Desenho curricular, programação e desenvolvimento de competências

Artigo/texto produzido e apresentado ao Curso de Mestrado em Educação à Fundação Universitária Iberoamericana – FUNIBER/UNINI

Por: Sydney Pinto dos Santos[1]

Introdução 

Sabe-se que, como profissionais da educação, como acadêmicos de cursos superiores, ou discentes de cursos de formação continuada ou de complementação, que, o currículo não se restringe apenas ou se deve limitar aos conteúdos programáticos de um determinado componente curricular dado a um período de estudo ou curso; porém deve ser entendido como algo mais expressivo, mais atuante, mais contundente e eficaz, e que não deve está simplesmente “amarrado” na grade currículo, ou no planejamento curricular das escolas ou das instituições de ensino, ou ainda fazendo parte do Projeto Político Pedagógico da escola.

Ele, o Plano ou Projeto Curricular ou mesmo o desenho curricular, deve está muito além dos muros das instituições formadores ou construtoras da aprendizagem ou mesmo do ensino. Pois, acredito, que este desenho curricular, deve partir da premissa de que outras instituições, como a própria família, a igreja; visto que as mesmas, desde tenra idade do indivíduo, interagem e possibilitam um tipo de socialização que permitem também o aprendizado, via educação; diferentemente da escolarização atribuída à escolas e instituições educacionais.

Logo, pensar em desenho ou projeto curricular, com suas estratégias, intervenções, ações didático-pedagógicas, assim como métodos e estratégias didáticas em ensinar, se faz necessário mergulhar em outros campos que se conectam com a escola, como o meio produtivo do ensinar, com as expectativas concernentes ao aprendizado com o fim de conhecimento. Conhecimento este, que certamente advém desde as relações conjugadas do ambiente familiar com outros espaços, inclusive com a realidade e o modelo de convivência a qual esta família está inserida.

Ou seja, para haver a contextualização de um projeto curricular que tenha em suas bases, procedimentos e estratégias que venha surtir efeitos positivos, não se deve pensar apenas nas ações e intervenções das unidades e das instituições de ensino em si, mas de todo um contexto socioeducacional que interaja e consiga colocar em prática ações contundentes, e que veja um indivíduo, mesmo advindo das classes menos assistidas como um instrumento real de mudança, em si e para os subconjuntos da sociedade a qual faz parte.

 

A importância do currículo para o processo de ensino-aprendizagem

Em 2021, em um artigo, intitulado de “BNCC NA EDUCAÇÃO INFANTIL: BENEFÍCIOS, REFERENCIAL TEÓRICO, EXPERIÊNCIA CURRICULAR, DESAFIOS E ASPECTOS POSITIVOS/NEGATIVOS”, no qual eu abordava sobre os reflexos que a nova lei diretiva da educação no Brasil, em consonância com as ações dos docentes, poderiam trazer de benefícios para os educandos; sendo que:

Quando se fala em currículos, precisamos entender mais do que as suas intervenções diretamente dentro dos espaços escolares, e também na perspectiva do aluno, mas sim em um contexto muito maior, que abranja no somente o interior dos educandários, mas também os segmentos extra-escola que interagem com o processo educacional, como a família, tendo como exemplo. Ou seja, precisa-se entender que currículo, não é apenas conteúdos e componentes curriculares, mas todas as variáveis que interagem e intervém para o sucesso do processo ensino-aprendizagem.

Quero dizer que, os resultados de um currículo educacional ou escolar, não estaciona exclusivamente na ação educativa, mas nas intervenções diretas e indiretas de um número sem-fim de segmentos nos quais o aluno como indivíduo está integrado; fazendo com que estes conhecimentos prévios e adquiridos ante-escola, servem como instrumento de facilitação de seu aprendizado escolar. Pois, podemos citar como exemplos clássicos, os alunos que interagem com livros no seu espaço de vivência, ou com outro tipo de instrumento de saber; assim como daqueles alunos que desde pequeno interagem e vivenciam com as aulas dominicais ou algo assim, na sua interação religiosa.

Assim, precisamos entender que, quando se fala em elaborar um currículo que atenda as expectativas do processo educacional, assim como de seus atores ou agentes, inclusive os discentes, não podemos deixar de atrelar este trabalho a um planejamento solido e coerente, pois ambos, podem até ser diferentes, mas não desvinculados entre sim, pois entendo como processo convergentes e direcionados a mesma finalidade dentro de um propósito: a educação/escolarização.

Pois, segundo Santos (2021):

planejar significaria neste ponto, estabelecer critérios que pudessem colaborar com a execução de procedimentos, os quais não pudessem fugir das normas ou mesmo das orientações a serem seguidas. Desenvolver um planejamento que possa colaborar com os procedimentos até chegar aos objetivos ou resultados esperados, requer muita dedicação, paciência, uma releitura "dos caminhos".

Logo, falar em importância do currículo, significa dizer que:

Além de reunir as disciplinas e os conteúdos a serem implementados e cumpridos pelas escolas, ele é importante para estabelecer os objetivos de aprendizagem em cada etapa, bem como sua sequência lógica para a construção do conhecimento. O objetivo é ajudar os alunos no enfrentamento dos desafios do mundo atual como cidadão participativo, reflexivo e autônomo, conhecedor de seus direitos e deveres, a partir da educação democrática. (SAE DIGITAL, 2021)

 

Vantagens da aplicação do currículo no processo educacional

Deve-se considerar que, o currículo escolar ou educacional, quando bem desenhado, aplicado e com o propósito de mudanças de comportamentos e de resultados, podem dar ênfase a um trabalho socioeducacional eficiente, pois:

precisamos ter sim, um planejamento curricular que, venha atender em tese as necessidades e expectativas dos vários segmentos que compõem o processo educativos, como os dos docentes, da escola, da didática- pedagógica, da família, dos discentes a serem incluídos, dos discentes, assim como das ferramentas que hoje interferem positivamente no aprendizado do aluno... (...) Ou seja, o planejamento dos trabalhos no espaço escolar deve ser mais do que uma tentativa de repassar conteúdos, de fechar grades de disciplinas ou componentes curriculares, ou de receber os alunos de uma forma lúdica e dinâmica; pois, o trabalho vai muito além disto, inclusive entender as particularidades dos alunos, e das suas relações com a família e da comunidade o qual este interage diariamente. (SANTOS, 2021)

Assim, falar em vantagens propriamente concretas, precisa-se, antes de quaisquer coisas, fazer um diagnóstico geral das relação e inter-relações existentes entre as instituições extra-ambiente escolar e a própria comunidade escolar, e assim, traçar estratégias, juntamente com planos ou projetos de ações e/ou mesmo intervenções que possibilitem contornar os obstáculos ou barreiras, os quais impedem que haja uma aprendizagem a altura, e desta forma, fomentando as expectativas e possibilidades de um aprendizado dentro de um proposito real e satisfatório.

Logo, as principais vantagens que podemos relacioná-las em relação a um currículo escolar, sendo ele estratégico e atuante para o desenvolvimento das habilidades, tanto do docente, quanto dos discentes, são:

  • Autonomia no trabalho e na produção, tanto do docente e dos discentes;
  • Participação mais ativa dos familiares no processo ensino-aprendizagem;
  • Elaboração e execução de ações didático-pedagógicas com fins promissores;
  • Desenvolvimento de um trabalho voltado para averiguação dos aspectos e fatores intervenientes extra-escola, que implicam nos resultados do aprendizado na escola.
  • Percepção mais aguçada e voltada para a sociedade e os campos extra-escola;
  • Elaboração de um PPP, voltado para um conjunto mais amplo e interacional à comunidade escolar, e não apenas a ela.

Desvantagens do currículo no processo de ensino-aprendizagem 

Quando falamos em desvantagens, em relação ao desenvolvimento ou desenho de um currículo, precisamos atentar, não somente para as relações aluno x professor, ou aluno x ambiente escolar; porém, para algo mais profundo como a relação escola x família. Família x professor; comunidade extra – escola x profissionais atuantes no espaço escolar. Pois, acredito que são nestas relações e interações que existem os processos, ferramentas e ações que realmente funcionarão como um termômetro para a evolução da aprendizagem nos espaços escolares, e consequentes aos educandos e/ou, mais para frente, aos acadêmicos.

Assim, sendo um currículo mal elaborado, fora de um planejamento escolar muito centrado na ações apenas da comunidade escolar, ou quase voltado apenas para as questões didáticas-pedagógicas, administrativas e ações para os componentes curriculares, deixando de lado, as questões sociais, culturais, de instrumentos de aprendizagem, de socialização dos discentes fora e dentro do espaço escolar, assim como dos anseios, desejos e expectativas dos docentes, têm um projeto a ser fadado ao declínio e ao insucesso.

Pois, como se falou antes, um bom currículo, não só deve atender as necessidades da escola, mas sim de todo um conjunto que abrange os atores sociais envolvidos no processo educacional, os projetos de ação e de intervenção; aborda as dificuldades, barreiras e desafios da comunidade escolar, como dos instrumento e ferramentas usadas na ação didática, em função dos professores e alunos.

Dentre as principais desvantagens que o currículo apresenta para a condição do ensino – aprendizagem e, consequentemente para os ganhos da aprendizagem, pode-se destacar:

  • Currículo que se limita a atender a escola, e não o contexto em geral, onde a escola atinge;
  • Voltado para as estratégias de ensinar e aprender, e não para as relações sociais, culturais e educacionais;
  • Se limita muitas vezes as necessidades da escola, e não da comunidade escolar como um todo;
  • Estabelece ações pedagógicas, sem lembrar os aspectos e fatores do “currículo oculto”;
  • Não estabelece uma relação concreta entre o que os discentes desejam aprender em detrimento com o que a escola acredita que se deve ensinar;
  • Vincula-se a uma necessidade instrumental e protocolar, do que aquilo que as avaliações diagnósticas apontam e mostram nitidamente.

Portanto, um currículo desenhado ou elaborado dentro dos anseios que se permite cada unidade escolar, pode contribuir de forma precisa com aquilo que desejamos que ocorra dentro dos espaços escolares, permitindo o desenvolvimento das habilidades e competências dos alunos de uma maneira mais chamativa, atraente e eficiente. Havendo ou se necessitando para isto, a elaboração de estratégias, diretrizes, ações e projetos de intervenções voltadas para uma gama de segmentos que interagem de forma direta e indireta com a escola ou comunidade escolar, onde estes segmentos dependem dos resultados da escola, para assim se sobressair sobre suas necessidades e expectativas futuras.

Referências 

SAE DIGITAL. Currículo Escolar: o que é e qual a sua importância? 2021.

SANTOS, S. P. BNCC NA EDUCAÇÃO INFANTIL: benefícios, referencial teórico, experiência curricular, desafios e aspectos positivos/negativos. 2021. Disponível em: https://www.webartigos.com/autores/sydneysantospinto

SANTOS, S. P. Atividade de Fórum acadêmico: Projeto curricular, programação e desenvolvimento de competências. 2021. Disponível em: https://www.webartigos.com/autores/sydneysantospinto

SANTOS, S. P. DISCUSSÃO SOBRE PROJETO CURRICULAR, PROGRAMAÇÃO E COMPETÊNCIAS. 2021. Disponível em: https://www.webartigos.com/autores/sydneysantospinto

 

[1] Professor da Rede Pública de Ensino do Município de Prainha desde 1998. Mestrando em Educação com Especialização em Ensino Superior pela FUNIBER/UNINI.