A luz desapareceu num sonho colorido pintado em multicores que nós víamos da janela de ambas as almas.

Tarde...Quase noite nessa aurora de fim de dia.

Que venha a guerra. Já ouço sons de trovões logo ali na linha do horizonte próximo, fora do campo de visão de hoje.

Caminhamos juntos às estradas errantes de cada qual. Nada é para sempre. Pondero, entre golfadas de ar. Sufoco a tarde em meu peito.

Piscam as primeiras estrelas da noite que se aproxima. Sorrateira vertigem. Noite escura. É tempo de se ressentir.

Cada passo se dá no compasso das batidas de meu coração. Pulsa o meu pulso, ao sabor do caminhar anônimo por entre as ruas cheias de gente apressada, que não nos veem.

A noite, parece-me nesse momento, é presente em nossa alma, já nessa altura da tarde.

Logo mais, o vento irá zunir dentro de nós. Varrerá os vestígios do dia. Os campos se dobram e farfalham as folhas em uma lembrança. Prescindo o arrepio incômodo que transpassa minha espinha. Mais lembranças de outros tempos, quando eram verdes os vales em que se perdiam as nossas vistas, cobertas da luz ávida de um sol escaldante, companheiro presente em todo o tempo de nossa existência.

Hoje, a escuridão é presente em nosso viver, imagino. Quando desaparece o último raio de sol, engolido pelas nuvens nodosas que encobrem as terras à volta dos olhos. Faz frio agora, aqui fora e aqui dentro. E tudo que percebemos vivo se recolhe dentro de suas moradas próprias, desaparecendo a sua presença. Nada resta de vida nessa nesga de luz, progressivamente diminuta.

Não há mais nada o que ver. Os sons das criaturas da noite despertam sensações de calor de um fogo ancestral que se acende em nosso espírito; quando tudo lá fora é escuro e povoado de impressões auditivas. As fogueiras das noites antigas resplandecem em nosso peito. Aquecem mossas almas esquálidas, em uníssono. Estamos sós em nós mesmos.

Os luzeiros estáticos guiam nossos passos, entrecortados por sinais luminosos. A noite é o dia daqueles que se aventuram na escuridão, por medo de permanecer no escuro!