Não há como entender o plano de salvação em Cristo ao homem, sem uma arremetida à história bíblica, mais precisamente no período imediatamente posterior à criação da raça humana. Isto porque, é justamente nesse período que encontramos a chave que abre o grande enigma da salvação. Antes, porém, um parêntesis deve ser aberto para uma explicação: Inegavelmente, todos que admitem a existência de Deus têm que, forçosamente, admitir que Deus na sua infinita sabedoria não criaria uma criatura repleta de defeitos e maldades, como tem sido o homem. Sendo assim, também são forçados a admitir que algo muito desastroso aconteceu aos nossos primeiros pais, que os levaram a ter um comportamento execrável à santidade divina, tal e qual registrado nas páginas das escrituras. Ainda, não se deve desprezar o fato de que uma força malévola tenha agido contra as determinações divinas, coroando assim os primeiros espécimes com o estigma da decadência moral-espiritual. Com efeito, a posição do homem em ralação ao seu Criador tende a dar respostas, tanto ao drástico acontecimento, como à razão do Verbo ter-se transformado em carne. Dito isto, vamos ao objetivo de nossa prédica.
    Quando falamos da condição servil do homem aos caprichos de sua rebelião contra Deus, não podemos nos eximir em relacionar Cristo a esse nefasto acontecimento, fato este que maculou a magna criação divina. Para tanto, mister se faça aludir a essa catástrofe moral para determinar o grau de importância da descida do Emanuel a este mundo. Nessa conjuntura humano-divina, transparece de maneira inequívoca a ira de Deus sendo derramada sobre o homem, a tal ponto deste receber a maldição pelo ato praticado. Este episódio maculou até a terra, visto que o Criador disse a Adão: “Maldita a terra por causa de ti”!
    A esta altura resta-nos referir ao fato, nomeando-o com o título de “pecado”. Como se sabe, o significado deste termo é “errar o alvo”. Assim, de um exime “arqueiro” que era, o homem passou a ser agente e paciente, atirando e recebendo “flechadas” ao mesmo tempo.  Como tal, a desobediência às determinações divinas – causadas pela instigação do maligno ser – não poderia ser tratada de outra forma. Sendo Deus extremamente santo e, feito sua criatura num nível muito próximo a Ele, a ira foi o caudal que se abateu sobre toda a raça humana, devido a que: “um pecou, logo todos pecaram”.  Essa situação do “appartaid” divino em ralação à Sua criatura, fez com que a paternidade espiritual do Pai em relação aos filhos criados fosse quebrada. Nesses termos, os primeiros representantes da raça humana não mais contaram com a ligação divino-espiritual. Dessa forma, o homem continuou sendo apenas filho no sentido da criação, ou seja, criatura apenas. Ao perder essa paternidade – a espiritual – a qual o identificava com o Criador em atributos e semelhança, restou apenas ao homem um estado de desligamento, que o levou a ficar isento dessa filiação. Neste ponto aparece justamente a razão da tomada de posição por parte do Pai, doando “Seu Filho unigênito para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jô. 3:16). Dessa maneira o homem é recuperado plena e integralmente. Com esse ato de doação, feito pelo muito amor que o Pai dispensou à sua criatura, o Senhor Jesus assumiu um estado, digamos, temporário, pois logo após cumprir os desígnios divinos voltou para seu lugar de origem. Como se sabe, Cristo passou pelos mais atrozes acontecimentos que fizeram dele a vítima pascal em favor da humanidade decadente. Na realidade, tornou-se maldito por ser exposto à morte de cruz.

    Seria o caso de perguntarmos, de que maneira o homem perde a maldição que fora lançado sobre ele por ocasião da transgressão adâmica?  Cristo tomando o lugar do homem, já que este teria que pagar pelo seu resgate, para que tornasse novamente filho de Deus, a exemplo de Adão antes de pecar. Dessa forma a justificação é completada, quando a ira divina abateu-se sobre Cristo, estando Este no lugar do pecador. Este fato foi a medida mais drástica que o Pai poderia tomar, para que Sua ira deixasse de se abater sobre o homem. Com efeito, através do sacrifício de Cristo o ser humano tem garantido novamente a paternidade espiritual, sem a qual não há meios para que ele se chegue à casa paterna. Cristo Jesus é o caminho para esse estado feliz junto ao Pai. Tanto que Ele próprio disse: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vem ao Pai senão por mim”(João 14:6). A autenticação do homem ao tornar-se filho de Deus, consta no evangelho de João, cap, 1, vrs. 12: “Mas a todos quanto O receberam foi lhes dado o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber: aos que crêem em Seu nome”.