RESENHA SOBRE A DIDÁTICA NO ENSINO SUPERIOR

O conceito de Universidade no Brasil, até o surgimento da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (1961), estrutura o ensino superior em um duplo objetivo: “equipar tecnicamente as elites profissionais do país e proporcionar ambiente propício às vocações especulativas”. Esse direcionamento, no entanto, destaca ainda que as universidades não devem se limitar ao aspecto didático, tendo em vista que a educação engloba o social.

Porém, mesmo com a defesa teórica da função social das universidades, o ensino superior ainda se mostra hierarquizado, elitista, isolado e rígido, com pouco dialogismo com a sociedade. Assim, notam-se aglomerados de escolas superiores independentes.

Já na década de 60, com transformações socioeconômicas e políticas advindas, surgem reações no ensino superior, voltadas a questões didáticas. A ideia de bom professor ser aquele que possui sólidos conhecimentos e comunicação eficiente leva o ensino superior a acreditar na não necessidade de pedagogos em seus quadros, por imaginar que universitários não precisam de auxílio pedagógico, por já possuírem a “personalidade formada”. Por essa razão, a formação dos professores leva em conta as pesquisas realizadas pelos docentes, deixando implícita a avaliação de que o bom pesquisador é também um bom professor, o que na prática não se confirma como verdadeiro.

Em vista disso, nota-se que a principal crítica ao professor universitário se associa à falta de didática, que vem a ser, em suma, “o estudo do processo de ensino-aprendizagem em sala de aula e de seus resultados”, conforme Masetto (1977). Portanto, que a didática no ensino superior se faz imprescindível não se pode negar.

Por tudo isso, aparecem renovações educacionais, constantemente, considerando-se a dinamicidade da educação. A escola Nova ou Escola Ativa constitui um exemplo de renovação pedagógica, baseada na linha ideológica de que “o aluno aprende melhor por si próprio”. Contudo, não se consegue notar com isso uma mudança significativa nos métodos de ensino. Dessa forma, o tecnicismo passa a dominar a educação com objetivos instrucionais.

Mas a didática dinamicamente não deixa de perseguir caminhos de ensino-aprendizagem, por isso questiona qual deve ser o foco nesse processo, o ensino ou a aprendizagem? O foco no ensino usa verbos como instruir, guiar, dirigir, treinar, preparar, por meio de deveres, tarefas, provas individuais, programas de ensino. Já o foco na aprendizagem vê o aluno como agente no procedimento educacional e o professor como facilitador da aprendizagem. O importante vem a ser a observação de que as duas vertentes podem dialogar entre si e se complementar. É por essa razão que os docentes universitários carecem de mais formação pedagógica, pois não se pode tirar o valor da aula expositiva, mas muito menos negar a eficácia da aprendizagem quando o aluno participa do processo.

Essa discussão inegavelmente leva a educação a refletir permanentemente acerca de abordagens várias sobre o processo educacional, tais como a pedagogia tradicional, centrada no professor; a comportamentalista ou behaviorista, baseada na experiência; a humanista, firmada no desenvolvimento da personalidade dos indivíduos; a cognitivista, apoiada na interação mediadora; e a sociocultural, conceituada na ênfase do sujeito como elaborador e criador do conhecimento. Tais tendências importam para a reflexão de todos os níveis de ensino, mas o ensino superior precisa de pesquisas didáticas mais específicas e sistemáticas.

Urge o entendimento de que ensinar e aprender se fazem por interação intercambial entre no mínimo dois indivíduos, voltados ao melhoramento dos resultados obtidos, por isso a importância dos exames de conceito de ensino. Todavia não importa, na educação, considerando-se os “períodos-de-ensino”, só o fim, mas, sobretudo, o meio.

Desse entendimento, emerge a importância de os mestres se dedicarem ao conhecimento de métodos de ensino no planejamento e na execução de suas aulas, conforme especificidades diversas. Para tanto, a educação holística se mostra indispensável, uma vez que o professor, inegavelmente, precisa de habilidades que ultrapassam o conhecimento próprio da disciplina trabalhada.

Algumas pesquisas, inclusive, indicam que, além de conhecimento, título, ampla visão, o mestre precisa principalmente de didática. Sendo assim, os docentes de hoje devem ser mais dinâmicos que os do passado, pois o perfil moderno de um professor exige muita formação didática e desempenho interdisciplinar em equipe.

Portanto, percebe-se claramente que o ensino superior precisa valorizar mais os estudos pedagógicos, a fim de oferecer com didatismo práticas educacionais transformadoras da realidade sociocultural. Dessa forma, torna-se importante o conhecimento e a prática de várias vertentes pedagógicas, a fim de se utilizarem tais correntes de modo interdisciplinar, sem buscar eleger esta ou aquela como a melhor ou a ideal, mas usando concomitantemente todas, de forma integrada, conforme necessidades específicas de cada turma, tendendo mais para uma ou outra, de acordo com os mais variados contextos de ensino-aprendizagem.

 

Dério José Faustino Junior

Jean Carlos Neris de Paula
Raul Sartori Bortoloti
 Reynaldo José Pretti