Descrição e análise das características fenotípicas de ovinos abatidos em frigorífico da Região Metropolitana de Porto Alegre.

Por Verônica Schmidt | 26/09/2019 | Tecnologia

Tatiana Hatsck de Souza[1], Vinícius Gestaro1 e Verônica Schmidt[2]

Resumo

O estudo objetivou descrever e analisar dados sobre a quantificação de ovinos abatidos em um abatedouro-frigorífico, considerando a procedência, raça, sexo e idade. Os locais de origem dos animais foram as regiões Metropolitana de Porto Alegre, Fronteira Oeste, Fronteira Sul, Campanha e Missões. Foram identificadas quatro raças: Corriedale, Merino, Ideal, Texel- e animais oriundos de cruzamento com a raça Corriedale. Os animais foram categorizados por sexo (como macho castrado e fêmeas) e idade, obtida pela avaliação da dentição (DL- dente de leite; 2D- dois dentes; 4D- quatro dentes; 6D – seis dentes e 8D- oito dentes). Verificou-se que a região da Fronteira Oeste (Rosário do Sul, Quaraí e Santana do Livramento), apresentou o maior número de animais abatidos; a maioria (54%) eram fêmeas; os animais eram de idade adulta, por serem animais de descarte (ovelhas e capões); prevalecendo animais da raça Corriedale e seus cruzamentos. A oferta de ovinos de categoria jovens é baixa, disponibilizando aos frigoríficos uma maior quantidade de animais com categoria avançada para abate. Esses ovinos são adquiridos a grande distancias da região metropolitana, dificultando o transporte e deslocamento desses animais. Pela alta demanda, a solução que os frigoríficos encontram é a compra de animais de categorias de menor qualidade de carne para suprir o mercado.

Palavras-chaves: abate ovino, procedência, raça, cruzamento.

1. Introdução

A ovinocultura está difundida no mundo inteiro, prática de produção antiga, no qual se persiste até hoje. O mercado da carne ovina no Brasil expandiu-se de forma significativa nos últimos anos, por aspectos ambientais, econômicos e sociais relevantes, mas ainda necessita superar obstáculos, como a carência de estrutura e de investimentos na cadeia produtiva brasileira. Alguns anos atrás, o Brasil possuía sua ovinocultura concentrada no Rio Grande do Sul, voltada à produção de lã, (especificamente com raças laníferas) e raças deslanadas oriundos de uma produção extensivo e com baixa tecnologia, caracterizada como uma criação de subsistência, na região Nordeste (VIANA, 2008). Como decorrência da desvalorização da lã, a atividade econômica, no RS, foi voltada para o setor de carne nas últimas décadas. O consumidor está mais exigente, no tocante à qualidade, exigindo padronização e desejando uma carne macia com pouca gordura e suculenta. A produção de carne ovina no Rio Grande do Sul ainda é incipiente comparado a oferta de carne de outras espécies como por exemplo, bovinocultura de corte, a qual possui uma cadeia produtiva com credibilidade, mercado estruturado e consolidado. Já a produção ovina difere-se por apresentar muitas dificuldades que interferem no desenvolvimento comercial, industrial e produtivo. Existente conflito entre produtores e frigoríficos, decorrente do abate de animais, na sua maioria de descarte, pela baixa oferta por parte do produtor de carne de qualidade e pelo elevado preço comercial da carne (PEREIRA NETO, 2004) (FIRETTI, 2010). Além disso, estima-se que 90% da carne ovina nacional seja proveniente do mercado informal. Esses problemas têm consequências mais agravantes no Rio Grande do Sul, onde estima-se que 60% dos abates ocorram de forma informal e ligados ao abigeato nas propriedades (SILVEIRA, 2005). A atividade é potencialmente lucrativa e pode gerar desenvolvimento. Entretanto, deve evoluir no tocante à qualidade da carne para conquistar o consumidor mais exigente e, assim, agregar valor e renda ao produtor. Dados da Secretaria de Agricultura do Estado do RS, levantados por (SANTOS, AZAMBUJA, & VIDOR, 2009), demonstram que o número de abates ovinos foi o menor de todas as espécies, no período analisado, e suas estruturas em números não se comparam à quantidade de infraestrutura de bovinos, aves e suínos. A comercialização dos ovinos entre abatedouros-frigoríficos e os produtores é praticada através do pagamento por peso vivo; este fato é decorrente da falta de adequação ao sistema brasileiro de classificação e tipificação de carcaças embora o Sistema Nacional de Classificação e Tipificação de carne ovina tenha sido disponibilizado pelo Ministério da Agricultura, Pecúaria e Abastecimento desde 1990; este sistema estabelece parâmetros de qualidade e padronização do produto a ser comercializado, considerando carcaças inteiras até os cortes comerciais (MAPA, 1990). Os produtores gaúchos, quando teve início a crise laneira, priorizaram as raças de dupla aptidão, como Corriedale, mudando o foco do produto principal, e iniciaram a produção de carne com maior intensidade do que a lã. Assim, os produtores não abandonaram a atividade e sim migraram para a produção de carne ovina, importando animais de raças específicas para produção de carne, tais como Hampshire Down, Ideal, Suffolk, Ile de France, Poll Dorset e Texel. No entanto, o crescimento do poder aquisitivo e o aumento do consumo de carne pela população, estão evidenciando uma nova alternativa para o mercado nacional e internacional. Esta situação, favorecendo o cenário para desenvolvimento da atividade, restabelecendo a comercialização. Sendo assim, a produção de carne se tornou o principal elo da atividade ovina. Os preços pagos aos produtores elevaram-se na última década, tornando esta uma produção atraente e rentável. Mesmo com a alteração no produto final da atividade, os rebanhos reduziram-se drasticamente, mas a atividade não desapareceu por completo (VIANA, 2008). A ovinocultura passou a se expandir por outras regiões brasileiras além da região Sul, principalmente na região Nordeste, a qual apresenta o maior rebanho efetivo do Brasil. O rebanho brasileiro está estimado em 18 milhões de cabeças/ano, segundo (IBGE, 2013- 2015), cerca de 1,4% do efetivo mundial. As regiões Nordeste e Sul, o efetivo ovino representa 55% e 34,5%, respectivamente. Nas outras regiões brasileiras esse número é menor: 2,5% no Norte, 5% no Centro-Oeste e 3% no Sudeste. [...]

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