DIDÁTICA CRIATIVA EM UMA VISÃO HOLÍSTICA TENDO COMO BASE OS QUATRO PILARES DA EDUCAÇÃO

RESUMO: O sistema educacional vigente vem trazendo alguns descontentamentos para educadores e educandos. E com as mudanças na sociedade, as formas de ensinar também sofreram alterações, tantos os professores como os alunos percebem que muitas aulas convencionais estão ultrapassadas. As mudanças na educação são importantes para mudar a sociedade. O desafio então para os educadores, neste novo século é levar em conta no sistema educacional, a visão do “todo” do ser humano. E assim, não se excluir do contexto em que está inserido o educando. Pois, é muito mais importante considerar a visão de conjunto, escola, família, sociedade, crença qualquer que seja e sempre estarmos dispostos a aprender, uns com os outros, o que consistiria numa didática mais criativa e isso só é possível dentro de uma visão holística de educação. A Visão Holística da Educação é na verdade, uma nova visão do cosmos, da natureza, da sociedade, do outro e de si mesmo. E, para sua concretização, é ainda necessário, visar os quatro pilares básicos da Educação: O aprender a fazer; aprender a conhecer;  aprender a ser;  aprender a viver juntos. Portanto, à Visão Holística permite lograr por um perfil de sujeito que deva ser ativo e autodeterminado para reconstrução do mundo, numa contribuição de perceber o aluno como ser integral, aprendendo a viver junto com o aluno na questão de vivências em dinâmicas de grupo e na valorização das coisas simples da vida. 

Palavras-chave: Mudanças. Desafio. Sujeito. Valorização. Educação.

INTRODUÇÃO

Preocupa-se hoje mais com ensino de qualidade do que com educação de qualidade. Ensino e educação são conceitos diferentes. O ensino destina-se a ajudar os alunos a compreender áreas específicas do conhecimento (ciências, história, matemática). Educação é um o foco além de ensinar, é ajudar a integrar ensino e vida, conhecimento e ética, reflexão e ação, é ajudar a integrar todas as dimensões da vida e encontrar o caminho intelectual, emocional, profissional que leve o indivíduo a realização e contribuição para a mudança social.

Ensinar é um processo social de cada cultura com suas normas, tradições e leis, mas não deixa de ser pessoal, pois cada um desenvolve seu estilo, aprendem e ensinam. O aluno precisa querer aprender e para isso, precisa de maturidade, motivação e de competência adquirida. Educar é transformar a vida em processos permanentes de aprendizagem. É ajudar os alunos na construção de sua identidade, do seu caminho pessoal e profissional, mostrar um projeto de vida que lhes permitam encontrar seus espaços pessoais, tanto no social como no profissional, com o objetivo de torná-los cidadãos realizados e produtivos, e isso a Educação Holística faz bem. O conceito de aprender numa didática criativa está diretamente ligado ao aluno que produz reflexões e conhecimentos próprios, pesquisa, diálogo, debate, mudança de comportamento.  O aprendiz cresce e desenvolve-se, o professor fica como mediador entre o aluno e sua aprendizagem.  O aluno assume o papel de aprendiz ativo e participante que o leva a aprender e a mudar seu comportamento.

            O sistema educacional vigente vem trazendo alguns descontentamentos para educadores e educandos. Nesse processo sentimos que nossos educandos apresentam certas dificuldades, como talvez não o temos levado a aprender a aprender. Outro fator importante a ser citado é o nosso currículo, que é fragmentado, não dando bases as disciplinas a se correlacionarem. Temos ainda a avaliação que é feita pelo processo real do que foi apreendido, deixando de lado as potencialidades do nosso educando, sendo na maioria das vezes taxativa e opressora.

            Uma das consequências drásticas do mundo atual é movida pelo capitalismo, o que leva à fragmentação do ser humano. Com isto, as pessoas se sentem cada vez mais insatisfeitas; e o Sistema procura satisfazê-las criando necessidades de consumo; para poder vender o produto, tendo em vista sempre o lucro, custe o que custar. Somos parte desse todo e uma parte quase a beira do caos, econômico, tendo em vista um recomeço de queda do Império Europeu e Americano, mas sabemos que o Capitalismo é criativo e antes da derrocada, ele se supera e nos fragmenta ainda mais. Então, entendo que a Visão Holística da Educação nos propõe outro paradigma: a Pessoa Humana é um todo, que não pode ser fragmentado; um todo constituído de partes. Cada parte com seu valor insubstituível.

            É um enorme desafio para todos educadores que dentro desse sistema de educação que temos, onde as crianças só querem as respostas prontas, ter uma visão holística, uma visão do todo. Onde não se pode estudar a criança por partes, tudo está ligado, escola, família, sociedade, fé tudo dentro de um só contexto emocional. Portanto, vamos lutar por um melhor rendimento das nossas crianças. E a Visão Holística da Educação é um novo modo de relação do ser humano com o mundo; uma nova visão do cosmos, da natureza, da sociedade, do outro e de si mesmo. Pois ela oferece pistas para encontrar novos pressupostos e propostas educacionais. Por ser emergente, o pensamento holístico requer ainda estudos e reflexões de pesquisadores a fim de redirecionar melhor sua aplicação. Portanto, a abordagem holística em educação não é propriedade de uma única corrente educacional. Diversas correntes pedagógicas já propuseram cada uma ao seu modo, uma educação integral da pessoa. Esta nova óptica que hoje podemos chamar de Educação holística vem mobilizando a sociedade científica e já se faz sentir a nível global. A Educação Holística tomou corpo recentemente, a partir de importantes acordos internacionais entre educadores holísticos de diversos países e de diferentes tendências.

DIDÁTICA CRIATIVA EM UMA VISÃO HOLÍSTICA TENDO COMO BASE OS QUATRO PILARES DA EDUCAÇÃO

            O homem contemporâneo necessita, urgentemente, de uma referência, de uma direção para encontrar o significado de tudo que o rodeia. Compreender a visão holística da educação faz o ser humano despertar seu potencial ilimitado e caminhar rumo à elevação de sua alma. A educação holística traz esperança e base para a construção de uma sociedade repleta de personalidade. Personalidade nobre e grandiosa. Não existe uma definição universalmente aceita sobre a educação holística, isso se deve a diversidade de abordagens e de ênfases em aspectos determinantes. Mas, sabe-se que a educação holística nutre o desenvolvimento da pessoa global; está interessada no intelectual, assim como no emocional, no social, no físico, no criativo/intuitivo, no estético e nos potencias espirituais.

            A Pedagogia Holística tem seus alicerces fundamentados em filósofos e pedagogos do século XVII, como Rousseau, Pestalozzi, entre outros, passando por reconhecidos, e ainda influentes pedagogos do início do século XX, como Maria Montessori, Rudolf Steiner, Ferrer e Guardiã, Dewey, Decroly, etc. No entanto, só mais recentemente é que o holismo adquire um corpo mais consistente e unificado, sendo visto como um novo paradigma educacional, e de forma crescente, vem sendo assumido e praticado por uma rede cada vez maior de educadores de todo o mundo.

            A maioria das escolas que ministram currículos holísticos é privada, mas a exigência de inúmeras iniciativas públicas é muito esperançosa e anuncia a urgência de um novo paradigma que somente será generalizado na medida em que suas propostas não forem vistas como “ameaçadoras” para determinados interesses políticos e econômicos que são decisivos para o estabelecimento da função da escola.

            Mas, a Educação Holística ainda deve obedecer aos quatro pilares básicos da Educação para o século XXI, o que é uma verdadeira intenção dessa educação revolucionária: Aprender a fazer, nesse, não basta preparar-se com cuidados para inserir-se no setor do trabalho. A rápida evolução por que passam as profissões pede que o indivíduo esteja apto a enfrentar novas situações de emprego e a trabalhar em equipe, desenvolvendo espírito cooperativo e de humildade na reelaboração conceitual e nas trocas, valores necessários ao trabalho coletivo. Ter iniciativa e intuição, gostar de uma certa dose de risco, saber comunicar-se e resolver conflitos e ser flexível. Aprender a fazer envolve uma série de técnicas a serem trabalhadas.

            Aprender a conhecer, aqui é necessário tornar prazeroso o ato de compreender, descobrir, construir e reconstruir o conhecimento para que não seja efêmero, para que se mantenha ao longo do tempo e para que valorize a curiosidade, a autonomia e a atenção permanentemente. É preciso também pensar o novo, reconstruir o velho e reinventar o pensar. Aprender a ser, essa não menos importante, pois desenvolve a sensibilidade, sentido ético e estético, responsabilidade pessoal, pensamento autônomo e crítico, imaginação, criatividade, iniciativa e crescimento integral da pessoa em relação à inteligência. A aprendizagem precisa ser integral, não negligenciando nenhuma das potencialidades de cada indivíduo.

            Aprender a viver juntos, e isso no mundo atual, é um importantíssimo aprendizado por ser valorizado quem aprende a viver com os outros, a compreendê-los, a desenvolver a percepção de interdependência, a administrar conflitos, a participar de projetos comuns, a ter prazer no esforço comum. Uma educação fundamentada nos quatro pilares acima elencados sugere alguns procedimentos didáticos que lhe seja condizente, como:

  • Relacionar o tema com a experiência do estudante e de outros personagens do contexto social;
  • Desenvolver a pedagogia da pergunta (Paulo Freire e Antonio Faundez, Por uma Pedagogia da Pergunta, Editora Paz e Terra, 1985);
  • Proporcionar uma relação dialógica com o estudante;
  • Envolver o estudante num processo que conduz a resultados, conclusões ou compromissos com a prática;
  • Oferecer um processo de autoaprendizagem e coresponsabilidade no processo de aprendizagem;
  • Utilizar o jogo pedagógico com o princípio de construir o texto.

            Segundo Delors, a prática pedagógica deve preocupar-se em desenvolver essas quatro aprendizagens fundamentais, que serão para cada indivíduo os pilares do conhecimento: aprender a conhecer indica o interesse, a abertura para o conhecimento, que verdadeiramente liberta da ignorância; aprender a fazer mostra a coragem de executar, de correr riscos, de errar mesmo na busca de acertar; aprender a conviver traz o desafio da convivência que apresenta o respeito a todos e o exercício de fraternidade como caminho do entendimento; e, finalmente, aprender a ser, que, talvez, seja o mais importante por explicitar o papel do cidadão e o objetivo de viver. O método educacional, norteada por estes princípios de levar em conta o “todo”, poderá contribuir para edificação de uma sociedade baseada nos valores essenciais da pessoa humana e não no valor do consumo.

            Os pilares são quatro, e os saberes e competências a se adquirir são apresentados, aparentemente, divididos. Essas quatro vias não podem, no entanto, dissociar-se por estarem imbricadas, constituindo interação com o fim único de uma formação holística do indivíduo. Jacques Delors (1998, p.78) aponta como principal consequência da sociedade do conhecimento a necessidade de uma aprendizagem ao longo de toda vida, fundamentada em quatro pilares, que são, concomitantemente, do conhecimento e da formação continuada.

            O ensino-aprendizagem voltado apenas para a absorção de conhecimento e que tem sido objeto de preocupação constante de quem ensina deverá dar lugar ao ensinar a pensar, saber comunicar-se e pesquisar, ter raciocínio lógico, fazer sínteses e elaborações teóricas, ser independente e autônomo; enfim, ser socialmente competente. Uma educação de qualidade exige uma didática mais criativa e eficiente, e isso a Educação Holística está provando ter. Os professores dentro de uma visão holística são centrados no aluno que mostrem uma reverência e um respeito pelos indivíduos. Os educadores deveriam ser conscientes e estar atentos para as necessidades, diferenças e habilidades, e serem capazes de responder ás necessidades em todos os níveis. Os educadores têm de considerar sempre cada indivíduo nos contextos da família, da escola, da sociedade, da comunidade global e do cosmos.

            E para se alcançar esses pilares, a Visão Holística tem como perfil de um ser humano um sujeito que deva ser ativo e autodeterminado para reconstrução do mundo; pacífico, ter sensibilidade e criatividade para a criação de formas de luta; ser solidário, ou seja, opõe-se ao acúmulo de bens como fonte de poder, uma busca a justiça social; ser autoconsciente, estar em busca da felicidade, do bem-estar e da paz, desde que atendidas as necessidades básicas de sobrevivência; ser intuitivo e dotado de visão holística, ter intuição que alimenta hipóteses dentro de uma perspectiva interdisciplinar; ser pleno de amor, pois, o amor descarta a competição, o egoísmo, a inveja, estimula a adesão, a participação e o compartilhar; ser sensível ao belo e criativo, na observância do sentir, captar, empolgar-se com detalhes do mundo; ser voltado ao espiritual, o que significa buscar internamente um encontro com a manifestação divina que existe em cada um de nós.

            A Visão Holística na Educação tem a contribuição de perceber o aluno como ser integral, aprendendo a viver junto com o aluno na questão de vivências em dinâmicas de grupo e na valorização das coisas simples da vida. A visão holística da educação nada mais é do que o reconhecimento da vida e do ser humano, rompendo com a educação tradicional e compartimentalizada, que determina uma educação caolha ou colunar. Trabalhar a questão da educação holística, ressignifica a Paidéia grega, no contexto atual, cultural, político, econômico, social e religioso das comunidades e das regiões. O processo holístico não pode ser diferente, pois a dimensão holística é inerente ao nosso ser e à nossa vida.

            A educação dentro de uma visão holística estimula não só a criança, mas também os adultos a ter um desapego aos bens materiais, incentivando-os a ter uma vida voltada ao conhecimento e o uso adequado, buscando o bem coletivo, passando por vários obstáculos que são abordados pela visão holística da educação, o que faz desse método, bom e necessário, para que possamos modificar o ensino. E o educador é o responsável, acima de tudo, pela busca dos jovens por uma compreensão significativa do mundo que algum dia lhe será inerente. Com base nessa visão, os quatro pilares do conhecimento seriam imprescindíveis, o que tornaria em uma didática criativa, e assim, pode-se prever grandes consequências positivas na educação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS


            O Brasil está vivenciando um momento muito importante, o da demanda por educação, que, ao crescer, faz com que sociedade e instituições, direcionem-se a atender essa urgência nacional. De fato, essa é realmente uma tarefa importante e é isso que se espera que o Brasil faça. Isso não é difícil se entendermos que temos afinal, materiais e ideias. É imprescindível pôr em prática todos os estudos e projetos para a modernização da educação. Para transformar a história do nosso país e alcançar êxitos e conquistas, precisamos ousar em crescer, conquistar e exercitar a cidadania plena, desenvolver o poder da visão crítica, compreender o contexto desse mundo, escrever a própria história, cultivar o sentimento de solidariedade, lutar por uma sociedade mais justa e solidária e, sobretudo, acreditar sempre no poder transformador da educação. O ser humano está, sempre buscando respostas e, nas contingências vivenciadas atualmente, urge modificar o paradigma existente onde busquemos com novos olhares educacionais, dentro de uma visão holística, que seguramente oferecerá em seu bojo, ferramentas transformadoras da sociedade, possibilitando uma educação prazerosa, onde crianças, jovens e adultos apreendam os saberes, que lhes trarão definitivamente, direitos fundamentais, capazes de lhes garantir uma vida digna em todas as etapas de suas vidas. Aceitemos, pois, os grandes desafios com: fé, esperança e muita vontade, e assim, acreditemos nós realmente podemos fazer da educação o começo de tudo.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BRANDÃO, Zaia (Org.). A Crise dos Paradigmas e a Educação. 3ª ed. São Paulo: Cortez Editora, 1994.

CARDOSO, Clodoaldo Meneguello. A Canção da Inteireza – Uma visão holística da Educação. São Paulo – SP, Summus Editoral, 1995.

CAPRA, Fritjof. O Ponto de Mutação. São Paulo – SP: Editora Cultrix, 1982.

CREMA, Roberto. Visão Holísitica em Psicologia e Educação. São Paulo – SP: Summus, 1991.

DELORS, Jacques (Coord.). Os quatro pilares da educação. In: Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo: Cortezo. p. 89-102.

FREIRE, Paulo; FAUNDEZ, Antonio. Por uma pedagogia da pergunta. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.