Depois do Dia dos Pais

Ontem foi dia dos pais.

Propositadamente não expressei congratulações a nenhum dos pais que conheço. Não que não mereçam. Pelo contrário.

Sei que merecem!

Sei, também, que não são poucos os filhos que se preocupam, cuidam e mesmo à distância convivem cotidianamente com seus pais, com suas mães, com seus filho... e com todos aqueles que precisam de sua mão amiga ou de sua palavra de apoio... Filhos com toda a extensão e profundidade que essa palavra pode expressar e significar. Aqueles filhos que, orgulhosamente, enchem de orgulho o coração dos pais e os fizeram pais, visto que somente a existência do filho gera o pai.

Sei que esses filhos usam, também, o dia dos pais para expressarem sua dedicação e gratidão filial.

Sei de tudo isso.

Mas sei, também, que os outros filhos não são assim.

Sei que só lembram de seus pais porque a loja de presentes, a perfumaria, a loja de confecções... a mídia, enfim, os força a provar sua ausência dando um presente compensatório. Um presente que só satisfaz a loja que vende, pois não preenche a ausência de uma vida de indiferença.

Por isso, hoje, não estou aqui fazendo minha homenagem tardiamente.

A real homenagem não se expressa com palavras, presentes, propostas de almoço ou jantar... A verdadeira homenagem, que enche o pai de orgulho – e não seus olhos de lágrimas por conta do descaso – somente acontece na cumplicidade que ocorre no cotidiano ao longo dos demais dias do ano. Ocorre como se dá a sucessão dos dias, invariavelmente um dia seguindo ao outro, com a brandura de um entardecer e a esperança do raiar do dia...

Entretanto, vai aqui minha homenagem... não aos pais, que já foram ontem superficialmente homenageados pelos filhos relapsos. E se foram lembrados ontem, não precisam de minha homenagem hoje, atrasada.

Também não estou homenageando aos pais que são constantemente presentes na vida de seus filhos. Estes já são honrados cotidianamente; e a minha homenagem, a estes, somente no dia dos pais, poderia soar falsa. E seria ainda pior no dia seguinte!!!

Faço, portanto, homenagem aos filhos!

Minha homenagem é dedicada aos filhos! Mas somente àqueles que durante todo o ano honram seus pais, como ensina o mandamento divino.

 

Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador.

Rolim de Moura - RO