O conhecimento comum é um conhecimento vulgar; é a 1ª compreensão do mundo resultante da herança fecunda de um grupo social e das experiências atuais que continuam sendo efetuadas. Pelo senso comum, fazemos julgamentos, estabelecemos projetos de vida, adquirimos convicções e confiança para agir. O senso comum faz uso não refletido da razão; contundo, por ser um conjunto de concepções fragmentadas, muitas vezes incoerentes, condiciona a aceitação mecânica e passiva de valores não-questionados e se impõe sem críticas ao grupo social; às vezes se torna fonte de preconceitos, quando desconsidera opiniões divergentes.

Para se chegar ao Bom senso é preciso elaborar de forma coerente o saber a partir da explicação das intenções conscientes dos indivíduos livres, que são, portanto, ATIVOS, capazes de crítica e donos de si mesmos. Recebida a herança cultural pelo senso comum, reelaboram sua concepção conforme a realidade concreta que precisam interpretar e transformar. O Bom senso tem sua especificação e vale como forma vigorosa de orientação vital. Mesmo o cientista recorre ao bom senso nos inúmeros campos não-abarcados pelo seu conhecimento especializado.

Não podemos esquecer que o senso comum é rígido – bom senso é flexível, dinâmico, absorvendo com discernimento as influências mais diversas. É necessário desmistificar a tendência a cultuar as pessoas “estudadas” em detrimento das iletradas. Qualquer um de nós, que teve condições de desenvolver a habilidade CRÍTICA, será capaz de AUTONOMIA para analisar adequadamente a situação em que vive. Entretanto, a passagem do senso comum para o bom senso não se faz espontaneamente e, podemos constatar que nem sempre ocorre de fato. Por que? Primeiro – o senso comum, por ser ingênuo e acrítico, geralmente se encontra permeado pela IDELOLOGIAS.

Existem diversos significados do conceito de Ideologia; Teoricamente – Ideologia é conjunto de idéias, concepções ou opiniões sobre algum tema sujeito a discussão (Ex. Raça Pura ou Segurança Nacional) – ou do ponto de vista prático – ideologia significa o conjunto de idéias sistematizadas que orientam determinadas formas de agir (Ex. Partido Político, Ideologia Religiosa).

O filósofo GRAMSCI – Dizia que era importante NÃO considerar toda a ideologia como arbitrária e inútil para transformar a realidade; há ideologias historicamente necessárias que organizam as massas humanas, formam o terreno sobre o qual os homens se movimentam, adquirem consciência de sua posição e vão à  luta. Segundo Gramsci “ideologia tem o significado mais alto de uma concepção de mundo que se manifesta implicitamente na arte, no direito, na atividade econômica, em todas as manifestações de vida individuais e coletivas e que tem por função a unidade de todo um bloco social”.

O sentido negativo (pejorativo) da Ideologia – este tipo de conhecimento, não-crítico, mascara as formas de dominação existentes na sociedade – As sociedade divididas em classes predomina a separação entre o trabalho intelectual e o manual – tal situação leva à exploração do trabalho e à alienação, uma vez que os trabalhadores perdem autonomia.

É a Ideologia que oculta a alienação e impede a mobilização dos trabalhadores contra a imposição dos valores da classe dominante = sem recorrer à violência física, a Ideologia mantém o consenso e a coesão da sociedade, escondendo as distorções e mascarando as desigualdades sociais.

IDEOLOGIA – conjunto de representações e idéias, bem como de normas de conduta, por meio das quais o individuo é levado a pensar, sentir e agir da maneira que convém à classe que detém o poder. Essa consciência da realidade é uma falsa consciência, porque camufla a divisão existente dentro da sociedade, apresentando-a como uma e harmônica, como se todos partilhassem dos mesmos objetivos e ideais (conceito de KARL MARX – foi incorporado ao pensamento político e econômico).

Ideologia (no sentido positivo) exerce a função de cimento do grupo social, tornando a sociedade de fato unida em torno de crenças comuns que fazem justamente a força das tradições; No sentido negativo o que denuncia é o discurso sobre uma falsa unidade, que esconde a divisão injusta da sociedade.

Faz parte da ideologia “naturalizar” as ações humanas, explicando-as como decorrentes da “ordem natural das coisas” e não como resultado da injusta repartição dos bens;

A ideologia é disseminada pelos mais deferentes meios: família, escola, empresa, Igreja, quartel, meios de comunicação de massa, que são responsáveis pela sua reprodução.          

COMO SUPERAR A AÇÃO DA IDEOLOGIA? - O senso comum, por ser ingênuo e acrítico é permeado por ideologia. Para superá-lo é preciso trazer à tona o que ela esconde, quebrando a rigidez das ‘verdades indiscutíveis’. É preciso compreender o saber como um processo – um constante movimento entre o pensar e o agir – e não uma coleção de verdades “acabadas” vindas não se sabe de onde.

Para desenvolver o bom seno é preciso multiplicar os espaços possíveis em que as contradições sociais sejam bem compreendidas, o que pode ser feito nos mesmos locais que a ideologia se dissemina (família, escolas, entre outros). A CONTRA-IDEOLOGIA é possível porque nada atua de forma mecânica de modo a impedir qualquer reação – caso contrário, não se poderia falar propriamente em liberdade humana.

Se a FAMÍLIA reproduz os valores vigentes, pais conscientes podem ajudar seus filhos a revitalizar certos valores; Da mesma forma, algumas ESCOLAS se empenham em denunciar os conflitos em vez de camufla-los; Certos segmentos da IGREJA fazem opção pelos pobres e não + recomendam paciência e resignação diante da exploração; O TRABALHADOR deixa de querer ser “operário-padrão” e se filia ao sindicato, onde tem condições de construir sua consciência de classe.

Inúmeros são os espaços possíveis para o exercício da CONTRA-IDEOLOGIA. O importante é não se limitar a um esforço solitário, mas que seja cada vez + assumido como tarefa coletiva.