Dia da Poesia

Por Jean Carlos Neris de Paula | 08/03/2011 | Literatura

Dia da Poesia

No dia 14 de março, comemora-se o Dia da Poesia, uma homenagem a Castro Alves, poeta da Terceira Geração do Romantismo que se consagrou com o epíteto de Poeta dos Escravos, isso por lutar contra a escravidão e escrever sobre a alma do negro. Castro Alves nasceu no dia 14 de março de 1847.
A poesia constitui um gênero textual conhecido e estudado, entretanto vem sendo maltratada por muitos que pensam ser poetas e lançam livros sem o menor esmero literário. O resultado disso é que há vários aventureiros depreciando a qualidade da poesia brasileira, que é tão rica e tão bem representada por Drummond, Bandeira, Gregório de Matos, Álvares de Azevedo, Murilo Mendes, Augusto dos Anjos, Cecília Meireles, Chico Buarque, Vinícius de Moraes, Cora Coralina, Paulo Leminsk, Alice Ruiz e tantos outros artífices da palavra. O texto poético é um exercício à sensibilidade, à crítica e à criatividade, por isso precisa ser mais valorizado pelos leitores e pelo poder público, o qual tem o dever de estimular o desenvolvimento cultural, e o poema em verso e em prosa muito pode ajudar no processo de formação da cidadania.
Com essa reverência à poesia, recebo, para meu deleite, escritos inéditos do Poeta Ronald. Que satisfação ver a verdadeira poesia, trabalhada, brotar em chão cariaciquense na forma de versos modernos, críticos, sem amarras formalistas, mas com engajamento cultural, literário e político-social, questionando, filosofando, criando, ironizando e produzindo arte de qualidade. Na poesia de Ronald, o poema não tem interpretação intelecto- evolutiva, vomita lixo cultural, rejeita a ins piração, procura nossa cultura, nega conceitos definitivos, valoriza a experiência redesenhada do não, lembra preocupações sobre a mesa infarta, critica a mão que afaga o poder, provoca rupturas nas ruas, ironiza o patriota que não quer morrer, mostra o bobo e o lobo na travessia de cada esquina, questiona a in plantação do medo em latifúndios, doa um produto inacabado e inesgotável, escreve a rubrica de fogo, dá um traço nos espaços em branco, come o mapa do nordeste, apunhala a alma, vê a História do Brasil na novela das oito, suspira para todos os lados, vomita a liberdade no Planalto Central, ri de todos tolos em seu trono, toma sorvete com James Joice, sai do ginásio nada engajado, manifesta o pensamento pessoânico, chega às estrelas, inscreve o imortal morto na torre de papel, emana do povo artigo último, explica o mofo das palavras que voa das estantes empoeiradas, chora a ré pública com o rei na barriga, manipula o cardápio do dia a dia na cap & tal do silêncio artificial em cores sonolentas, analisa o contexto do pensamento, arquiva tempestades e esconde caixa teimosa à espera de versos em si mesmos retorcidos.
É com esse vigor poético que Ronald escreve utilizando metáforas surpreendentes, personificações, versos em cascata, comparações criativas, críticas contundentes, sensibilidade latente, práxis modernista e, principalmente, coragem criadora e libertária.
Poeta Ronald, obrigado pela oportunidade de ler seus escritos no início do mês em que se comemora o Dia da Poesia. Espero, desejo, com ansiedade, que seus versos sejam transformados em livro e possam fazer brotar ideias poéticas no terreno fértil de Cariacica, cidade que necessita de adubo literário para florescer bela e culturalmente forte.

Jean Carlos Neris de Paula