Parece que causou pouca repercussão no meio político a declaração de Dilma de que retomará uma política de esquerda caso volte ao Planalto. É normal que faça esse aceno, pois deve aos movimentos sociais as manifestações de apoio ao seu retorno à presidência.  São esses movimentos sociais ligados ao MTST, MST, Sindicatos, UNE  que mantém viva a narrativa de que ela está sendo injustiçada pela Direita Ultra Conservadora.

Caso ela retorne, teria imensas dificuldades para governar, pois não dispõe de um mínimo de apoio nas duas casas legislativas. Entretanto, acenar para a esquerda com promessas de atuar politicamente em direção ao seu ideário parece ser altamente explosivo, caso consiga mesmo retornar ao poder.

É ponto pacífico que uma mudança política à esquerda pressupõe uma ruptura com o sistema econômico vigente no país. Se estivéssemos na Suécia ou Noruega, países ricos, com recursos sobrando, o que permite distribuir benefícios sociais não sonhados por nossas bandas seria outra história. Mas por aqui, com o déficit público estratosférico seria irracional para não dizer maluco, pois gastar o que não tem pode destruir um país.

Uma guinada à esquerda seria exatamente o que? Aumentar o bolsa família, ampliando a distribuição para os desempregados que já são mais de 11 milhões? Contratar milhares de médicos cubanos ou de outros países para que todos tenham acesso à saúde? Desapropriar hospitais utilizados pelos mais aquinhoados? Fazer uma reforma agrária ampla, geral e irrestrita, desapropriando terras improdutivas ou pouco produtivas? Tudo isso custa dinheiro e como não há nada em caixa, a solução seria emitir moeda, que seria um descalabro, pois o país perderia a sua credibilidade no mercado nacional e internacional.

Uma política de esquerda não pode ser muito mais do que uma política social democrática, pois estaria descartada uma ruptura radical com o sistema econômico, como a desapropriação de fábricas, fazendas, bancos etc. por não estarmos num processo revolucionário.  Como a constituição garante o direito à propriedade privada, somente um golpe contra as instituições poderia mudar o atual sistema econômico, mas isso não é tão simples.

Enfim, uma guinada à esquerda poderia colocar o país numa situação de alto risco, pois envolveria o rompimento com o sistema econômico internacional. Os títulos brasileiros seriam imediatamente cobrados, haveria sequestro dos depósitos e bens do governo e de empresas públicas nos bancos internacionais. Geraria o isolamento político e econômico, tal como acontece na Venezuela.

Espero que a manifestação da presidente afastada seja apenas uma promessa para agradar aqueles que a apoiaram nos momentos mais difíceis e uma vez retornando ao poder, que, diga-se de passagem, não é impossível, pois a cada dia vivemos uma nova surpresa.