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As lembranças que carregamos nos fortalecem ou nos enfraquecem a seguirmos quando somos adultos, desta maneira, precisamos pensar nas memórias que queremos deixar para as crianças diante de um ano que tudo nos causa tanto estranhamento. Onde as questões politicas sobrepõem à vida humana, onde a afetividade e as interações precisam de cautela, onde o convívio com aqueles que já têm certa sabedoria com a caminhada tornou-se tão frágil e necessita de cuidados com um distanciamento para que haja depois a aproximação com estes.

Não tem como negar que as aflições nos sondem, porém nossas crianças não necessitam serem acorrentados por nossas inseguranças, é preciso sim ter cuidado, porém precisamos enxergar que as coisas não estão findadas, e que eles podem e devem passar por este momento de reorganização da sociedade como algo necessário e que juntos podemos cuidar uns dos outros, que é preciso preocupar-se com o próximo, pois para uma sociedade caminhar bem, todos devem fazer sua parte, e que se um não tem o zelo com seu semelhante, todos podem sofrer.

A humanidade clama por aprendizagem sobre respeito, e as crianças têm muito a nos ensinar neste sentido, em uma brincadeira não há quem é de direita ou esquerda, não há quem acredita ou quem desacredita, não há aquele que não pode participar porque tem alguma limitação, ou porque é negro ou branco, ou porque acredita ou não em uma determinada religião. A criança faz da infância momento de acolher, onde a interação tem valor imprescindível, observe como uma criança fica feliz quando chega outra para brincar. O sorriso transparece em seu olhar e o convite é espontâneo.

Esses dias vi duas crianças brincando, as duas correndo, uma caiu, a outra prontamente  esqueceu das regras do pega-pega,  voltou, esticou a mão e a ajudou a levantar. Vi a cena com o coração e este momento, traz a reflexão de que quantas vezes vemos nosso semelhante necessitando de apoio e por regras impostas deixamos de ajudar, não é? É preciso saber onde nos perdemos enquanto iguais, mesmo diante de nossas diferenças. Estar aberto ao novo é tarefa difícil, mas necessária, devemos entender melhor as coisas que nos cercam e ter a compreensão de que nem todos pensam da mesma maneira.

É muito comum ouvir dizer, eu defendo tal ideologia porque trata das questões da sociedade com liberdade de expressão, com respeito às diferenças, mas se o outro pensa diferente eu me acho no direito de acreditar e subjugar que o pensamento deste é inferior ao meu, e da mesma forma, vemos outro lado, pessoas ofendendo porque os modos de vida do outro não condizem com o seu, ou que, viver daquela maneira é errado. Enfim... O que se percebe é que o respeito só prevalece para aqueles que possuem a mesma ideologia. O desejo em oprimir o diferente é maior do que o de somarmos nossas diferenças para termos uma sociedade mais humana e justa.

Neste sentido trago o olhar das crianças diante da vida, é claro que muitas respostas se devem a inocência da infância, porém não devemos esquecer que, sobretudo, estamos falando de seres humanos que tem desde sua concepção uma história, modos diferentes e próprios em perceber as coisas que as cercam, independente se uma criança é evangélica e a outra é católica ou umbandista ELAS INTERAGEM, não se ofendem por suas crenças, porque para elas SE DIVERTIREM JUNTAS, É MAIS IMPORTANTE do que qualquer outro fator!

As regras de uma brincadeira não se sobrepõem pela cor da pele, ou condição financeira, elas traçam o que lhes convém, regras e a maneira como vão proceder com o mesmo interesse: que a interação aconteça!

Não subjuguemos nossas crianças, que por muitas vezes compreendem mais das coisas do mundo do que os adultos que os cercam, não é incomum perceber como as crianças conseguem acompanhar bem as demandas tecnológicas sem temer o erro, não porque não sabem o preço das coisas, mas porque tem na sua essência a curiosidade latente pelo novo, e mais, seu senso explorador não preocupa-se em pedir ajuda ao próximo para aprender algo que lhe desperta o interesse. Desta maneira nós adultos precisamos perceber que o outro tem muito a nos ensinar.

Se pensarmos na potência das interações na vida das crianças, estabelecemos mais que uma base norteadora das práticas nas Unidades de Educação Infantil, temos tema de estudos, reflexões para que a sociedade aprenda que juntos somos mais fortes e podemos mais, porque é preciso compreender que sozinho pode até se caminhar bem, mas ter alguém para apoiar-se e estimulá-lo em meio a caminhada é bem provavelmente que se consiga ir mais longe!

 

(*)Clarice Rodrigues Santana, Débora Aparecida Santos França, Kédma Macêdo Mendonça e Sibele Silva Leal Rodrigues, pedagogas, são professoras da rede municipal em Rondonópolis-MT.