DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM EXPRESSIVA POR MEIO DA MUSICA NAS UNIDADES DE EDUCAÇÃO INFANTIL.

 

 

Elça dos Santos Machado[1]

Gean karla Dias Pimentel[2]

Jucelma Lima Pereira Fernandes[3]

Raquel Rocha Drews Valadares[4]

Ruth Rocha Drews Rodrigues[5]

Valquíria Rodrigues Dias[6]

 

 

A linguagem musical é excelente meio para o desenvolvimento da expressão, do equilíbrio, da auto estima e autoconhecimento, além de poderoso meio de integração social.                                                                                         (Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil - RCNEI, p. 49, v.3 1998). Nesta ótica, ao trabalhar com a música deve-se considerar portanto, que ela é um meio de expressão e forma de conhecimento acessível as toda criança, inclusive aquelas com necessidades especiais.

Vivemos num mundo visual e sonoro, cheio de cores, movimentos, sons e uma série de elementos da Arte presentes no nosso cotidiano, onde reagimos a estes elementos de diferentes maneiras de acordo com a personalidade, humor e o significado que determinado elemento artístico tem para cada um de nós. Ou seja, a música está presente no nosso dia a dia, na televisão, nas ruas, nas igrejas, nos consultórios, no cinema, no carro e também nas escolas e nós nos relacionamos com ela sendo músicos profissionais ou “leigos apaixonados”.

Diante tantas opções musicais, enquanto professores, usamos a música em vários momentos, como um recurso para ensinar fórmulas, para decorar seqüências numéricas, disciplinarmos, ensinar lições morais e injetarmos motivação em nossas crianças. Entretanto, precisamos refletir sobre qual o valor do ensino da música nas escolas.

Podemos aprender música de várias maneiras. É possível freqüentar aulas particulares de instrumento, técnica vocal, tocar em uma banda, cantar num coral. Todas estas atividades podem se tornar ambientes, isto é, para a vivência e a aquisição do conhecimento musical.

De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil- RCNEI (BRASIL, 1998), o ambiente sonoro, assim como a presença da música em diferentes e variadas situações do cotidiano fazem com que os bebês e crianças iniciem seu processo de musicalização. Dessa forma, a vivência musical promovida pela musicalização permite à criança o desenvolvimento da capacidade de expressar-se de modo integrado, realizando movimentos corporais enquanto canta ou ouve uma música. Diante isso, o canto deve ser é usado como forma de expressão e não como mero exercício musical.

O termo “musicalização infantil” adquire, então, uma conotação específica, caracterizando o processo de educação musical por meio de um conjunto de atividades lúdicas, em que as noções básicas de ritmo, melodia, compasso, métrica, som, tonalidade, leitura e escrita musicais são apresentadas à criança por meio de canções, jogos, pequenas danças, exercícios de movimento, relaxamento e prática de pequenos conjuntos instrumentais (Brito, 1998 apud JOLY, 2003, p. 116).

De acordo com Feres (1989) “dizer que uma pessoa é musicalizada significa dizer que ela possui sensibilidade para os fenômenos musicais e sabe expressar-se por meio da música cantando, assobiando ou tocando um instrumento etc.” (Feres, 1989 apud Joly, 2003, p. 116). Assim, não apenas as crianças podem ser musicalizadas, mas qualquer ser humano de qualquer faixa etária pode passar por esse processo de contato significativo com a música seja numa banda ou num coral.

Em consonância a isso, o educador musical canadense, Schaffer (1991), complementa essa ideia afirmando que situações sonoras do nosso cotidiano podem ser levadas para a sala de aula no contexto da musicalização. Em seu livro, Paisagem sonora, evidencia os sons que nos rodeiam e suas características. É como se o ouvido acordasse para aquilo que se ouve, mas não se escuta; ao som que está presente, mas não é notado. 

Engana-se aquele professor que acredita que para realizar o trabalho com música na escola necessita executar um instrumento. Claro que o domínio de algum instrumento viabiliza algumas ações e oferece outras opões de trabalho, mas não é extremamente necessário já que nascemos com um valioso instrumento musical: a voz. A voz bem usada na sala de aula proporciona rica vivencia musical e a execução de atividades que não precisam de nenhum outro recurso material. (https://www.veracruz.com).

Deve-se estar atento, no entanto, para o fato da musicalização ser um processo constituído de elementos especificamente musicais. Um professor que canta com seus alunos durante a entrada na sala de aula está oferecendo um tipo de vivência, mas essa vivência não pode se limitar apenas a essa atividade. O professor bem fundamentado usa esse momento de vivência do cotidiano na escola conectado a outros momentos em que a criança tem a oportunidade de criar e/ou compreender conceitos musicais a partir da vivência.

Sabemos que a música tem a capacidade de acalmar, concentrar e disciplinar. Entretanto, temos na musicalização uma riqueza que deve ser explorada em sua totalidade, pois fica empobrecida se o foco estiver apenas na capacidade de acalmar ou na concentração. Acalmar e produzir a concentração são apenas conseqüências das inúmeras contribuições do ensino e aprendizagem em música. O ensino de música é de extrema relevância, pois propicia o desenvolvimento da sensibilidade, da motricidade, do raciocínio e da memória auditiva. (Del bem; Hetscheke, 2002 apud HUMMES, 2004, p. 22).

Há que se compreender também que a educação musical não visa à formação do músico profissional. O objetivo da música, entre outros, é auxiliar “no processo de apropriação, transmissão e criação de práticas músico-culturais como parte da construção de sua cidadania” (Del bel; Hentschke, 2003, p. 181).

De acordo com Brito (1998 apud Joly, 2003, p. 116), aprender música significa “ampliar a capacidade perceptiva, expressiva e reflexiva com relação ao uso da linguagem musical”.

É importante destacar que a música deve estar presente na escola como um dos elementos formadores do indivíduo. Para que isso aconteça é imprescindível que o professor “seja capaz de observar as necessidades de seus alunos e identificar, dentro de uma programação de atividades musicais, aquelas que realmente poderão suprir as necessidades de formação desses alunos” (Joly, 2003, p. 118).

De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil- RCNEI (Brasil,1998) o trabalho com música deve organizar-se de forma que as crianças desenvolvam as seguintes capacidades: ouvir, perceber e discriminar eventos sonoros diversos, fontes sonoras e produções musicais; brincar com a música, imitar, inventar e reproduzir criações musicais; explorar e identificar elementos da música para se expressar, interagir com os outros e ampliar seu conhecimento do mundo; perceber e expressar sensações, sentimentos e pensamentos, por meio de improvisações, composições e interpretações musicais.

No documento citado é na Educação Infantil que as crianças devem começar a vivenciar ritmos, gestos, jogos motrizes através de canções e danças. Sendo assim, os conteúdos devem ser organizados em dois blocos, o fazer musical e a apreciação musical que abarcarão, também, questões referentes à reflexão.

O fazer musical

a) O Fazer Musical de crianças de zero a três anos

Exploração e produção do silêncio e de sons com a voz, o corpo, o entorno e materiais sonoros diversos; interpretação de músicas e canções diversas; participação em brincadeiras e jogos cantados e rítmicos.

b) O Fazer Musical de crianças de quatro a seis anos

Reconhecimento e utilização expressiva, em contextos musicais das diferentes características geradas pelo silêncio e pelos sons: altura (graves ou agudos), duração (curtos ou longos), intensidade (fracos ou fortes) e timbre (característica que distingue e “personaliza” cada som).

Reconhecimento e utilização das variações de velocidade e densidade na organização e realização de algumas, produções musicais; participação em jogos e brincadeiras que envolvam a  dança e/ou a improvisação musical; repertório de canções para desenvolver memória musical.

A apreciação musical

a) Apreciação Musical de crianças de zero a três anos

A apreciação musical refere-se à audição e à interação com músicas diversas: escuta de obras musicais variadas; participação em situações que integrem músicas, canções e movimentos corporais.

b) Apreciação Musical de crianças de quatro a seis anos

Escuta de obras musicais de diversos gêneros, estilos, épocas e culturas, da produção musical  brasileira e de outros povos e países; reconhecimento de elementos musicais básicos (frases, partes, elementos que se repetem etc.- a forma); informações sobre as obras ouvidas e seus compositores para iniciar seus conhecimentos sobre a produção musical.

Jogos e brincadeiras

“Escravos de Jó jogavam o caxangá, tira, põe, deixa o Zambelê ficar!

Guerreiros com guerreiros, fazem zigue, zigue, zá.

Guerreiros com guerreiros,fazem zigue, zigue, zá”. (Jogo/canção popular).

Canção ou jogo? Tanto faz, se um ou outro, ou mesmo os dois, e também brincadeira, que por sua vez pede um objeto, que pode ser caracterizado por brinquedo, pois durante toda canção, há um jogo de movimentos com as mãos e com objetos, que fazem seus zigs e zags.

Segundo o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil, Brasil (1998, p. 70), a música mantém uma forte ligação com o brincar. Em todas as culturas as crianças brincam com a música. Jogos e brinquedos musicais são transmitidos por tradição oral, envolvendo o gesto, o movimento, o canto, a dança e o faz-de-conta, esses jogos e brincadeiras são expressões da infância.

Os jogos e brinquedos musicais da cultura infantil incluem os acalantos, as parlendas, as rondas (canções de roda), as adivinhas, os contos, os romances e outras.

As fontes sonoras

Consta no o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil, Brasil (1998, p.72-73) que o trabalho com a música deve reunir toda e qualquer fonte sonora: brinquedos, objetos do cotidiano e instrumentos musicais de boa qualidade. É preciso lembrar que a voz é o primeiro instrumento e o corpo humano é fonte de produção sonora.

O professor deve estar atento à faixa etária de seus alunos quando for propor uma atividade. O trabalho musical a ser desenvolvido nas instituições de educação infantil deve incluir materiais simples do dia-a-dia ou presentes na cultura infantil.

Os brinquedos sonoros e os instrumentos de efeito sonoro são materiais bastante adequados ao trabalho com bebês e crianças pequenas. Com relação aos brinquedos, devem-se valorizar os populares relativos às regiões onde vivem e, também, explorar timbres variados tais como: sons de pássaros, sinos, brinquedos que imitam sons de animais dentre outros.

 Não é aconselhável que a criança de educação infantil seja treinada para a leitura e escrita musical, o mais importante é que ela possa ouvir, cantar e tocar muito, criando formas de notação musicais com a orientação dos professores. 

As qualidades do som

As crianças nos primeiros anos de vida dão importância a toda e qualquer fonte sonora, sendo assim, exploram sons diversos. Se interessam pelos modos de ação e produção dos sons, sendo que sacudir e bater são os primeiros movimentos.

De acordo com  o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil, Brasil (1998), as crianças estão sempre atentas as características dos sons ouvidos e produzidos, se gerados por um instrumento musical, pela voz ou qualquer objeto, descobrindo possibilidades sonoras com todo o material acessível.

Nesta fase a característica mais marcante da criança é a exploração dos sons, portanto, um ótimo momento para trabalhar as qualidades dos sons, ou seja altura, duração, intensidade e timbre.

A criança com um instrumento musical, naturalmente irá explorar as qualidades dos sons:  os registros graves ou agudos (altura),  as batidas fortes ou fracas (intensidade), a produção de sons curtos ou longos (duração), e a percepção das fontes sonoras, isto é,  dos diferentes tipos de sons – animais (latido, miado), seres humanos, (voz, risadas, espirro), sons culturais (buzina, sirene, sino) e fenômenos naturais, (trovão, som da cachoeira, do vento),reconhecendo os diferentes tipos de sons, isto é, seus timbres. Quando percebe uma sirene, está reconhecendo o timbre ou quando distingue o latido de um cachorro, um gato miando, um pássaro cantando, está reconhecendo timbres diferenciados. (https://www.passeidireto.com). Sobre esse aspecto e do ponto de vista lingüístico, como afirma Platão, coloca-se essencialmente o desenvolvimento das diferentes formas de representação verbal na linguagem musical.

É neste sentido que a criança canta, dança, representa, imagina, cria e fantasia sua própria expressão de comportamento e sentido. De acordo com Gainza” a linguagem musical é aquilo que conseguimos concretizar ou aprender a partir da experiência”. (1988:119).

A vivência na música, de certa forma, trabalhada na escola, no primeiro contato com a realidade musical, cada criança demonstra interesses diferentes, fica como sugestão, que os professores procuram inserir a música no seu planejamento diário por considerá-la por ser uma atividade que valoriza a linguagem musical e que destaca sua autonomia, valor expressivo corporal (jogos de improvisação, interpretação e composição).

Vale ressaltar, que o docente ao trabalhar a música deve ser de forma lúdica e prazerosa, envolvendo gestos, movimentos, canto e o faz de conta.Entretanto, poderá ter professores com algumas dificuldades, por considerar que não dispõem de recursos para trabalhar a linguagem musical de maneira adequada a cada faixa etária.

Quando, finalmente, compreendemos e traduzimos para dentro de nosso ser, os conceitos de criança, educação, cidadania, identidade, autonomia; nossa prática educativa nos centros de educação é espontaneamente projetada para transpor muitas barreiras.

É Importante que todos os profissionais do ensino estejam compromissados em estar sempre buscando recursos pedagógicos e transferi-los as crianças no seu crescimento e desenvolvimento, tem que buscar proposta que seja eficaz que venha favorecer a aprendizagem levando ao conhecimento do mundo. Nesse sentido o educador precisa usar de variados procedimentos, procurando manter-se informado, fazendo formação continuada.

 Concluímos que o educador pode trabalhar a música em todas as demais áreas da educação, deve associar a música com temas específicos como números, poesias, folclore, gramática. através da música, exige do professor, habilidade e competência para criar situações que levem a criança, construir os seus conhecimentos. Uma vez que, a música favorece o desenvolvimento da expressão artística além de despertar nas crianças o prazer pela audição, contribuindo para a livre expressão de sentimentos.

REFERENCIAS BLIBLIOGRAFICAS

ANDRADE, Klésia Garcia e CAVA, Laura Célia S. Cabral. Fundamentos e metodologias do ensino das artes e da música. In: UNIVERSIDADE NORTE DO PARANÁ. Curso de pedagogia: módulo 4. Londrina: Unopar, 2007.

BECKER,Rosane N. Musicalização da Descoberta à Consciência Rítmica e Sonora. Parana, 2005.

BEYER (2001 apud HUMMES, 2004, p. 23).

BRITO, Teca, Alencar, Música na Educação Infantil: propostas para formação integral da criança. 2ª ed. São Paulo: Peirópolis,  2003.

DEL BEN, Luciana; HENTSCHKE, Liane. Aula de Música: do planejamento e avaliação à pratica educativa. In: Ensino de Música – propostas para pensar e agir em sala de aula. São Paulo: Moderna, 2003, p.176-189.

FERES,Jostte S. M. Bebês. Música e Movimento: Orientação para Musicalização Infantil. Jundiaí, SP:JSM.1998.

GAINZA, V.H.D. Estudos de psicopedagogia musical. São Paulo, Summus,1988.

ILARI, Beatriz (adapt); MC DONAL; SIMON S. M. 1989; Desenvolvimento Musical MENC Standards, 1990; TAFURI, 2000; TREHUB & TRAINOR, 1990.

 

JOLY, IlzaZenker Leme. Educação e educação musical: conhecimentos para compreender a criança e sua relação com a música. In: Ensino de Música – propostas para pensar e agir em sala de aula. São Paulo: Moderna, 2003, p.113-140.

 

________- Referencial Curricular da Educação Infantil, MEC,1998.

 

SCHAFER, R. M. O ouvido pensante. São Paulo: Unesp, 1991.

 

VYGOTSKY, L.S; LURIA, A.R. & LEONTIEV, A.N. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone: Editora da Universidade de São Paulo, 1998.

 

WERLE, K. Sonorizando historias e discutindo a educação musical na formação e nas praticas de pedagogas. Musica na Educação Basica. V. 3, n.p. 84-95,2011.

 

[1] Graduada em: Pedagogia e Ciências Biológicas; Especialista em Educação Infantil e professora na Rede Municipal de Ensino Público na cidade de Rondonópolis.

[2] Graduada em: Pedagogia; Especialista em Psicopedagogia e professora na Rede Municipal de Ensino Público na cidade de Rondonópolis.

[3] Graduada em: Pedagogia; Especialista em Psicopedagogia e professora na Rede Municipal de Ensino Público na cidade de Rondonópolis.

[4] Graduada em: Pedagogia; Especialista em Psicopedagogia e professora na Rede Municipal de Ensino Público na cidade de Rondonópolis.

[5] Graduada em: Letras; Especialista em Psicopedagogia e professora na Rede Estadual de Ensino Público na cidade de Rondonópolis.

[6] Graduada em: Pedagogia; Especialista em Psicopedagogia e professora na Rede Municipal de Ensino Público na cidade de Rondonópolis.