Dia de índio: dia de todos

Há uma música dizendo que “todo dia era dia de índio”. E depois a música continua dizendo que “hoje ele só tem o dia 19 de abril”

Essa música tem verdades e um equívoco.

É verdade que antes da chegada dos portugueses tudo era dos índios e, portanto, todo dia era dia de índio.

A natureza era, de alguma forma, respeitada. Mas é bom que se diga: esse respeito não ocorria por causa da natureza, mas porque os índios eram povos caçadores e coletores; além disso, eles não dominavam as tecnologias e ferramentas que hoje possuímos. Eles dependiam da natureza para tudo, inclusive para suas poucas plantações.

Viviam integrados com a natureza. Sabiam usar com sabedoria aquilo que a natureza podia oferecer. Nossa sociedade aprendeu com eles. Muito do que sabemos sobre a natureza, seus recursos e potencial, devemos aos índios: medicina das plantas, linguagem, nome de lugares e até o hábito do banho diário aprendemos com os índios.

O erro da música é dizer que hoje eles só têm o dia 19 de abril.

Isso não é verdade, pois a legislação nacional e os movimentos sociais lhes conferem direitos que muitos brancos não possuem. Só como exemplo podemos dizer que os índios têm prioridade no atendimento nos órgão de saúde pública.

Mas então isso quer dizer que todos deveríamos ser índios para recebermos atenção prioritária?

Não. O que nos falta é fazer valer o direito de ser gente neste Brasil de todos. Nesse terra que já foi de todos e que hoje exclui quem trabalha, quem estuda, quem é honesto e honrado... para dar lugar e espaço para os malandros. Ver a república estraçalhada pelas quadrilhas das politicagens; ver bandidos governando o país; ver aqueles que deveriam ser o exemplo nacional golpeando o Estado e desprezando o povo... tudo isso dói e provoca uma sensação de indignação que não sara, só sangra gritando: quero meu espaço e meu país de volta...! e que eles recebam o tratamento dado aos carrapatos...

Mas o fato é que não estamos sabendo como resolver nosso problema. Nosso problema que consiste em ver crescer o privilégio de alguns sobre a indiferença em relação a todos. Por conta disso e independentemente do ser índio ou não, todo dia deveria ser dia de respeito ao ser humano. E se assim fosse, todo dia seria dia de gente: branca, índia e negra. O que nos falta, não é saber se este ou aquele é dia disto ou daquilo, mas saber que todo dia é dia de todos.

Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Rolim de Moura- RO