Desenlace

 

            Eva era uma moça muito responsável em seu trabalho. Mesmo sendo funcionária pública concursada cumpria seus deveres de maneira quase obsessiva. Da mesma forma levava sua vida particular. Mais velha de três filhas morava com a família. Nunca tivera um namorado, só ficantes. Sua mãe trabalhava como diretora numa escola noturna. Chegava muito tarde da noite, em casa, pois as reuniões após as aulas eram freqüentes. Eva mais velha de três filhas morava com a família e era encarregada de fazer a janta para as irmãs e o pai que era asmático e  trabalhava o dia inteiro. Eva nunca tivera um namorado, só ficantes.

            Naquela segunda-feira haveria uma troca de chefia em seu setor, pois a atual se aposentara. Os colegas estavam preocupados com a mudança. Como seria o novo chefe? Em meio às interrogações chegou Beto, apresentado como o novo diretor do departamento. Eva ao olhar o rapaz que aparentava no máximo quarenta anos, quase desmaiou. Era o homem que sempre sonhara. Igual ao seu ídolo Richard Gere. Enamorou-se na mesma hora.

            Beto mostrou logo ser um chefe justo e ao mesmo tempo gentil com seus comandados. Eva cada vez mais encantada. Lançava-lhe olhares lânguidos. Mudou sua forma de vestir. Usava saias curtas que salientavam suas bem torneadas pernas e decotes ousados, na tentativa de seduzi-lo. Já não era mais tão eficiente no trabalho, causando estranheza aos colegas. Sonhava o tempo todo com o momento em que ele a olharia com outros olhos, não só os de chefe.

            Certo dia, Beto perguntou se Eva não poderia ficar além do horário de trabalho, para terminarem uma tarefa. Era tudo que ela desejava, mas não seria possível pelas obrigações familiares. Eva prometeu que nas próximas vezes que necessário fosse, comunicaria antes em casa para tomarem outras providências.

            Daí em diante, ela sentiu que o chefe olhava com carinho para ela. Falava-lhe com a voz aveludada, parecendo demonstrar-lhe afeto e admiração. Eva totalmente apaixonada, nem dormia mais à noite. Só esperava o dia da desejada declaração por parte dele.

            Os colegas já percebiam o tratamento diferente que Eva recebia.  Ela resolveu contar em casa a sua paixão. Sua mãe pareceu assustada e disse-lhe que tinha receio de que ele estivesse brincando com os sentimentos da filha.

Beto começou a trazer presentes para Eva. Eram bombons, rosas e até uns brincos de ouro, no dia de seu aniversário. Ela agora tinha certeza de que seu chefe lhe correspondia ao afeto e logo estariam namorando. Sonhava dormindo e acordada. Até chegou a pensar estar delirando, quando olhou sua irmã mais nova e achou traços de Beto nela. Que loucura, disse a si mesma, qualquer dia eu vou vê-lo em todas as pessoas.

           

            Numa noite de inverno o pai de Eva, teve uma forte crise de asma. Ela pegou às pressas o carro na garagem e dirigiu-se à farmácia mais próxima para buscar a bombinha que terminara.  No trajeto passou por um motel que ficava quase ao lado da drogaria. Seus olhos paralisaram quando viu o carro de Beto saindo do mesmo. Parou e colocando os faróis para ver quem estava com ele, reconheceu sua mãe aos beijos com seu amado chefe. E que paixão demonstravam. Parecia não desgrudarem os lábios, como se colados estivessem. Com a luminosidade provocada por Eva, os dois se soltaram surpresos e a reconheceram.

Eva arrancou o carro à alta velocidade. Em desespero, só pensou em vingança. Afundou o pé no acelerador, enquanto enlouquecida gargalhava.

Themis