Depressão: Retorno ao ambiente de trabalho após afastamento.

Por Julia Jeanne Monteiro de Souza | 12/09/2016 | Psicologia

Resumo:

O presente trabalho objetivou apresentar percepção de trabalhadoras sobre a depressão e o retorno ao ambiente de trabalho após o afastamento. Foram utilizados os pressupostos metodológicos da pesquisa qualitativa. Como instrumento de coleta de dados foram desenvolvido uma entrevista semiestruturada e o questionário sociodemográfico. Para análise dos dados, optou-se pela Análise de Conteúdo, proposta por Bardin (2009) e análise estatística simples para os dados de identificação dos sujeitos. Participaram desse estudo três sujeitos do sexo feminino, com nível superior e idade entre 32 e 47 anos, moradoras do Distrito Federal, e trabalhadoras de uma Instituição de Ensino Superior. Para os resultados foram construídos 4 Eixos Temáticos: Percepção do sujeito sobre o retorno ao trabalho, Descrição da doença, Fatores desencadeadores e Percepção do sujeito sobre a reação da empresa ao retornar ao trabalho. Constatou-se que o retorno ao ambiente de trabalho foi satisfatório o que permitiu um acolhimento positivo com os demais membros da instituição, além disso, foi apresentada a questão do preconceito como desafio.

Introdução

Por ser considerada como o mal do século e a quarta principal causa mundial de adoecimento, faz se necessário estudar esta patologia para um melhor entendimento, visto que, este transtorno de humor está aumentando a cada ano.

Para Bahls (2003) a cada ano, o histórico de depressão entre a população aumenta consideravelmente, sendo um dado preocupante para a saúde pública. A Organização Mundial de Saúde indica que, nas próximas décadas, haverá uma mudança nas necessidades de saúde da população mundial devido ao fato de as doenças como a depressão estar substituindo os tradicionais problemas das doenças infecciosas e de má nutrição. Nakamura e Santos (2007) referem que, no ano de 2020, a depressão só perderá para as doenças cardíacas.

A depressão se tornou um problema de saúde pública. Ela atinge um número significativo de pessoas nas mais diversas faixas etárias. Segundo a Organização Mundial de Saúde - OMS (2012) estima-se que 350 milhões de pessoas, cerca de 5 % da população mundial, sofrem de depressão a cada ano. No Brasil, cerca de 10% da população sofre de depressão.

São vários os sintomas presentes no indivíduo depressivo. Para Guariente (2002) a depressão é caracterizada por vários sintomas, dentre eles: falta de interesse, tristeza, desânimo, apatia, insegurança, choro persistente, negativismo, desesperança, irritabilidade, falta de concentração, autoestima depreciada, sentimentos de culpa, sentimentos de impotência, ideias de suicídio, entre outras.

Além dos vários sintomas a depressão também possui vários fatores deflagradores. Segundo Kaplan et al (1997) e Holmes (2001), são vários os fatores que influenciam na depressão, dentre os quais fatores biológicos, genéticos, ambientais e os genéticos e ambientais associados. Diante disso, faz se necessária a realização de estudos que abordem suas várias dimensões e possibilidades.

Segundo o Instituto Nacional do Seguro Social – INSS (2013), a depressão e outros transtornos ansiosos está entre as quatro causas mais frequentes de afastamento do trabalho. Diante disso, a depressão é considerada atualmente como a 4ª principal causa de incapacitação no planeta, conhecida como o mal do século que afeta grande parte da população em alguma época da vida.

O ambiente do trabalho, segundo Nascimento (1999), caracteriza-se como o conjunto de condições existentes no local onde o trabalhador exerce a sua profissão, nele devendo ser compreendidos todos os fatores que, de alguma forma, interferem no seu bem estar, ou seja, todo o complexo de relações humanas na empresa, a forma de organização do trabalho, os equipamentos de proteção coletiva e individual, a jornada de trabalho, os critérios de remuneração, a satisfação dos trabalhadores, os meios de prevenção à fadiga, as condições de salubridade e, também, as medidas de proteção à saúde dos trabalhadores. Nas empresas o ambiente de trabalho pode gerar um nível de estresse e ansiedade tão alto que o trabalhador entra em estado de adoecimento, o que leva ao afastamento de suas atividades para se tratar.

Esta pesquisa surgiu da necessidade de se falar abertamente sobre a questão da depressão por se tratar de uma questão atual que vem afetando pessoas de diversas faixas etárias, etnias e gêneros. Tal transtorno do humor afetivo ou distúrbio afetivo de acordo com a Organização Mundial da Saúde é visto como a quarta doença que causa incapacidade de realizar atividades no trabalho, sendo que, em 2020 passará a ser considerada como a segunda colocada entre as principais causas de incapacidade para o trabalho. Por se tratar de uma doença do século faz - se necessário pensar sobe a saúde do indivíduo, nos diversos meios de atuação. Nas empresas o ambiente de trabalho pode gerar um nível de estresse e ansiedade tão alto que o trabalhador pode entrar em estado de adoecimento, o que leva ao afastamento de suas atividades. Após o tratamento adequado o trabalhador terá a difícil missão de retornar as suas tarefas cotidianas e se deparar com o mesmo ambiente que possivelmente pode ter contribuído ou não para seu adoecimento. Diante dessas circunstâncias todo o processo pode gerar desconforto, medo, frustração tanto para o trabalhador quanto para a empresa. O grande desafio é como reintegrar esse trabalhador ao ambiente de trabalho sem levá-lo ao adoecimento e como a resiliência desse trabalhador pode melhorar a qualidade de vida no trabalho.

Assim sendo, este trabalho teve como objetivo geral compreender a percepção do sujeito ao retornar no ambiente de trabalho após afastamento por depressão. E como objetivos específicos descrever a depressão e seus sintomas, compreender os motivos que levaram ao adoecimento no trabalho e compreender a partir da percepção do sujeito como a empresa reage com o retorno após o afastamento por depressão.

Nesse sentido, o tema tratado nesta pesquisa é de grande valia, uma vez que possibilita conhecer o perfil do sujeito que teve depressão e o que ele observou quando retornou ao ambiente de trabalho.

Depressão

Segundo os dados disponibilizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 2006), mais de 350 milhões de pessoas sofrem de depressão no mundo. Esta patologia ocasiona perda da autonomia acometida pelo adoecimento psíquico podendo trazer consequências, tais como o afastamento do convívio com as demais pessoas, a dependência financeira, sendo que na maioria dos casos, o indivíduo precisa se ausentar do trabalho para tratamento ou não.

Ainda sobre as consequências, a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2006), indica que até 2020 a depressão será a principal doença mais incapacitante em todo o mundo. Isso significa que quem sofre de depressão tem a sua rotina virada do avesso. A pessoa deixa de produzir e tem a sua vida pessoal bastante prejudicada. Atualmente, mais de 120 milhões de pessoas sofrem com a depressão no mundo estima-se que só no Brasil, sejam 17 milhões. E cerca de 850 mil pessoas morrem, por ano, em decorrência da doença.

De acordo com a Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento (CID,1993), a depressão é considerada como transtorno de humor e possui três variedades, sendo leve, moderada e grave. O indivíduo usualmente que sofre de humor deprimido tem perda de interesse, prazer e energia reduzida, levando a uma fatigabilidade aumentada e atividade diminuída. Além disso, sintomas tais como, concentração e atenção reduzida; autoestima e autoconfiança reduzidas; ideias de culpa e inutilidade; visões desoladas e pessimistas do futuro; ideias ou atos autolesivos ou suicídio; sono perturbado; apetite diminuído.

Dalgallarondo (2000), que também faz referência às síndromes depressivas como um problema de saúde pública, considera que do ponto de vista psicopatológico, os quadros depressivos tem como elemento central o humor triste. Entretanto, elas se caracterizam por uma multiplicidade de sintomas afetivos (melancolia, choro fácil e frequente), instintivos e neurovegetativos (como fadiga, desanimo e desesperança), relativos à autovalorização (sentimento de baixa autoestima), à vontade e psicomotricidade (como tendência a passar o dia todo na cama e lentificação motora).

Sobre os fatores de risco para o desenvolvimento da depressão incluem a história familiar, situações estressantes, sexo feminino, episódios prévios de depressão, início antes de 40 anos de idade, Comobirdade clínica, tentativas pregressas de suicídios, falta de sistemas de apoio, história de abuso físico ou sexual, abuso de substância atual (CITRA; RAMOS; RIBEIRO, 2003).

Saúde do Trabalhador

A Organização Mundial da Saúde – OMS define a saúde como sendo um perfeito estado de bem-estar físico, psíquico e social. Assim definida, a saúde se converte no objetivo que toda pessoa deseja alcançar e, o trabalho a ser a atividade fundamental para melhorar o nível de saúde. No entanto, trabalhando, se pode perder a saúde. A perda de saúde implicará em uma menor capacidade de trabalho e, portanto, uma diminuição das possibilidades para melhorar o nível de saúde (VIEIRA, 2005).

Pereira (1995, p.30) aponta o conceito de saúde e de doença como: “A saúde pode ser definida com ausência de doença e a doença, inversamente, conceituada como falta ou perturbação da saúde”.

O Ministério da Saúde (2001) traz que as causas condicionantes da saúde do trabalhador estão compreendidas as sociais, econômicas, tecnológicas e organizacionais responsáveis pelas condições de vida e os fatores de risco ocupacionais, que são: físicos, químicos, biológicos, mecânicos e aqueles decorrentes da organização laboral – presentes nos processos de trabalho. Dessa forma, as ações de saúde do trabalhador têm como foco as mudanças nos processos de trabalho que contemplem as relações saúde-trabalho em toda a sua complexidade, por meio de uma atuação multiprofissional, interdisciplinar e intersetorial.

A saúde do trabalhador constitui uma área da Saúde Pública que tem como objeto de estudo e intervenção as relações entre o trabalho e a saúde.

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