DOENÇAS CAUSADAS POR

ALIMENTAÇÃO INADEQUADA 

 Emanuel Isaque Cordeiro da Silva

Departamento de Zootecnia da UFRPE

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INTRODUÇÃO

Das muitas doenças esporádicas que podem afetar os animais, as mais frequentes afetam o aparelho digestivo ou são causadas pelo consumo de alimentos inadequados.

Nas alterações que ocorrem no estômago e intestino é muito estreita a relação entre as doenças e a alimentação. Por um lado, os alimentos em más condições, sujos, ácidos, umedecidos, contaminados ou administrados em excesso, causam logo lesões; igual ocorre quando muda-se bruscamente o regime alimentar ou se o animal come plantas tóxicas. Seja por uma causa ou por outra, uma vez produzida a alteração digestiva, os animais aproveitam-se do pior dos alimentos, alterando-se, como consequência, a ruminação. Com essa ingestão inadequada de alimentos inadequados e/ou contaminados ou fora do padrão nutricional, produzem-se diarreias ou constipações e inclusive o animal deixa de comer, pelo que podem ocorrer novas perturbações e confusão dos efeitos com as causas.

 Em outros casos, a alimentação com rações mal calculadas e deficientes em algum elemento nutritivo necessário causa, ao cabo do tempo, sintomas de carências minerais e vitamínicas, e inclusive doenças que podem ser graves.

DIARRÉIA 

Quando as fezes expelidas pelos animais são mais líquidas do que o normal, são alteradas ou saem mais frequentemente do que o habitual, diz-se que têm diarreia. Na verdade, é um sintoma que pode ser devido a causas muito diversas. Frequentemente são produzidas por algum alimento inadequado ou por germes infecciosos cujas toxinas alteram o intestino. Se são graves podem levar o animal à óbito, sobretudo quando o mesmo é jovem. Para evitá-las há de se tomar precauções higiênicas como as seguintes:

1. Não dar aos lactentes mais leite do que o devido; ao preparar os leites artificiais devem ser utilizadas as proporções recomendadas pela casa que vende o produto e a temperatura adequada. As amas de leite automáticas e os recipientes que tenham contido leite devem ser lavados muito bem. Os restos de leite tornam-se, ligeiramente, em um ambiente propício para o aparecimento de nichos de micróbios.

2. Não utilizar os restos alimentares que ficam nos comedouros; estes devem ser limpos de cada vez, especialmente se foram administrados alimentos úmidos ou quando se tratam da alimentação de crias.

3. Não mude bruscamente a alimentação dos animais. Os alimentos novos devem ser fornecidos em quantidades muito pequenas; depois, a ração será gradualmente aumentada, à medida que os dias passam. Esse procedimento é realizável tanto para a administração de concentrados quanto para forragens. Um bom exemplo para a administração de novos alimentos é a graduação em 10/100, ou seja, colocar 10 partes do novo alimento em 100 da usada na propriedade. E ir aumentando esse percentual conforme o tempo passa. Observe um exemplo em que foi usado o farelo com milho e soja com o fornecimento de forrageira (capim-elefante):

Fornecimento de alimentos por graduação

Alimento Dias Percentual
  1-10 100%
  10-20 95%
Milho + Soja 20-30 90%
  30-40 85%
  40-50 80%
- - -
  1-10 0%
  10-20 5%
Capim-elefante 20-30 10%
  30-40 15%
  40-50 20%

Tabela 1: Fornecimento graduado de novos alimentos na alimentação animal. FONTE: SILVA, E. I. C. da., 2019.

A tabela acima demonstra um exemplo prático realizado em uma propriedade que obteve êxito. Consiste na explicação do método do fornecimento graduado de novos alimentos na dieta dos animais, uma vez que o fornecimento precoce de grandes quantidades de ingestão de alimentos alternativos e novos, podem acarretar complicações no aparelho digestivo do animal. Note que o fornecimento de capim-elefante, sendo uma forrageira, é essencial para a alimentação e dieta dos animais, porém ela é fornecida gradativamente aos animais, e não é totalmente substituível do concentrado.

4. Não aproveitar alimentos mofados ou alterados por fermentações anormais. Se forem resíduos de alimentação humana, deve-se cozinhá-los previamente.

5. Assegurar-se que a água é potável e não está contaminada.

6. Assegurar que a ração contenha sempre alimentos ricos em vitamina A (protege a mucosa intestinal, entre outras coisas). Ao nascer, os animais devem tomar colostro suficiente para adquirir as células de defesa do organismo.

7. Evitar qualquer contato ou relação entre os alimentos e os excrementos, procurando manusear os alimentos longe do solo, das camas, dos estrumes, dos aterros ou das coisas que entraram em contato com tais matérias.

Os animais com diarreia devem ficar sem comer durante um dia (em muitos casos, devem ser amordaçados para que se consiga tal feito) e depois dar-lhes alimentos leves que sejam bem digeridos. Mas o mais importante é que bebam água o suficiente para evitar a desidratação. Melhor que a água é o soro, ou água em que se dissolveram 8 g de sal e uma pitada de bicarbonato por litro. Para os animais lactantes com diarreia, além de lhes suprimir o leite, são dados dois litros de infusão de chá ou água morna na qual se tenham dissolvido 9 g de sal e 50 g de glucose por litro (estas quantidades podem ser pesadas na farmácia).

Em seguida, o veterinário irá aconselhar, em cada caso, o medicamento mais conveniente e o zootecnista a dieta mais adequada.

METEORISMO OU TIMPANISMO

É o acúmulo de gases no aparelho digestivo, especialmente na pança dos ruminantes e no ceco dos equinos. Não podendo expelir os gases (que geralmente formam espuma com os líquidos digestivos), o ventre vai inchando e pode atingir um volume enorme. Se o processo é agudo, o animal se prostra e mal pode respirar, de modo que em pouco tempo pode vir à óbito. 

Com exceção do inchaço da pança causado por acidentes nos ruminantes (pedaços de batata atravessados no esófago) ou por certas doenças (por exemplo, inchaço dos gânglios tuberculosos), o meteorismo deve-se à ingestão inadequada de alimentos.

Geralmente, o meteorismo ou timpanismo ocorre em animais que são forçados a mudar bruscamente de alimentação, passando de um regime rico em minerais e vitaminas em uma pequena quantidade (concentrados) a outro rico em fibras (volumosos), saem ao pasto pela primeira vez em primaveras chuvosas, comem forrageiras molhadas ou quentes ou ingerem, em pouco tempo, quantidades demasiadas de capins, alfafa ou demais forrageiras. 

Os animais propensos, devem ser alimentados tendo em conta tais circunstâncias e deve-se buscar a melhor forma de evitar tais problemas; assim deve-se evitar o pastoreio de leguminosas muito jovens ou com orvalho, e convém dar algum feno antes de sair ao pasto pelas manhãs. Não convém as farinhas muito moídas.

Quando o meteorismo já se encontra presente e o animal está inchado, pode-se tentar solucionar o problema dando-lhe quarto a meio litro de óleo de soja com água, mas é pouco efetivo. Outros aconselham leite, aguardente, silicones etc., porém não se consegue grande êxito.

Não devem ser fornecidos produtos como o amoníaco, ou derivados deste, uma vez que dão sabor à carne, caso o animal seja destinado ao matadouro. Às vezes se consegue algo colocando o animal em uma inclinação (terço anterior mais alto) e movendo uma corda sob a língua enquanto ele é pressionado no ventre com os punhos para forçar o arroto. Observe um dos métodos utilizados em uma propriedade para o combate ao meteorismo:

São muito úteis as sondas de borracha ou de plástico que entram pela boca ou pelas narinas do animal e chegam até a pança. Em muitos casos, esse método de introdução da sonda esofágica permite a saída dos gases e resolve-se o meteorismo; além disso, servem para administrar os líquidos necessários, quando os animais lactantes se negam a ingeri-los. As sondas utilizadas em bovinos e equídeos medem, normalmente, 2,25 m de comprimento e cerca de 25 mm de diâmetro; as utilizadas em ovinos têm 1,5 m e 5 mm de diâmetro, porém as dimensões, para ambas as espécies, podem variar. Alguns agricultores combatem o meteorismo lançando pela sonda vários litros de água quente. Outros utilizam certos detergentes antiespumantes ou poloxaleno numa dosagem de 10-12 g/animal/dia em casos de meteorismo grave, mas o que se aconselha é chamar o veterinário para que aconselhe sobre o tratamento adequado.

Em casos mais graves, faz-se necessário o uso do trócar para puncionar a pança dos ruminantes (furo no lado esquerdo) ou o ceco dos equídeos (lado direito) pelo método de tratamento denominado trocaterização. É um instrumento semelhante a um punhal de folha cilíndrica colocada numa cânula ou bainha; crava-se o instrumento no lado esquerdo do animal (bovinos) e depois deixa-se no animal a cânula oca para que por ela possam sair os gases (também são fornecidos líquidos por essa passagem). Observe:

CONCLUSÃO

A mal administração de alimentos numa propriedade pode ocasionar diversos problemas futuros, dois mais expressivos foram tratados nesse breviário. Os alimentos oferecidos aos animais devem ser de qualidade igual aos disponíveis para os humanos. Alimentos em contato com microrganismos (bactérias, fungos, protozoários, vírus etc.) podem servir de vetores a inúmeras doenças.

A diarreia é uma doença que pode ser evitada mediante programas rígidos de manejo sanitário dos alimentos, na administração essencial e não exagerada e no manejo dos animais no pasto e na ingestão de alimentos. O timpanismo ou meteorismo é uma enfermidade que afeta, especialmente, o rúmen de bovinos e ovinos, além do ceco de equinos; uma enfermidade que pode ser tratada ou prevenida mediante os mesmos programas de análise e segurança dos alimentos fornecidos à pasto ou à cocho para os animais.

Deve-se estar atento ao que os animais comem, pois muitas doenças são facilmente tratadas quando se sabem as causas e os sintomas para que, com isso, se possa fornecer o melhor tratamento e o remédio equivalente.

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Contato: (82)98143-8399

Recife, 2019.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BORGES, J. C. de A. Timpanismo em ruminantes. Infoescola. Disponível em: <https://www.google.com/amp/s/www.infoescola.com/medicinaveterinaria/timpanismo/amp/>. Acesso em: novembro de 2019.

PATRÍCIO, A. M. P. C. As principais afecções gástricas dos bovinos. 2012. 107f. Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária). Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Lisboa, 2012.

ROLLÁN, M. G. Sanidad ganadera. 2ª ed. Madrid: Servicio de Extensión Agraria, 1990. pp. 13-17.