DO LADO DE LÁ...

9 Então, ele me disse: Profetiza ao Espírito, profetiza, ó filho do homem, e dize-lhe: Assim diz o Senhor Deus: Vem dos quatro ventos, ó Espírito, e assopra sobre estes mortos, para que vivam.

Livro do Profeta Ezequiel, cap. 37:9.

 

Ei, olhe ali:

Quis se matar

Pensando que há morte

Em algum lugar!

 

“E haja só amizade verdadeira
Duma caveira para outra caveira,
 Do meu sepulcro para o teu sepulcro?!”

Augusto dos Anjos (1884-1914).

 

Ele olvidou

Que JESUS CRISTO ressuscitou

De entre os mortos

Sem deixar destroços.

 

“E Deus lhe disse: "És duas vezes santo,
Pois se da Religião fizeste culto,
 Foste do amor o mártir sacrossanto.”

Augusto dos Anjos (1884-1914).

 

O túmulo fica vazio

Porque cada célula

Do exército celular

Vai para o seu habitat

Para novos corpos formar.

 

Como alguém pode conceber

Que a Essência Espiritual

Tenha um final?

 

“Rasgo dos mundos o velário espesso;
E em tudo, igual a Goethe, reconheço
 O império da substância universal!”

Augusto dos Anjos (1884-1914).

 

Agora, chegou aqui

E ficou vivo ali

Vendo o corpo se desfazer.

 

Aí não tem um relógio

Onde o tempo corre

E o desertor alguém socorre.

 

Nesse vale de expiação

Só o fim da decomposição

É a única lei.

 

Isso não está no mapa

Que uma visão retrata

Como uma cidade ou casa,

Mas é o nada

Que tanta gente propaga

E nem sabe o que é.

 

CARIDADE DIVINA

47 O primeiro homem, formado da terra, é terreno; o segundo homem é do céu.

Primeira Epístola de São Paulo aos Coríntios, cap. 15:47.

 

O corpo de carne

Que o Espírito veste

Para se tornar visível

E contra ele investe,

É uma Caridade Divina

Que a todos anima

No rumo do evolução.

 

“Oh! tu que no perdão eu simbolizo,
Se fosse Deus, no Dia do Juízo,
 Talvez perdoasses os que te mataram!”

Augusto dos Anjos (1884-1914).

 

Ele é uma máquina perfeita

Que ensina a direita

Boa maneira de evoluir.

 

Quem o descarta

Antes do momento determinado

Fica num estado

De putrefação,

Qual a fruta que cai no chão

Antes de estar madura.

 

Aos poucos ela apoderece

E totalmente desaparece,

Mas a sua Essência Vital

Permanece afinal

Além do dito fim.

 

“E eu, que vivo atrelado ao desalento,
Também espero o fim do meu tormento,
 Na voz da Morte a me bradar; descansa!”

Augusto dos Anjos (1884-1914).

 

Aí nessa situação

Não pode usar a visão,

Nem ouvido, nem pé, nem mão,

Nem nariz, nem a boca

Para pedir socorro.

 

A única coisa usada

É o Pensamento

Que o seu Espírito possui

Em todo momento.

 

“A Esperança não murcha, ela não cansa,
Também como ela não sucumbe a Crença,
Vão-se sonhos nas asas da Descrença,
 Voltam sonhos nas asas da Esperança.”

Augusto dos Anjos (1884-1914).

Poeta brasileiro.

 

Portanto, o Ato de Pensar,

Faz o Espírito atravessar

Qualquer fronteira.

 

Pra ele não há obstáculo,

Pois todo o Espaço

Está livre.


“A Noite vai crescendo apavorante
E dentro do meu peito, no combate,
A Eternidade esmagadora bate
 Numa dilatação exorbitante!”

Augusto dos Anjos (1884-1914).

 

Pra ele não há porta fechada,

Pois tem para entrada

A sua chave maga.

 

Por isso, o CRIADOR INCRIADO,

Concedeu ao Ser criado

A dádiva da Vida Eterna,

E nela o Pensamento

É a todo momento

Exercido.

 

7 Para onde me ausentarei do Teu Espírito? Para onde fugirei da Tua Face?

Livro dos Salmos, cap. 139:7.

 

Então, ó cara Felicidade,

Eu te encontrei de verdade

No meu Espírito Imortal

Que atravessa o Portal

Da Mansão Celeste.

 

“Transponho ousadamente o átomo rude
E, transmudado em rutilância fria,
 Encho o Espaço com a minha plenitude!”

Augusto dos Anjos (1884-1914).

Poeta brasileiro.