Desafios da escola: uso das metodologias ativas de aprendizagem.

 

O mundo hodierno tem sofrido rápidas transformações. Transformações essas, que vão além do uso da tecnologia; são transformações no estilo de vida das pessoas e na forma como elas enxergam e se colocam no mundo. E no meio dessas rápidas transformações está a escola, um dos mais importantes pilares da sociedade, pois é ela uma das responsáveis pela transmissão dos conhecimentos produzidos pela humanidade e pela transformação dos indivíduos que a frequentam, em seres sociais capazes de agir conscientemente nessa sociedade, provocando mudanças que a tornem cada vez melhor. Se fizermos um retrocesso e olharmos a escola das décadas de 70, 80 e compararmos com a escola de hoje, poderemos verificar que em muitas delas parece que o tempo parou ou que muito pouco se avançou nos objetivos e no processo de ensinar e de aprender. Nesses tempos, tínhamos uma escola focada no professor, que detinha o conhecimento e era o responsável por transmiti-los aos alunos. A esses, cabia a função de absorver esses conhecimentos que muitas vezes nem faziam muito sentido para eles, pois estavam muito aquém das suas realidades.

Claro que de lá para cá algumas coisas mudaram. Foram realizados muitos estudos sobre o processo de ensino e aprendizagem, apareceram novas teorias e metodologias que foram sendo aplicadas pelos “operadores da educação”, (neologismo criado por mim; caso ainda não exista) umas com sucesso e outras não. Mas se há tantos estudos nessa área por qual razão então, a escola caminha a passos tão lentos?

Décadas atrás, como citado anteriormente, o conhecimento centrava-se no professor. O acesso ao conhecimento era muito difícil para a maioria dos alunos, uma vez que este era de uma certa forma elitizado. Para que o aluno pudesse aprofundar seus conhecimentos, era preciso comprar livros ou ter acesso irrestrito às bibliotecas. Quem não se lembra das memoráveis enciclopédias? Uma das mais famosas era a Barsa. Quem podia comprar, tinha uma “riqueza” de informações e ela era fonte de pesquisa para muitos trabalhos escolares. Sendo assim, os alunos, tinham que se fiar no conhecimento dos professores, nas informações contidas nos livros didáticos e nos poucos livros aos quais se tinha acesso naqueles tempos. Realizar um trabalho escolar era algo muito cansativo, que demandava horas de pesquisa, algumas vezes sem sucesso.

Hoje, no entanto, as informações estão ao alcance dos dedos. Com um simples toque na tela do celular ou no teclado dos computadores se abre diante de nós uma janela que nos mostra um horizonte de infinitas possibilidades. E foi aí que a escola pisou nos freios. A escola deixou de ser um espaço privilegiado de conhecimento. Ela é ainda um espaço de educação formal, pois tem a capacidade de organizar o conhecimento de forma gradual facilitando a sua aprendizagem. Mas encontra-se diante de um dilema segundo José Moran: “como evoluir para tornar-se relevante e conseguir que todos aprendam de forma competente a conhecer, a construir seus projetos de vida e a conviver com os demais”?

A escola formal padronizada perde espaço cada dia mais, pois é difícil competir com a internet. Não há um professor ou professora que consiga deter todo o conhecimento que há no mundo digital. Os currículos, as metodologias e os espaços escolares precisam ser repensados, pois o papel do professor hoje, não é o de transmissor de conhecimento, mas de mediador. É certo que o conhecimento está ao alcance das mãos, mas é preciso saber o que fazer com ele. É preciso transformar esse conhecimento em algo significativo. Então papel do professor é o de ajudar os alunos a buscarem os conhecimentos mais relevantes e que trarão de fato mudanças nas suas vidas e transformações sociais significativas. Mas se o conhecimento se tornou mais acessível, porque é tão difícil para a escola acompanhar essa evolução?

Há uma série de obstáculos que freiam a escola nesse processo. Dentre eles podemos citar a falta de investimento por parte dos poderes públicos, o despreparo dos professores novos, a resistência dos professores mais velhos, a má formação desses professores nos cursos de licenciatura, entre outros. Com a internet, podemos aprender em qualquer lugar e a qualquer hora e para muitos professores, essa mudança não é tão bem-vinda, pois ele que durante muito tempo foi o “centro das atenções”, agora precisa se atualizar constantemente, pois já não tem alunos na sala de aula que aceitarão passivamente essa transmissão de conhecimento. Uma afirmação de um professor pode ser questionada na mesma hora se o aluno estiver com o seu smartphone. Muitas vezes, esse professor até quer transformar sua maneira de lecionar, mas esbarra no total desconhecimento do uso das ferramentas tecnológicas. O que para os jovens de hoje é um grande prazer e que fazem com muita desenvoltura e facilidade, para alguns professores é um tremendo martírio.

 

Os métodos tradicionais, que privilegiam a transmissão de informações pelos professores, faziam sentido quando o acesso à informação era difícil. Com a Internet e a divulgação aberta de muitos cursos e materiais, podemos aprender em qualquer lugar, a qualquer hora e com muitas pessoas diferentes. Isso é complexo, necessário e um pouco assustador, porque não temos modelos prévios bem sucedidos para aprender de forma flexível numa sociedade altamente conectada. (ALMEIDA & VALENTE, 2012).

 

O uso da tecnologia na vida das pessoas é uma realidade da qual não se pode fugir, o problema é que parece que a escola, por trás dos seus muros, parece ser uma entidade a parte da sociedade. Temos um poder público que parece ter virado as costas para a escola, pois seus investimentos pífios não são capazes de suprir nem as necessidades básicas como alimentação e material de expediente.  Essa falha do Estado muitas vezes obriga as escolas a fazerem rifas, festas, cobranças da AAPP (Associação de Alunos Pais e Professores) para suprir a ausência do poder público. Escolas são sucateadas, têm sua estrutura comprometida, não tem sala de informática e muitas vezes nem data show. Como os professore podem trabalhar com a tecnologia se em muitas escolas ela é parca ou simplesmente nem existe?

Algumas universidades por sua vez, não preparam esse professor para fazer uso das tecnologias e das metodologias ativas em sala de aula, nem mesmo os professores da universidade fazem uso delas, ministrando muitas vezes as “aulas pacote” igual para todo mundo, considerando que todos aprendem da mesma maneira e na mesma velocidade. O fato de ter chegado a uma universidade, não significa que esse aluno agora deixe para trás todas as dificuldades que teve durante seus anos de escola e agora passe a aprender com facilidade e igual a todo mundo. Sabemos que não é assim. Os alunos das Universidades também têm muitas dúvidas e só aprenderão a fazer uso das tecnologias e das metodologias ativas se forem ensinados a fazê-lo. Daí resultam professores mal preparados que até tentam se virar como podem, mas a escola não é o lugar para se virar. O professor tem uma intencionalidade e um objetivo em suas ações. E isso só será alcançado se ele estiver bem preparado.

Os problemas da educação brasileira ainda estão longe de findarem-se, mas é fato que muitos estudiosos têm se debruçado sobre essas questões. São muitas as possibilidades de as metodologias ativas e a tecnologia conduzirem os alunos para uma aprendizagem mais autônoma e mais significativa. Como bem observa   Sánchez Vázquez (1977, p. 206-207):

 

 A teoria em si [...] não transforma o mundo. Pode contribuir para sua transformação, mas para isso tem que sair de si mesma, e, em primeiro lugar, tem que ser assimilada pelos que vão ocasionar, com seus atos reais, efetivos, tal transformação. Entre a teoria e a atividade prática transformadora se insere um trabalho de educação das consciências [...] uma teoria só é prática na medida em que materializa, através de uma série de mediações o que antes só existia idealmente, como conhecimento da realidade ou antecipação ideal de sua transformação.

 

 Sabemos que não podemos responsabilizar somente a educação pela “salvação do mundo”, pois as teorias e as metodologias educacionais, por mais promissoras e bem intencionadas que sejam, sozinhas não conseguem promover a motivação e a autonomia nos alunos. Mas por ser um processo dinâmico e em constante evolução, os operadores da educação também não podem estagnar no tempo. É preciso uma tomada de consciência de todos os envolvidos no processo de ensino e aprendizagem no intuito de transformar a realidade das nossas escolas, dos nossos professores, dos nossos alunos e quiçá da sociedade como um todo.

 

 

Referências

 

José MORÁN - [Coleção Mídias Contemporâneas. Convergências Midiáticas, Educação e Cidadania: aproximações jovens. Vol. II] Carlos Alberto de Souza e Ofelia Elisa Torres Morales (orgs.). PG: Foca Foto-PROEX/UEPG, 2015. - Disponível em: http://www2.eca.usp.br/moran/wp-content/uploads/2013/12/mudando_moran.pdf  - Acesso em 18/11/17.

 

SÁNCHEZ VÁZQUEZ, A. Filosofia da práxis. 4. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.

Neusi Aparecida Navas Berbel As metodologias ativas e a promoção da autonomia de estudantes – Disponível em   <

 

 

VALENTE, J. A. Comunicação e a Educação baseada no uso das tecnologias digitais de informação e comunicação. Revista UNIFESO – Humanas e Sociais, 2012. Vol. 1, n. 1, 2014, pp. 141- 166.