No final de 2006 comentei uma entrevista do inglês, James Lovelock, na edição de 25/10/2006, da revista Veja. Em 2007 tendo visto os noticiários comentando o Relatório da ONU sobre o aquecimento Global lembrei-me dele. E agora, vendo o que ocorre no Brasil: enchentes no sul e pouca chuva na Amazônia, particularmente em Rondônia, não posso deixar de retomar o tema da catástrofe anunciada.

Em 2007, em nome da "segurança nacional" a ONU e os países donos do mundo resolveram ouvir o que os ambientalistas há décadas vêm falando: o planeta está doente. Com o agravante de que agora está doente em estado terminal. Naquela entrevista, James Lovelock, afirmava que devido ao aquecimento global a terra será "insuportável lá por 2040". O relatório da Organização das Nações Unidas – na verdade feito por cerca de 120 cientistas de várias nacionalidades, a pedido da ONU – divulgado na véspera da Páscoa, antecede a catástrofe. Prevê a devastação para 2020: daqui a 13 anos! E neste final de semana, num dos comentários sobre as catástrofes do sul, um representante de uma instituição governamental afirmou que esses problemas podem estar relacionados ao aquecimento global.

Estamos percebendo que a catástrofe, prevista para 2020, não acontecerá somente lá em 2020, na forma de um maremoto, um terremoto, uma erupção vulcânica ou uma tsunami... As catástrofes estão se instalando. Está se instalando. Já se instalou lentamente, tragicamente. Não há como fugir. Não tem para onde fugir... e não é filme de ficção científica, como o que passou no SBT, neste fim de semana (dia 30/11, no "oito e meia no cinema": "Destruição Total: O Fim do Mundo"), em que, nos últimos segundos um cientista descobre a solução do problema e resolve tudo apertando um botão. Na vida real é morte, mesmo! Talvez eu e você nem sintamos tanto, pois podemos já estar com várias décadas de vida e quando as coisas estiverem piores, pode ser que nem estejamos mais vivos. Mas você já pensou no mundo que está se formando e que você está ajudando a produzir para seu filho, sua filha, para seus netos?...

O fato é que o inglês fez uma previsão otimista, em relação ao que o atual relatório das Nações Unidas, afirma. O comentário da repórter Viviam Oswald, disponível em <http://oglobo.globo.com/ciencia/mat/2007/04/04/295181372.asp> diz que é "sombrio o cenário traçado pelo novo relatório da ONU sobre as mudanças climáticas, cuja versão preliminar teve partes reveladas no domingo." E a repórter continua: "O relatório adverte que se nada for feito para conter o atual ritmo de aquecimento global, as geleiras dos Andes tropicais desaparecerão em 15 anos. Nem a mais alta cadeia de montanhas da Terra escapará: o Himalaia pode perder um quinto de suas geleiras até 2030. Nos dois casos, a conseqüência será drástica redução da oferta de água para muitos países". No caso dos Andes a redução das águas afetará a região da bacia amazônica que, como sabemos, não se alimenta somente das chuvas que se reduzirão, mas também, do ritmo das neves andinas. E esse efeito já estamos sentindo: insisto, teimosamente: as chuvas estão diminuindo. Corremos o risco de, em algumas regiões de Rondônia, NESTE ANO DE 2009 FALTAR ÁGUA!!! E estamos na Amazônia!

A Agencia Brasil (Radiobrás) comentou o aumento da emissão de poluentes, em notícia disponível em <http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2007/02/02/materia.2007-02-02.4538227914/view>, dizendo que o mundo aumentou "em 10% a emissão de gases poluentes, passando de 23 bilhões de toneladas ao ano em 1990 para mais de 26 bilhões de toneladas entre os anos de 2002 e 2005". E, com o aumento do desmatamento e agressão aos mares, a natureza não está dando conta de restaurar o equilíbrio! E o desequilíbrio já se está instalando. Não é demais lembrar o badalado documentário de Al Gore, "uma verdade inconveniente". Ali o ex-vice presidente norte americano menciona a possibilidade de mudança climática dizendo que algumas regiões (Amazônia) sentirão a escassez de água enquanto outras (Santa Catarina) sentirão os excessos de chuvas...

"E o que é que eu tenho com isso"? você pode estar se perguntando, como a me dizer que não pode fazer nada. Realmente! Possivelmente eu e você, como muitos outros, somos apenas vítimas. Mas somos vítimas coniventes. Pior ainda. Somos umas vítimas acomodadas. Enquanto algumas poucas nações e empresas estão banburrando de ganhar dinheiro enquanto matam o mundo, nós, a população que compramos seus produtos, ficamos assistindo. Quer dizer somos tão "toupeiras", tão "antas" que pagamos para os privilegiados nos matarem. E ainda ficamos nos vangloriando e dizendo: "não tenho nada com isso!"

A questão é que a coisa vai nos atingir direitinho. Vai atingir a nós que estamos na maior reserva de água doce, do mundo. Ela está para secar – lembremo-nos de que em 2006 os noticiários mostraram aquelas cenas de peixes mortos por falta de água nos rios da Amazônia! E isso ocorreu por falta de chuvas que diminuirão ainda mais, em virtude do descongelamento dos Andes – o gelo derrete, escorre e não volta mais! Repito: corremos o risco de em 2009 sentirmos falta de água em algumas regiões de Rondônia, pois as chuvas que começariam sem setembro ainda não chegaram efetivamente, agora que já estamos no começo de dezembro.

Contra a falta de chuvas na Amazônia alguém pode argumentar que no sul e sudeste as chuvas vão aumentar. De fato, mas ao preço de aumento dos deslizamentos de encostas, atingindo favelas e provocando enchentes... e mortes! Ligue TV e veja! Entretanto uma grande parte do planeta vai ter diminuição das chuvas. No Nordeste do Brasil, que já é bastante castigado pela seca, o sertão vai virar deserto. A reposição de água dos depósitos subterrâneos deve cair em 70% até 2050. E o que diz respeito a nós: grande parte da Amazônia vai se transformar em cerrado, e depois de mais alguns anos se desertificará: seremos outro Saara – é verdade que possivelmente eu e você não estejamos aqui para ver...

Segundo os noticiários, quando da divulgação do relatório da ONU, se disse que aquilo era a parte boa. Aquele foi um relatório editado. Mas se aquilo é o bom, imagine o que seriam as coisas ruins! Imagine o que tem de pior. Imagine as multidões de esfomeados e sedentos em crescentes guerras por água e comida. Em Santa Catarina, em poucos dias já estavam ocorrendo saques... Mas também imagine que as nações ricas se beneficiarão com isso. Imagine que as populações mais pobres serão ainda mais maltratadas...

Os otimistas dizem que ainda dá tempo de minimizar esses estragos. Um dos recursos seria as grandes indústrias poluidoras diminuírem a emissão de gazes poluentes e que ajudam no processo de aquecimento global. Essa era a tese do filme do SBT: "Destruição Total: O Fim do Mundo". Mas isso é lá com eles. Isso é lá com os que decidem os destinos do mundo. Deles somos apenas vítimas.

O que nós podemos fazer é aqui em nossa região: iniciar um processo de reflorestamento e tentativa de salvar as nascentes. Principalmente nós de Rondônia que já devastamos mais de noventa por cento do estado. Nós não só podemos como devemos iniciar um processo de resgate. Nosso estado está agonizante: veja o volume de chuvas que diminui ano a ano!

Caso não façamos isso, além de sofrer a ação devastatória dos donos do mundo, sofreremos as conseqüências da nossa própria acomodação criminosa. Se fossemos honestos, e não covardemente acomodados, começaríamos a nos mobilizar para resgatar o que nos cabe e cobrar medidas daqueles que podem agir politicamente.

Mas nosso medo de agir nos matará na acomodação omissa.

Neri de Paula Carneiro

Filósofo, Teólogo, Historiador