Os SNC (sistema nervoso central) e o SNP (sistema nervoso periférico) são conformados por estruturas denominadas fibras nervosas, estas são envoltas por formações conhecidas como bainhas nervosas.

As fibras nervosas são constituídas por axônios e suas bainhas envoltórias, grupos destas fibras formam os feixes ou tratos do SNC e os nervos do SNP, os quais recebem estímulos de inibição e excitação para a realização de sua função fisiológica.

As principais células de todo o sistema nervoso são os neurônios, eles apresentam uma região centralizada chamada corpo celular ou pericário o qual contém o núcleo e as organelas celulares.

Deste pericário partem numerosos prolongamentos ramificados denominados dendritos e um longo prolongamento denominado axônio, que na sua terminação possui vesículas contendo uma substância neurotransmissora e no seu trajeto envolturas em forma de bainhas.

Os dendritos são responsáveis por receber os estímulos enviados pelos axônios de outros neurônios, formando estruturas especializadas denominadas sinapses, as quais são os pontos de comunicação entre eles.

Ao longo do transcurso de um axônio nos nervos periféricos, o mesmo é acompanhado por células da Glia, que formarão os distintos tipos de bainhas nervosas.

Essas células são denominadas “satélites” e no caso do desenvolvimento de bainhas, temos duas células principais envolvidas no processo, a célula de Schwann (Imagem II)  (desenvolvida no estágio embrionário, na cresta neural) é a reponsável pela mielinização do SNP (Sistema Nervoso Periférico) e o Oligodendrócito (Imagem III) é o responsável pela mielinização do SNC (Sistema Nervoso Central).

A célula de Schwann possui forma plana, assemelhando –se a um trapézio, posuindo áreas muito finas que carecem de citoplasma, constituída pelas membranas plasmáticas opostas adosadas entre si.

A célula de Schwann cria em seu processo de mielinização uma envoltura no axônio, abraçando-o, devido a esta envoltura seu plasmalema se torna muito próximo do axônio. A célula de Schwann pode rodear até 30 axônios de uma única vez, esta região de envoltura é conhecida como mesáxon. A bainha criada por esta célula é conhecida como bainha de Schwann, dando origem aos nervos amielínicos, no momento da formação da bainha sobre o axônio, seu núcelo celular está localizado próximo a parte central de cada segmento.

Os oligodendrócitos por sua vez, criam as bainhas nervosas em voltas de axônios mais calibrosos, em um sistema similar ao da célula de Schwann, pois seu citoplasma também envolve o axônio, porém se espiraliza podendo chegar a ter mais de cinquenta voltas ao redor do mesmo (quanto maior o calibre do axônio, maior o número de voltas), se espremendo e apertando até o ponto de seu desaparecimento.

Estas espirais em volta do axônio carregam consigo a membrana externa do oligodendrócito, no momento final da espiralização vemos linhas escuras conhecidas como linhas densas correspondentes aos planos de união das caras citosólicas da membrana plasmática, além de linhas claras denominadas intraperiódicas, que são mais largas contendo a cara externa destas membranas, o espaço extracelular deixando entre estas linhas é de dois nanômetros de espessura.

Deve-se assinalar dois pontos nesta mielinização, o primeiro é que os oligodendrócitos emitem seu citoplasma para a mielinização em vários axônios, não necessitando estar em contato com os mesmos, diferentemente das células de Schwann que necessitam deste contato, e o segundo ponto é que o segmento inicial do axônio e o ramo imediatemente anterior ao terminal sináptico são desprovidos desta mielinização.

Podemos encontrar na bainha de mielina fendas, conhecidas como incisuras de Schimdt – Lanternamm, as quais podemos dizer serem áreas defeituosas da mileina, aonde permaneceu algum citoplasma durante o processo de espiralização, não completando o total empacotamento da membrana.

Além destas incisuras encontramos entre a bainha interna e o axônio um espaço de aproximadamente 15 a 20 nanômetros, conhecido como espaço periaxônico.

Estas bainhas criadas pelos processos de espiralização contendo mais de cinquenta envolturas são conhecidas como Bainhas de Mielina (Imagem I), podendo serem geradas por Oligodendrócitos e Células de Schawnn (nesta método de espiralização ainda desconhecido).

A Bainha de Mielina possui uma composição lipoproteíca branca, com maior concentração lipídica que membranas em geral, seus percentuais principais são de 75% de lipídios (cerebrosídeos, fosfolipídios, esfingomielina e colesterol) e 25% de proteínas, o maior conteúdo lipídico confere a bainha uma aspecto branco brilhante em estado fresco o qual se remove parcialmente em preparados histológicos, tornando possível sua visualização com a utilização de tetróxido de ósmio, o qual fixa os lípidios tingindo-os de preto, tornando a bainha de mielina como um anel negro ao redor do axônio. A utilização te técnicas histológicas em fibras amielínicas, se tornam uma dificil missão devido ao fato de serem visualizadas apenas aonde encontramos o núcelo alargado e aplanado da célula de Schwann, denunciando que ali existe alguma fibra nervosa com sua respectiva bainha.

O tamanho da bainha de mielina vai variar de acordo com o calibre do axônio, mantendo-se  constante ao longo de todo o seu trajeto. Nestes axônios encontramos interpostos com as  bainhas de mielina estruturas que favorecerão seu desempenho no deslocamento do potencial de ação. Estas estreitas estrutras intercaladas em distâncias de 0,2 e 1,2 micrometros são conhecidas como Nódulos de Ranvier (Imagem IV), estes segmentos dividem a fibra nervosa em porções de igual longitude, conhecidos como segmentos internodais.

Nestes espaços carecidos de mileina, porém contornados por uma lâmina basal emitida da célula de Schwann, a qual chega até o axônio, temos a abertura para as trocas iônicas com o meio extracelular, devido a isso, os nódulos de Ranvier são locais aonde encontramos a despolarização da célula nervosa, conferindo a este segmento do axônio, características polares distintas, ora negativo, ora positivo, de acordo com o potencal polar gerado no axoplasma. Esta despolarização a nível do nódulo é notável, pois acumula uma enorme quantidade de energia na membrana plasmática do axônio, devido a mesma despolarizar-se apenas nestas porções e não por completo.

A função principal da bainha de mielina é o isolamento elétrico de um axônio no momento do potencial de ação, isolamento o qual, ocorre devido a sua composição altamente lipídica. O deslocamento desse potencial é realizado de forma saltatória de um nódulo de Ranvier a outro, constituindo assim o Mecanismo de Propagação Saltatória do impulso nervoso, sistema essencial  devido a sua rapidez de transmissão nervosa,esta agilidade de comunicação não ocorrre em fibras amielínicas.

As diferenças entre as fibras mielínicas e amielínicas vão além da espiralização e das células que dão origem as mesmas, tendo como fator principal a desigualdade na velocidade de transmissão do potencial de ação, onde em fibras amielínicas ocorrem com uma velocidade aproximada de 1 m/s, notavelmente mais lento que em fibras mielínicas, as quais fazem a mesma transmissão de forma saltatória, podendo atingir velocidades aproximadas de 200 m/s ou 720 Km/h. A mielina não é um componente estático, tendo em vista que sofre alterações a todo momento, com um metabolismo contínuo. O processo de mielinização começa ao redor dos quatro meses de gestação e termina por volta dos 25 anos de idade.

Algumas patologias são diretamente ligadas a desmielinização de uma bainha, a  causa ainda é desconhecida,  podendo ser adotados alguns fatores para o início do processo, como vivência nos primeiros 10 anos de vida em zonas tropicais, equatorias ou temperadas, sendo que estes acusam uma disposição mais acentuada para o aparecimento de algumas destas patologias.

O processo de desmielinização inicia quando o corpo produz anticorpos contra sua própria mielina, o que por sua vez produz uma inflamação na mesma contribuindo para sua lesão permanente.

Dentre as patologias diretamente ligadas a desmielinização de uma bainha, a mais conhecida de todas é a Esclerose Múltipla, atingindo atualmente 2,5 milhões de habitantes em todo mundo[i].

Com base em nossa pesquisa, constatamos que desde a primeira descrição de uma patologia relacionada com a Bainha de Mielina, feita pelo neurologista francês Jean Martin Charcot em 1.886, esta porção microscópica de nosso Sistema Nervoso se tornou fonte de pesquisas e interesse, em virtude da Bainha de Mielina exercer sobre o ser humano alterações histológicas de ordens degenerativas, que certamente em um futuro próximo irão interferir diretamente, desarticulando movimentos, intelecto, agilidade de pensamento ou raciocínio lógico. Quando se observa um paciente com patologias ocasionadas por uma desmielinização de uma bainha, nota-se todo o transtorno, a dor, o sofrimento e abreviação de uma vida, sem infelizmente encontrarmos cura, apenas medidas paleativas. A Bainha de Mielina com sua irrefutável importância fisiológica, ainda é uma incógnita devido ao cérebro em pleno século 21, ainda tratar-se de um território desconhecido.