As palavras que seguem são ainda incipientes, representam minhas leituras recentes em função deste Fórum de Filosofia Contemporânea II e, certamente, não servem para esclarecer em detalhes conceitos complexos como Tempo, Corpo e Representação que estão na densa filosofia de “Die Welt als Wille und Vorstellung”. Não que não tivesse tal pretensão. A tenho. Schopenhauer o mereceria, mas minha limitação, minha ignorância filosófica e a enormidade que isso representa tornam a tarefa penosa, até mesmo para seus melhores e dedicados intérpretes, imaginem para um pobre professor de filosofia como eu, longe dos melhores centros de estudo sobre a questão. Assim, pois, meu texto é apenas uma aporia, uma frincha ainda crua de algumas coisas que só o tempo e a angústia podem me clarear. É apenas um exercício amador de alguém que percebeu a profundidade em que a filosofia de Schopenhauer atinge os problemas em que se encontrava a tradição de pensamento ocidental, da qual a filosofia sempre se portou como guardiã. Pois, já de princípio Schopenhauer reverberou em mim, ou seja, já assim nas primeiras páginas, sinto-me, assim pelo menos imagino, como Nietzsche, quando leu os textos deste sofrido e excepcional pensador, ou seja, um deslumbrado, alguém que agora encontra sentido para aquilo que antes era só trevas e obscurantismo. E isso é o que Schopenhauer tem de grande: fala de coisas simples, circundantes, mas que foram negligenciadas por nós por estarmos por demais convencidos de nossas verdades e da capacidade de nossas ciências. E não é essa, afinal de contas, a verdadeira tarefa da filosofia? Não é isso que a Coruja de Minerva faz enquanto os que dormem contentam se em achar que os problemas, uma vez resolvidos, para sempre resolvidos estão? Com uma frase simples como “o mundo é minha representação” (SCHOPENHAUER, 2011, p. 09)1 , que não seria mais do que uma frase banal se dita por um semiletrado como eu, torna-se, em Arthur de Schopenhauer, uma obra de filosofia singular, iluminada, cheia de beleza, de profundidade incomensurável, de erudição sofisticada e irreparável.