DESAFIOS DA EXPLORAÇÃO DAS SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS NA SALA DE AULA

                                                                           Ludmilla Paniago Nogueira

                                                                           Neide Figueiredo de Souza

 

Ao desenvolver a elaboração de cada uma das sequências didáticas, é possível também pensar em desafios quanto a proposição e à sua aplicação. Dessa forma, apresentamos alguns deles que nos parecem merecer registro. A realização de contação de histórias e de práticas leitoras com vistas à formação de leitor mirim requer formação adequada em termos teóricos e metodológicos. Isso porque as atividades não podem ser realizadas de modo intuitivo ou casula. São, ao contrário, resultado de estudo sistemático sobre o que é ler, leitura, contar histórias, etc. Ter a oportunidade de aprender como contar histórias e abordá-las na sala de aula é um diferencial à prática docente e, apesar de isso ser necessário, nem sempre o professor recebe essa oportunidade formativa, seja ela em nível inicial ou continuado. Fica então a questão: os cursos de licenciaturas não deveriam ter, em sua matriz curricular, disciplinas específicas sobre o tema?

Outro aspecto singular, que é desafio também ao professor dos anos iniciais do Ensino Fundamental, é o seu grau de compreensão sobre temas que são sensíveis à abordagem na sala de aula, sobretudo com os infantes. Tratar de sexualidade, preconceito racial e discriminação étnica requer certo domínio de temas que nem sempre fazem parte da formação básica docente. Tais temas, que são transversais, são normalmente discutidos em outros campos do saber, como Psicologia, Letras, Assistência social, Sociologia. E, no campo da Pedagogia, estudos teóricos sobre identidade, gênero e formação sociocultural na perspectiva

da diferença, conceitos que atravessam os Estudos Culturais e os Estudos Decoloniais, nem sempre estão presentes nos currículos e cursos direcionados a futuros professores.

Nesse sentido, com o intuito de contribuir para uma compreensão desses temas e conceitos a ele atrelados, propusemos o item “referências” em cada proposição para indicar leituras que podem ser norteadoras para a abordagem de cada tema que as obras escolhidas indicam. Assim, acreditamos ser possível ao professor interessado em ampliar seu horizonte de saberes sobre culturas e identidades familiarizar-se com teorias, conceitos e métodos em prol de uma “Pedagogia da diferença”.

Mais um desafio a ser apontado relaciona-se a condições infraestruturais das escolas, como biblioteca, sala de leitura e recursos tecnológicos que possam oportunizar experiências leitoras diferentes, como leitura por meio de audiobook ou e-book. Mesmo que o valor de cada livro selecionado não seja alto, não é possível afirmar que as escolas dispõem de tais obras em seus acervos. Da mesma forma, embora possam ter, talvez não em quantidade necessária para que cada estudante possa ler de forma individual cada livro ou manuseá-lo livremente. Investir em acervos literários é medida necessária não só para uma efetiva aplicação das atividades como essas propostas desta dissertação, mas também para favorecer o contato com a literatura e o despertar do gosto pela leitura literária.

Ainda cabe ainda mencionar que, sem o professor ser leitor e um apreciador da arte literária, será muito difícil ele encantar seus estudantes pela literatura. Isso porque, na própria contação de histórias, o envolvimento daquele que conta e o seu apego à matéria narrada fazem diferença na transposição do texto escrito para o oral, contado, ou até mesmo teatralizado. O professor também precisa ter um repertório de leitura capaz de lhe propiciar fazer escolhas de obras, identificar textos que possam ser mais oportunos para seus objetivos pedagógicos e expectativas dos alunos.

Por fim, é preciso referenciar a necessidade de as atividades de contação de histórias e de práticas leitoras serem mediadas por recursos tecnológicos. Estes podem ser explorados tanto como suporte de leitura como recursos para a compreensão leitora. O estudante, um nativo digital, certamente vai se interessar por um e-book ou um audiobook ou um vídeo com a história contada e ilustrada. E o p Enfim, o professor, se não conhecer esses suportes, certamente terá poucas possibilidades de usá-los em suas ações na sala de aula. De igual forma, os recursos tecnológicos à disposição para realização de atividades leitoras ou de contação de histórias precisam ser dominadas pelos docentes. Se ele optar por fazer uma contação de histórias em vídeo, sabe manusear uma câmera? Tem uma câmera para isso? Sabe editar o vídeo e postá-lo em um ambiente virtual? O professor conhece aplicativos de Enfim, o professor, se não conhecer esses suportes, certamente terá poucas possibilidades de usá-los em suas ações na sala de aula. De igual forma, os recursos tecnológicos à disposição para realização de atividades leitoras ou de contação de histórias precisam ser dominadas pelos docentes. Se ele optar por fazer uma contação de histórias em vídeo, sabe manusear uma câmera? Tem uma câmera para isso? Sabe editar o vídeo e postá-lo em um ambiente virtual? O professor conhece aplicativos de leitura ou softwares gratuitos que pode explorar?

Tais questões indicam muitos desafios que devem ser enfrentados não pelo professor de forma isolada, mas pelos sistemas de ensino e, sobretudo, por políticas públicas que se interessem efetivamente pela formação qualificada da criança na escola, para a qual a leitura literária é indispensável.

 

 REFERÊNCIAS

BATISTA, Antônio Augusto Gomes. Práticas de Leitura. Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária – CENPEC, 2019. Disponível em: . Acesso em: 17 mar. 2020.

BRASIL/MEC. Parâmetros Curriculares Nacionais. 3. ed. Brasília - DF: MEC, 2001

 

BRASIL/MEC. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa. Secretaria de Educação Fundamental. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília - DF: MEC, 1997.

BUSATTO, Cléo. Contar e Encantar: Pequenos Segredos da Narrativa. 3ª ed. Petrópolis - RJ: Vozes, 2003.

COELHO, Beth. Contar histórias: uma arte sem idade. São Paulo: Ática, 2001.