Numa febre de 38 graus eis que estou    a repensar a minha     vida. Acredito que estou passando pela fase da crise dos   pós 30.   Sinto-me, na maior parte do tempo, desanimado e saudosista dos  tempos antigos, tempos esses que   nem   eram   tão    bons    para    serem lembrados.  Ando perdendo mais a paciência   com maior   facilidade que antes com meus pais, quanto menos impaciente   me torno mais carinhosos e carentes eles me parecem e isso me  deixa   chateado, viver a maior parte do tempo como se sofresse de TPM.  Depois que cheguei aos 30 ouço meu irmão   de 18   anos   falando  sobre  suas  expectativas do futuro, trabalho, estudos e até    casamento e me dá uma canseira . Hoje disse a seguinte frase: ‘’quando você estiver na minha idade verá que essas coisas não são  tão  importantes   como você pensa que agora elas são!’’. Depois tive vontade de sumir, cair num buraco e desaparecer. Quando me contam que alguém morreu logo pergunto   a causa da   morte e   quase nunca   digo um   ‘’sinto muito’’, acho desnecessário   dizer algo     que na verdade não estou sentindo. Continuo odiando enterros, funerais   e velórios e ainda me recuso a participar de quem quer que seja o defunto.     Para piorar a situação disse ao meu melhor amigo      no meio de uma     conversa descontraída que quando eu morrer é para que      ele não deixe que me cremem, sem essa de jogarem minhas cinzas  no mar ou mantê-las em um vaso vagabundo    na sala,     ele não    entendeu    nada. Recentemente, após os 30, descobri que não me sinto bem fazendo a social com parentes que comentam a meu respeito pelas costas e pensam que ninguém me contou.      Uso desculpas para     justificar minhas ausências com gripes   constantes, um     dia uma amiga me disse que tenho a imunidade muito baixa que deveria     procurar um especialista.  Passei a ter medo de coisas bobas como telefonemas para meu numero na madrugada ou quando ligo para      alguém e o telefone    está     sempre    desligado,    logo penso o pior;    assalto, sequestro relâmpago... Homicídio...  Quando alguém me esbarra no ônibus olho     furiosamente     para a pessoa    e quando me     pede desculpas, não respondo, além de mal humorado   também      estou perdendo a educação. Perdendo a esperança de que dias  melhores virão, ando gostando de dias de temporal pra ter  que ficar   em casa interagindo comigo mesmo a um dia de sol e ter que  dizer    não aos convites para sair. Após os 30    comecei a me   odiar às vezes,   por dizer mentirinhas, pois a verdade poderia magoar     alguém, quando na verdade ninguém me polpa de nenhuma   palavra    cruel ou ação que vai me deixar muito triste.   Ando   trocando a TV   por livros e os meus amigos somente por    mensagens    no Whatsapp ou posts no Facebook, não que eles    não sejam    legais, são meus amigos ora, mas não tenho sido companhia  agradável.     Ando cansado de mais para viver acompanhado, recentemente  descobri      que não ter que cozinhar   pra     ninguém e nem   ter que lavar    a roupa suja que se acumula no tanque é a melhor coisa do mundo.  Depois dos 30 perdi a fé, perdi o  faro, o tato, a   sensibilidade para entender as  pessoas que amo e que nunca vão mudar nem por mim e nem por   ninguém. Descobri que todo mundo tem um preço,   tem um ponto fraco,   que todo mundo tem uma invejinha escondida e um ódiozinho gratuito de alguém   que   mora ali   bem   do outro lado da rua. Depois dos   30, cansei de me buscar nos outros.    Principalmente,     me cansei das mesmas perguntas e de ouvir as mesmas respostas.  Cansei-me de monólogos a dois!