Segundo Brauer & Sassi (2001), o processo de deglutição se divide em quatro fases, a fase oral preparatória, a fase oral (voluntária), a fase faríngea (involuntáriareflexa) e a fase esofágica. Complementam os autores, que quando essas fases encontram-se alteradas ocorre o que denominamos de disfagia.

Pacientes que tem disfagias após o AVE podem apresentar quadro de desnutrição, desidratação e tendem a desenvolver comprometimentos pulmonares devido a broncoaspiração, decorrente da incapacidade das funções estomatognáticas afetadas (op cit).

A disfagia, decorre de traumas, câncer ou outras doenças destrutivas, dentre outras patologias, e está presente entre 50-60% dos casos dos pacientes com AVE na fase aguda (ANDRÉ, 1999). Esse tipo de disfagia em pacientes neurológicos, também é conhecido como Disfagia Orofaríngea Neurogênica.

A disfagia orofaríngea neurogênica pode ocorrer devido ao AVE, Traumatismo Cranioencefálico, Doença de Parkinson, Paralisia Cerebral, Doença de Alzheimer, Doenças Neuromusculares, Doenças do Neurônio Motor, Esclerose Múltipla, Doenças da Junção Neuromuscular, Miopatias, e muitas outras patologias.

A deglutição segundo Macedo Fº et al (2000), é um ato reflexo complexo, multissináptico, com respostas motoras padronizadas e modificáveis por alterações no estímulo, no volume e na consistência do bolo alimentar. Músculos e cartilagens da laringe são interligados por nervos encefálicos, que por sua vez estão interligados ao tronco encefálico e ao córtex cerebral do SNC. O SNC por sua vez é responsável por iniciar e coordenar as várias estruturas envolvidas nas fases da deglutição.

A deglutição é considerada o processo neuromuscular mais complexo do corpo humano, apresentando componente voluntário e involuntário que chegam a durar apenas alguns segundos. Com os alimentos semi-sólidos é necessário menos habilidade dos movimentos deglutitórios da laringe e faringe do que os líquidos (SILVA NETO et al., 2003).

Conforme Rocha (2003), a deglutição é uma função neuro-vegetativa que pode ser entendida como um processo onde o alimento é transportado da boca até o estômago e exige um controle neuromotor fino com participação do córtex central e dos nervos encefálicos: trigêmeo(V), facial (VII), glossofaríngeo (IX), vago (X), acessório espinhal (XI) e hipoglosso (XII).

Segundo Langley & Cherasquin (1958 apud SILVA NETTO, 2003), a deglutição consiste em uma série complexa de reflexos que, embora possam ser iniciados voluntariamente, uma vez iniciados continuam independentemente da vontade .

Para Hendrix (1978 apud SILVA NETTO, 2003), a deglutição, ou ato de engolir, é o transporte de um bolo alimentar, líquido, ou sólido, da boca para o estômago.

Ganong (1977 apud SILVA NETTO, 2003), define a deglutição como um ato reflexo iniciado por uma ação voluntária que reunindo o conteúdo oral sobre a língua propele-o para a parede posterior da faringe.

Douglas (1988 apud SILVA NETTO, 2003) e Junqueira & Dauden (1998), definem a deglutição como um ato de engolir ou engolição, isto é, o transporte do bolo alimentar ou de líquidos, da cavidade oral até o estômago.

Para Silva (1999), a deglutição pode ser compreendida como um ato de engolir, responsável pela passagem do bolo alimentar e/ou saliva da boca até o estômago. Esse ato se processa por complexa ação neuromuscular sinérgica eliciada voluntariamente, tendo o objetivo de satisfazer os requisitos nutricionais do indivíduo e proteger a via aérea mantendo o prazer alimentar.

De acordo com Hrycyshyn & Basmajian (1972 apud SILVA NETTO, 2003), a deglutição é um ato pelo qual um bolo fluido ou sólido é passado da boca ao estômago em três fases: oral, faringeana e esofagiana.

Contudo para Doria (2003), a fase da deglutição está dividida em quatro: uma fase preparatória onde ocorre a preensão do bolo alimentar; a fase oral onde bolo alimentar já se encontra na cavidade oral sendo preparado para ser ejetado na faringe; na fase faríngea, inicia-se o reflexo da deglutição, é a fase involuntária onde ocorre a proteção das vias aéreas inferiores e o bolo alimentar é direcionado para o esôfago. A fase esofágica se inicia pelo relaxamento da transição faríngo-esofágica, que abre a luz do esôfago, permitindo a passagem do alimento até o estômago.

Marchesan (1999), afirma que a fase oral e faríngea são muito importantes quanto à sensibilidade aliadas ao controle motor que são imprescindíveis para o transporte seguro do bolo alimentar.

As pessoas com problemas neurológicos freqüentemente apresentam dificuldade na deglutição. De acordo com Assbecke & Burns (apud MAHAN, 1994), o paciente que apresenta aumento da pressão intracraniana elevada ou danificação dos nervos cranianos, podem ter os movimentos da língua enfraquecidos ou desordenados, dificultando a realização da fase oral.

O paciente apresenta dificuldade em formar e movimentar o bolo na cavidade oral, podendo os alimentos permanecer na área do sulco (lateral/anterior) entre as bochechas e os dentes principalmente quando se perde a sensibilidade da bochecha (op.cit).

A disfagia acomete crianças e adultos, podendo ser congênita ou adquirida. Na disfagia a deglutição ocorre de forma imprecisa e/ou lenta para o líquido, pastoso, sólido ou para ambos (Rocha, 1998).

Para Macedo Fº (2000), a deglutição pode ser prejudicada devido a processos mecânicos que dificultam o transporte do bolo alimentar como falta de secreção salivar, fraqueza das estruturas musculares responsáveis pela propulsão do bolo ou disfunção de rede neural que coordena e controla a deglutição.

Marchesan (1998), refere que a disfagia pode apresentar alguns quadros como aspiração silenciosa, que podem não ser percebidas fazendo com que haja a entrada de alimento ou saliva nas vias aéreas atingindo os pulmões. Com isso poderá ocasionar edemas pulmonares ou crescimentos de germes patológicos, principalmente os que causam a pneumonia, apresentando em alguns casos conseqüências fatais.

As disfagias também podem ocorrer por próteses mal adaptadas e pelo próprio envelhecimento do indivíduo, onde o peristaltismo fica diminuído (MARCHESAN, 1995).

De acordo com Alves (2003), disfagia não é uma doença, mas sim sintoma de uma doença que pode ser congênita ou adquirida, permanente ou transitória, resultante de causas diversas-neurogênica, mecânica, decorrente da idade, psicogênica ou iatrogênica, podendo comprometer uma ou mais fases da deglutição, as condições nutricionais e pulmonares do indivíduo levando este a uma limitação de sua qualidade de vida ou até mesmo colocando-o em risco.

Os autores como Bloem et al. (1990); Koch (2000) e Spieker (2000), relatam que a disfagia está relacionada com as enfermidades respiratórias, sendo que 7 a 10% são pessoas com idade acima de 50 anos de idade, no qual o  diagnóstico da disfagia deve ser minucioso devido às complicações que ela pode causar.

Para Marchesan (1995), a reabilitação não significa a exclusão do déficit, mas a garantia que as atividades rotineiras sejam conquistadas com funcionalidade, mesmo por caminhos distintos do realizado por indivíduos sem comprometimento.

Ela enfatiza que as reabilitações dos pacientes disfágicos devem ser preferencialmente compostas por uma equipe interdisciplinar que comporte fonoaudiólogos, nutricionistas, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicólogos, clínicos gerais, neurologistas, gastroenterologistas, otorrinolaringologistas, pneumologistas e geriatras (MARCHESAN, 1995).

De acordo com Silva (1999), na reabilitação da disfagia orofaríngea neurogênica, se opera pela conquista de uma alimentação eficiente de acordo com as possibilidades da cada caso. É necessário desenvolver programas que tenham por objetivo primordial educar, orientar e treinar o paciente disfágico e seu cuidador na reorganização de uma deglutição eficiente.

Augusto et al. (1999), ressaltam a importância da realização de uma anamnese precisa, para que o diagnóstico e a caracterização do tipo de disfagia sejam corretos.

Dessa forma, torna-se importante caracterizar a disfagia quanto ao tipo de alimento que desencadeia a disfagia, se esta é intermitente ou progressiva, o tempo de evolução, presença de dor torácica e sintomatologia noturna.

As doenças neurológicas tem representado um importante agravante no aumento econômico do governo devido ao grande uso de medicamentos, disponibilidade de médicos e terapeutas (TERESA, 2002).

De acordo com André (1999), AVE é definido como um déficit neurológico focal ocasionado por uma lesão vascular, constituem a terceira causa de morte, atrás somente das cardiopatias e do câncer.

Para Chiappetta & Oda (2003), a disfagia após o AVE mesmo como um sintoma temporário, pode causar ao indivíduo desidratação, desnutrição e complicações pulmonares.

Classicamente Assad & Maia apud Macedo Fº et al. (2000), subdividem o acidente vascular cerebral em lesões isquêmicas e hemorrágicas. Os acidentes vasculares isquêmicos tem como etiologia a insuficiência vascular cerebral, a trombose, a embolia e os espasmos mais ou menos duradouros podendo se situar em três categorias: AVE completo, AVE em evolução e crise isquêmica transitória. Nos acidentes vasculares hemorrágicos a etiologia está na dependência da etiologia. O acidente vascular hemorrágico da doença hipertensiva caracteriza-se por quadro de instalação súbita de deficiência motora contralateral, perda de consciência, vômitos, hipertermia, sinais meningeus e distúrbio do ritmo respiratório.

Segundo Veis & Logemann (1984 apud MARCHASAN, 1998), 28% de pacientes com AVE apresentam disfagia.

Yamada et al (2004), relatam que o AVE é um dos maiores causadores de deficiência motora, sendo responsáveis por até 80% das incapacidades de deglutição e a terceira causa de mortalidade em adultos.

Conforme Silva Netto (2003), o AVE produzirá uma deficiência nas estruturas da deglutição que são controladas voluntariamente interferindo também nos componentes faringeanos e esofagianos de deglutição.

Caviedes et al (2005), apontam que entre 51-73% dos pacientes com AVE apresentariam possibilidade de aspiração, podendo causar desde crises de espasmo laríngeo, broncoespasmo, pneumonias e podendo levá-lo até a morte. Os autores complementam que, o risco de pneumonia é aumentado em sete vezes, contribuindo para 34% da mortalidade global destes pacientes, ou seja, um em cada três pacientes com distúrbio da deglutição associado ao AVE viria o óbito.

Os autores relatam que dependendo da área cerebral afetada pode-se supor o tipo de déficit que o paciente apresentará na deglutição, citando que nos AVE que afetam o hemisfério esquerdo, poderia causar apraxia oral e sialoréia, com alteração principalmente na fase oral da deglutição, enquanto que nos AVE´S que acometem o hemisfério direito compromete-se com maior freqüência a fase faríngea, alterando a função glótica (CAVIEDES et al., 2005).

Silva Netto (2003) descreve que pacientes com alteração neurológica podem apresentar-se com sintomas típicos de disfagia orofaríngea, incluindo a incapacidade para manejar as secreções orofaríngeas adequadamente, regurgitação nasal, episódios de tosse enquanto se alimentam, engasgos, disfonia ou disartria.

Qualquer sintoma de caráter disfágico deve ser avaliado por um Fonoaudiólogo e por um Médico em ambiente clínico ou hospitalar.