RESUMO

A avicultura apresentou um desempenho respeitável nos últimos vinte anos no agronegócio brasileiro, especialmente no mercado externo, onde o Brasil se tornou o maior fornecedor de carne de frango mundial. Os ovos ocupam o quinto lugar do ranking das proteínas mais consumidas no mundo, sendo o Brasil o sétimo maior neste cenário. Em termos de produção, destaca-se a Região Sul do país, com evidência ainda maior o Estado do Paraná, em que predomina a avicultura de corte. Diante da relevância da região e suas influências na produção da carne de frango brasileira, uma pesquisa foi implementada, baseada no funcionamento da cadeia produtiva da avicultura de corte e de postura, fundamentada nos anos 90 até a atualidade, evidenciando as inovações tecnológicas que proporcionaram o alcance de altos índices produtivos e que possibilitou a liderança das exportações mundiais. Entretanto, a avicultura encara diversas dificuldades, tais como: alto custo, barreiras tarifárias, higienização dos animais, entre outras. Ainda com tais dificuldades, o Brasil se sobressai enquanto produtor, com resultados positivos. Assim, esse trabalho acadêmico tem o intuito de evidenciar a cadeia produtiva dos frangos e ovos, os mercados nacionais e internacionais, as principais tendências do ramo, oportunidades e desafios.
Palavras-chave: Inovação. Modernização. Custos. Crescimento e Desenvolvimento.

1 INTRODUÇÃO

O agronegócio é o termo designado para o conjunto de atividades relacionadas à cadeia produtiva da agropecuária. No Brasil, esse ramo se tornou o principal pilar da economia, sendo responsável por uma grande escala de produção com capacidade empregadora e geração de renda, tendo destaque em âmbito mundial. Conforme Vieira e Dias (2005), a expressiva parcela do desenvolvimento econômico brasileiro deve-se aos investimentos realizados em proveito da expansão da agricultura, tendo em vista ser uma área dinâmica e que possui capacidade de impulsionar outros setores na economia como transporte, serviços, comércio e agroindústria.
De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (2018) e a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (2018), a relevante participação do agronegócio na economia brasileira pode ser confirmada pelo índice do Produto Interno Bruto do Agronegócio que, mesmo em um cenário econômico de recessão, demonstrou crescimento de 10,5% no setor primário em 2016 e com estimativas de crescimento de 3,4% para 2018. Dessa forma, o agronegócio se sobressaiu positivamente frente ao crescimento do PIB total de 1,0% e em 2018, segundo o Fundo Monetário Internacional (United States, 2018) a perspectiva é de um crescimento de 1,8% em 2018.
O desenvolvimento favorável do agronegócio no Brasil se dá por diversos fatores. No entanto, cabe destacar o importante papel da fertilidade dos solos brasileiros, pois, segundo Maranhão e Vieira Filho (2016), essa característica é o que justifica seu potencial em grande escala de produção.
Nessas circunstâncias, o Brasil se destaca como o segundo maior produtor de soja e o terceiro maior produtor de milho do mundo, conforme divulgado nos levantamentos de safra da Companhia Nacional de Abastecimento (2017). De acordo com Amaral et al (2016), as expansões de lavouras temporárias, como as de milho e soja, contribuíram para o crescimento da produção de carnes no Brasil, pois a agricultura fornece insumos utilizados na cadeia produtiva de carnes, principalmente os compostos de milho e soja; precisamente, o crescimento da agricultura favorece a queda nos custos desses insumos. Conforme Belusso e Hespanhol (2010), o desenvolvimento da avicultura de corte brasileira foi apreciável a partir dos anos de 1970, e se originou a partir da modificação agroindustrial que o Brasil adotou na busca da integração entre a agropecuária e a indústria processadora. Para Vieira e Dias (2005), o Brasil aproveitou o ápice desse crescimento e, em 1980, passou a investir na tecnologia em prol da eficácia genética, que foi adequada para o desenvolvimento de uma produção mais rápida e hábil. Desse modo, o período de 1980 a 1990 foi marcado pela entrada do país no mercado internacional, permitindo grande competitividade e expansão da oferta no mercado externo. Segundo a United States Agency International Development (2010), a carne de frango é segunda carne mais consumida no mundo, além disso, a escolha pelo corte de frango está cada vez mais frequente, as justificativas para esse alto consumo da carne se dão por diferentes fatores. Segundo Vieira e Dias (2005), além do baixo custo, a carne é mais aceitável em âmbitos sociais, principalmente em questões religiosas. Ademais, tem-se o conceito de ser uma carne mais saudável, pelo baixo teor de gorduras, e com mais opções de derivados.
Segundo Maranhão e Vieira Filho (2016), dois fatores se relacionam à expansão da carne de frango no comércio mundial. O primeiro fator é o processo de liberalização, que permitiu a eliminação das barreiras não tarifárias e a diminuição da proteção da indústria local. O segundo foi a criação do Plano Real, que possibilitou o equilíbrio monetário e uma sobrevalorização cambial através da nova política cambial.
Tal cenário é descrito por Paula e Faveret Filho (2003):
O mercado, em 1990, era composto de 147 países importadores e 70 exportadores. Em 2001, eram 174 importadores e 105 exportadores. O mercado consumidor não expandiu suas fronteiras, como podem fazer crer os números, pois, dos 27 novos importadores, 20 são países resultantes do desmembramento da antiga União Soviética ou do Leste europeu. Os novos importadores na Ásia demandaram valores inferiores a US$ 100 mil, e no continente americano diminuiu a quantidade de importadores. (PAULA; FAVERET FILHO, 2003, p.95)
Logo, diante dessa conjuntura vivenciada em 2001, o mercado se expandiu, e conforme dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (BRASIL, 2018), o Brasil, em 2004, tornou-se o maior exportador de carne de frango mundial. O setor continuou em crescimento com índices positivos1. No ano de 2017, os volumes de exportações atingiram cerca de 4,32 milhões de toneladas, o que corresponde a 0,5% a mais se comparado à produção de 2015. Segundo, a Associação Brasileira de Proteína Animal (2016) em 2015 ocorreu um saldo acumulado dos embarques de frango, que resultou em um recorde histórico nas exportações da carne atingindo 4,304 milhões de toneladas. Prontamente, os maiores importadores da carne de frango brasileira foram Arábia Saudita, China e Japão.
Outro elemento importante na cadeia produtiva de frango é a avicultura de postura, assim como a de corte, é um destaque na economia mundial e no Brasil. De acordo com os infográficos divulgados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (BRASIL, 2018), a fabricação de ovos posiciona o país como o sétimo maior produtor mundial. Para Amaral et al (2016, p. 168), “existem duas finalidades de produção do ovo: encubação, que proporciona a reprodução das aves de corte e de postura; e o consumo destinado para as famílias de modo direto ou indireto”. Logo, a produção de ovos depende de um conjunto de insumos do mesmo modo que a de corte. Dentre eles, o de grande relevância é a genética, pois essa determina, através de suas linhagens, as características das poedeiras, avaliando a sua capacidade para destiná-las ao seu sérvio, como postura, conversão de ração em ovos, resistência de doenças, entre outros fatores (AMARAL et al, 2016). Nesse sentido, Amaral et al (2016) descrevem a construção da árvore genealógica para se obter o ovo de qualidade:
A cadeia produtiva se inicia com a obtenção da fonte genética: o fornecimento das aves bisavós, que gerarão as avós, que serão cruzadas gerando as matrizes, as quais geram os ovos que se destinam aos incubatórios, onde nascem as pintainhas. Adota-se em grande escala a incubação artificial, em que a galinha é substituída por máquinas incubadoras elétricas automáticas. Os produtores de ovos adquirem essas pintainhas dos centros de incubação já vacinadas de acordo com suas especificações. (AMARAL et al, p. 174)
Conforme Vieira e Dias (2005), no Brasil, os principais investimentos das matrizes de produção ocorreram no Sul, uma região de grande produção de milho e de crescente produção de soja, do mesmo modo em Minas Gerais e São Paulo. Somente no Paraná, encontram-se 31% dos abates de frango, segundo dados do Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Estado do Paraná (2017).
Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (BRASIL, 2018), no ano de 2017 o Brasil produziu o total de 39,9 bilhões de unidades e saiu de oitavo para sétimo produtor mundial, o consumo per capita é de 192 ovos. Esses números favoráveis estão de acordo com a vertiginosa adaptação das sedes de produção. Assim, “a capacidade de rápido ajuste no alojamento de matrizes para a produção dessas aves possibilita ao setor adequar a oferta à demanda em aproximadamente seis meses, o que favorece o setor” (PAULA; FAVERET FILHO, 2003, p. 99).
Conforme Belusso e Hespanhol (2010), a avicultura brasileira tem sido um grande êxito no agronegócio devido a sua rápida expansão e desenvolvimento. Logo, Belusso e Hespanhol (2010) reconhecem que esse sucesso deve-se às tendências de inovações em padrões tecnológicos e aos investimentos na genética que proporcionaram a amplificação dos aviários já existentes.
Bassi, Silva e Santoyo (2013) definem inovação como a adesão de novos modelos tecnológicos e conhecimento de mercado, para oferecer um novo produto ou serviço para os consumidores. Desse modo, pode-se dizer que as modificações tecnológicas no complexo agroindustrial avícola estão relacionadas com diversos fatores como: as mudanças no padrão de consumo, o acirramento da concorrência internacional, a estagnação no mercado internacional, além da concentração de mercados e surgimentos de novas tecnologias, que estimularam a reestruturação agroindustrial, com a eclosão de vários grupos agroindustriais ligados ao mercado externo.
Diante disso, Bassi, Silva e Santoyo (2013) explicam que as inovações tecnológicas na cadeia produtiva de frango são divididas em três segmentos, o primeiro, constitui na transformação da estrutura organizacional da cadeia produtiva de aves, o segundo estabelece na dinâmica tecnológica agroindustrial avícola e o terceiro institui nas pesquisas públicas utilizadas em prol da desenvoltura desta cadeia.
A evolução da avicultura de corte está vinculada ao desenvolvimento tecnológico, que incorporou tanto as transformações dos animais, via melhoramento genético e nutricional, quanto às do processo, que passou a utilizar tecnologias voltadas à produção flexível para produtos industrializados. O emprego de tecnologia de ponta constitui-se no elemento central do desenvolvimento do segmento nos últimos anos. Dentre as cadeias produtivas do agronegócio brasileiro, a de carne de aves configura-se dentre aquelas que mais incorporaram novas tecnologias nas duas últimas décadas. (BASSI, SILVA e SANYOTO, p. 397)
Portanto, Viera e Dias (2005) ressaltam que as inovações nos processos de estruturação da avicultura, através das políticas introduzidas e das modificações tecnológicas, foram positivas, permitindo um melhor controle na matéria prima, economias de escalas, redução de custos e diminuição de riscos na atividade. Tais fatores induziram a expansão no mercado, tornando o Brasil um grande competidor mundial.
Nesse contexto, Belusso e Hespanhou (2010) descrevem o motivo do qual a expansão da avicultura brasileira, e o seu segmento significativo nos anos 80 e 90 na indústria de carnes no Brasil.
Com a abertura comercial brasileira na última década, os setores produtivos estavam expostos à competição internacional, permitindo que a avicultura industrial se ampliasse em prol de uma eficiência forçada pela concorrência, mediante as exigências do mercado externo. Entretanto, para se manter no mercado competitivo, foi necessário incorporar tecnologias avançadas para maior controle de produção (BELUSSO; HESPANHOL, p.30).
Precisamente, de acordo com Belusso e Hespanhol (2010), o desenvolvimento da avicultura foi em virtude dessa inovação tecnológica. Conforme Bassi, Silva e Santoyo (2013), a agroindústria é o setor que mais se utiliza das tecnologias elaboradas pelos demais segmentos da cadeia produtiva de aves. Desse modo, o estudo baseado nessa ampliação e o conhecimento aprofundado no processo de inovação tecnológica na cadeia produtiva se mostra significativo, principalmente a comparação da trajetória, desde o início de sua industrialização nos anos 70, até a última década, em que ocorreu o ápice das exportações, além das formulações estratégicas e políticas públicas utilizadas no auxílio desse desenvolvimento.
De acordo com Maranhão e Vieira Filho (2016), as mudanças dinâmicas na cadeia produtiva na avicultura brasileira e no consumo da carne de frango foram tão descomunais que possibilitaram que o Brasil liderasse as exportações mundiais em 2004, tornando-se também o segundo maior produtor. Diante dessas alterações, é relevante analisar os impactos consequentes a essa reestruturação.
Dessa maneira, também é viável o entendimento dessas transformações que introduziram os novos processos produtivos, pois tais mudanças impactaram decisivamente na competitividade do setor, além de modificar as relações de trabalho dentro das empresas. Dessa forma, fica evidente a relevância de investigar os impactos causados pela inovação tecnológica no setor do agronegócio brasileiro durante no período de 1990 a 2016.
Por conseguinte, o objetivo deste trabalho dispõe-se em analisar o desenvolvimento e desempenho econômicos da produção da avicultura na economia brasileira, de 1990 a 2016, analisando os principais fatores que possibilitaram a expansão do setor no mercado interno e externo. Com a finalidade de conceber a proposta do trabalho descrito acima, é necessário investigar os impactos econômicos ocasionados pelas transformações tecnológicas na infraestrutura da cadeia, equipamentos e maquinários; Diante dessas análises, será possível descrever as inovações que contribuíram para o desenvolvimento das exportações da avicultura brasileira; com o intuito de descrever a evolução da produção e exportação na atividade avícola brasileira, especificando a produção de frangos e derivados e o seu destino, a partir dos anos 90.
A relevância da pesquisa baseia-se no desenvolvimento das exportações no setor avícola e sua eficácia para a economia brasileira, sendo um forte gerador de empregos e fonte de riquezas. Entretanto, tais características não estão relacionadas somente com o dinamismo do agronegócio no Brasil. Esse desempenho econômico pode ser considerado, de acordo com Vieira e Dias (2005), um ícone do crescimento e modernização do agronegócio no Brasil, pois a estrutura da avicultura é formada por uma alta tecnologia, eficiência na sua produção e diversificação no consumo.
Paula e Faveret Filho (2003) afirmam que a estruturação em todos os elos da cadeia produtiva de frango nos últimos anos favoreceu os insumos agrícolas e pecuários, por consequência do desenvolvimento genético e adequação sanitária – que possibilitou a modernização do abate e da industrialização, além da expansão da logística de transporte e distribuição até o consumidor final. Mediante essa evolução, Belusso e Hespanhol (2010) justificam que, no final dos anos 90, diante do progresso tecnológico relacionado aos estudos da biotecnologia e engenharia genética, o Brasil acompanhou essas inovações, tornando-se competitivo no cenário internacional.
Conforme Maranhão e Vieira Filho (2016), essas transformações foram decorrentes ao interesse das grandes empresas e cooperativas em realizar investimentos, gerando um excedente de produção em relação ao consumo interno, o qual passou a ser direcionado para o consumo externo. Diante disso, é necessária a análise dessas modificações no setor, para compreender tanto o que motivou as exportações e posicionou o mercado brasileiro como o maior fornecedor da carne, quanto os impactos econômicos e sociais que podem justificar o aumento do consumo da carne e seus derivados.
Maranhão e Vieira Filho (2016), declaram que o desenvolvimento da avicultura de corte, pode promover bem-estar para a sociedade e contribuir para a estabilidade dos indicadores econômicos. Os mesmos destacam que a cadeira produtiva de frango, tem o poder de elevar o nível de investimento em infraestrutura e ampliar a oferta de serviços prestados a sociedade. Por fim, os autores concluem que para se obter grandes escalas produtivas requer boa administração, de modo consequentemente possa gerar benefícios e não males para a sociedade. Desse modo, esse tema merece ser explorado, de modo que possa auxiliar a sociedade a compreendê-lo. [...]