Desenvolvemos esse artigo com dicas valiosas para mulheres que estão se divorciando e a primeira dica é financeira: “pense financeiramente, não emocionalmente”. Afinal, ser racional para lidar com as questões financeiras que envolvem um divórcio permite que se chegue aos melhores resultados e estabelece uma base segura para o futuro da cliente que pretende viver de forma independente. Por outro lado, pensar de forma emotiva nessas horas faz com que a pessoa tome decisões de curto prazo, que não contemplam o futuro, como se não conseguissem enxergar detalhes importantes a respeito de suas necessidades, e o resultado, como é de se esperar, é um profundo arrependimento tardio.

Por mais que possa parecer óbvio, a verdade é que quando se está passando por um divórcio contencioso, pensar financeiramente e não emocionalmente pode ser muito mais fácil falar do que fazer. Muitas das coisas que estão acontecendo com você durante um divórcio são, inegavelmente, intensamente emocionais. Como então, lidar com as questões emocionais de maneira que você possa se concentrar nas decisões financeiras que precisa tomar?

Fizemos essa pergunta a um psiquiatra, com mais de vinte e cinco anos de experiência atendendo mulheres que estão se divorciando e ele nos respondeu:

“Fica claro que uns dos fatores fundamentais que definem que tipo de reações você vai ter são, quem entrou com o pedido de divórcio e em que circunstâncias; se o casal tem filhos ou não; e o tipo de personalidade de cada um dos cônjuges. Mas de um modo geral, há dois principais grupos de sentimentos: 1) sentimentos que você nutre em relação ao seu ex e 2) os sentimentos que você tem em relação a você mesma.”

De acordo com ele, os sentimentos que a maioria sente em relação ao ex-parceiro e ao fim do casamento são universais, e as mulheres normalmente experimentam múltiplas sensações que ficam variando desde a raiva, a dor, a incredulidade, a melancolia, o ódio, e a vergonha à uma sensação de alívio, liberdade e aventura.

“Pode ser que você se veja passando por toda essa gama de sentimentos e sensações várias vezes em um mesmo dia, ou até mesmo sentir tudo isso junto de uma vez só, o que pode ser um pouco enlouquecedor. Isto, porém, é normal e faz parte da maioria dos processos de divórcio.” Afirmou ele.

Outro tipo de emoções são aquelas que as mulheres sentem em relação a elas mesmas.

“Estes sentimentos já são mais complexos e cheios de nuanças, e costumam ser menos intensos; são mais pessoais também, menos universais. Diria ainda que são menos claros e bem mais difíceis de serem identificados e definidos,” explicou o psiquiatra. “Entretanto, a maneira que você sente em relação a você mesma durante e depois do divórcio, e seu diálogo interno, são fundamentais para determinar como será sua recuperação. Eu diria mais, o diálogo interno que você trava consigo mesma, determina também a habilidade que você terá para construir um relacionamento futuro confiável com uma outra pessoa. Na verdade, uma das questões que assombram as mulheres no divórcio é acharem que elas que cometeram um grande equívoco na escolha do parceiro, e, se isso não for observado e tratado, pode ser que elas percam a confiança na própria capacidade em fazer escolhas futuras.”

Um outro conselho, da Dra. Flávia Guimarães, uma psicóloga licenciada de São Paulo, ajuda a compor esse entendimento. Ela enfatiza a importância de cuidar de si mesma para se chegar a um estado emocional saudável. A Dra. Flávia tem mais de dez anos de carreira e já ajudou inúmeros homens e mulheres a passar pelas transições e desafios típicos de um divórcio.

“É muito importante permanecer saudável e cuidar de si mesmo durante esse período tão desafiador, emocional e fisicamente falando”, disse ela. “As pessoas normalmente esquecem-se de cuidar de si mesmas e é comum que deixem de manter os hábitos saudáveis que costumavam adotar antes de se divorciar, deixando-os logo de lado por se sentirem estressados, ansiosos, deprimidos ou simplesmente por sentirem-se sobrecarregados com todo o desgaste do processo. No entanto, é justamente nessa hora que é fundamental que você se dedique a cuidar de você mesma”.

A Dra. Flávia sugere às mulheres que estão se divorciando que continuem a fazer escolhas saudáveis como se exercitar, meditar, se alimentar adequadamente e sair para espairecer e, se possível, se divertir.

“Criar e manter uma boa estrutura de atividades durante o dia também é extremamente aconselhável. Muitas horas vagas levam a pensamentos negativos, ansiedade e tristeza”, adverte a psicóloga. “Estar atenta, observando e aceitando todos os sentimentos que surgirem ajuda muito também, se preferir, utilize um diário para extravasar o que está sentindo”.

Ela salienta que pode ser perigoso se afastar dos amigos e familiares nessas horas. “Aquela rede de suporte é, simplesmente, inestimável”, disse ela.

Ao mesmo tempo em que é de extrema importância poder contar com os mais próximos para não afundar, contratar os serviços de um psicólogo ou terapeuta especializado pode ser fundamental também.

O período de “luto”, pelo qual praticamente toda mulher que se divorcia passa, não significa automaticamente que é necessário passar por uma intervenção médica, a menos que você apresente sinais de depressão clínica ou outro quadro psiquiátrico. De fato, a maioria das pessoas tem condições de superar o período de luto pelo fim do divórcio por conta própria, contando apenas com o apoio dos amigos e parentes. Não obstante, as batalhas travadas no mundo interno, que costumam ser insidiosas e quase invisíveis, podem deixar seqüelas que poderão influenciar um futuro relacionamento afetivo e afetar a capacidade de se sentir satisfeita.

“Eu recomendo fortemente que as mulheres que estejam lutando com sentimentos como auto-recriminação, culpa, dúvidas a respeito de si mesmas e perda de confiança e autoestima, só para citar alguns, busquem aconselhamento profissional, nem que seja apenas para uma consulta, para avaliarem como estão”.

Como escolher um bom terapeuta?
A recomendação de amigos ou parentes costuma ser valiosa. Entretanto, vale ressalvar que o melhor psiquiatra para o seu amigo, pode não ser o mais adequado para você.

Se você sentir que a sessão na está fluindo, ou que está com dificuldades de se abrir, não hesite em contar isso para o terapeuta, e caso isto não surta nem um efeito, busque outro profissional com o qual você se sinta mais à vontade. A maioria de nós consegue identificar imediatamente, se o terapeuta que está nos atendendo será capaz de nos ajudar ou não. Afinal de contas, a sensação de estar realmente sendo ajudado é o critério número um para avaliar um bom tratamento.

Uma das coisas que você precisará decidir é se você precisará de um psiquiatra em si (um médico que irá prescrever remédios), um psicólogo, ou outro tipo de terapeuta. Algumas mulheres podem precisar de antidepressivos ou ansiolíticos, ou remédio que as ajudem a dormir. Se você tiver necessidades médicas nesse sentido, será fundamental que você procure um psiquiatra, que pode receitá-los. Vale lembrar, porém, que você pode começar uma terapia alternativa, por exemplo, ou ser atendida por um psicólogo de confiança, e este poderá indicar algum psiquiatra que irá lhe atender trimestralmente, por exemplo, e prescrever os remédios, enquanto que a terapeuta atenderá você com uma freqüência maior. Essa combinação costuma funcionar bem.

Quando você estiver escolhendo o profissional com o qual irá trabalhar suas questões, será importante que você o entreviste, assim como você fez com seu advogado ou com seu consultor financeiro.

“Eu acho que a pergunta mais importante que deve fazer a um analista é em relação à experiência que ele tem. Ele tem experiência? Há quanto tempo atuam? Qual o estilo de tratamento eles costumam utilizar em pessoas que estão se divorciando? Que tipo de resultado costuma gerar nos pacientes”, recomenda a Dra. Flávia. “Além de experiência comprovada, outro fator fundamental é a “química”, aquela afinidade e confiança que conseguem estabelecer com o paciente. Não se sinta mal em entrevistar vários terapeutas. É uma questão de “encaixe”, da energia entre vocês “bater”. Se você se sentir confortável com o analista, se sentir aquela confiança, então já é meio caminho andado para que o tratamento traga benefícios em vários níveis. Afinal, quando essa sintonia é estabelecida, fica muito mais fácil de conseguir desenvolver um ótimo trabalho.

Outra coisa interessante é descobrir logo de cara se o psiquiatra/terapeuta terá disponibilidade para testemunhar nos tribunais, caso necessário.

Pode ser que, durante os procedimentos do divórcio, especialmente quando envolve a custódia dos filhos, que um psiquiatra especializado seja ouvido. Muitos profissionais da área de saúde psiquiátrica podem ficar relutantes na hora de depor em um tribunal. Portanto, procure esclarecer esse aspecto com o seu analista logo no começo.

O que você pode esperar do tratamento terapêutico?
Aqui vai uma dica interessante da Dra. Flávia. “Lembre-se que o divórcio é uma montanha-russa emocional. Porém, com o tempo e com o apoio dos amigos, da família e de profissionais, as coisas realmente vão melhorando consideravelmente. Depois de um tempo, você provavelmente ficará impressionada com o quanto amadureceu e se fortaleceu com a experiência, e perceberá também quão resistente você é. Não espere que todas as questões estejam zeradas e que você não tenha mais sentimento nenhum em relação à separação, porém, na maioria das vezes, um pouco de reflexão, introspecção serão suficientes para que você lide com eles. Mas lembre-se, o processo de cura varia de pessoa para pessoa e você é única!”