprender tudo com os nossos próprios erros” diz o dito popular. Aprendamos com as lições que nos são passadas pelas pessoas mais próximas, por aquelas pessoas a quem temos respeito, compromissos e dedicação necessária para nos fazer seguir caminhos. Há uma lacuna entre o que se explica e o que se entende. Mas há um abismo entre quem faz o que não sabe fazer diferente, porque aprendeu por si mesmo.

É urgente que se equacione esses lapsos que a cada dia distancia o ser humano de sua história de valores, dos seus fazeres porque pode, e porque deve. “Não aceito que me repreendam” ninguém é repreendido. Repreende-se o que vem de encontro a, repreende-se o ato, não o autor, o sentimento que o fez agir no desconforme, não a mão que agiu, a boca que falou...mas o coração que sentiu.

“Minha filha de 10 anos não quer mais brincar de bonecas pois tem medo de que suas coleguinhas a critiquem por essa infantilidade” Palavras de uma mãe que com certeza não tem o que responder à pequena filha. Ora, se a mãe,, responsável primeira pela formação de caráter e condução de comportamento das crianças enfrenta esse dilema por conta da proliferação de atos outros que “fogem dos seus padrões”, o que virá por aí pode ser bem mais forte: os maus hábitos daqueles que não tiveram a presença marcante e decisiva de pais que limitem e orientem, vai ser muito mais forte do que a ausência pretérita de pais e responsáveis que tenham sido atentos o bastante para criar filhos para serem fortes e resistentes às investidas do “menino de rua”, da garota “que fez o que bem quis de sua infância, que não recebeu, sequer noções de limites. Doi menos sim, aprender com os erros dos outros. Não se trata aqui, de se antegozar da desgraça alheia, mas tirar dela o proveito necessário a poupar a si mesmo e aos seus filhos de, no futuro, terem de pagar uma fatura pela qual não foram responsáveis. Não há de se cobrar em tempo futuro. Há de se honrar hoje para se ter a garantia de que mundo será tocado por pessoas sensíveis e sensatas a ponto de distinguir o que pode e o que deve ser feito pela honra, pela felicidade e pela vida. Não precisa doer, nem mais nem menos. Basta ser ensinado com o rigoroso carinho que transforma lições em conquistas. Procura-se, portanto: onde estão sendo formados os pais do amanhã?

  • Sebastiao Maciel Costa