Quem é Você? ou o sentido da existência

 

Quem é você?

Esta é a indagação que está na primeira carta que a personagem de “O Mundo de Sofia” recebe de seu correspondente secreto.

E, indagada, ela tenta dar uma resposta. Mas a resposta não se completa, pois o ser humano não cabe numa resposta.

Claro que poderia indagar a mim mesmo: “quem sou eu?”. Mas o problema permaneceria: é um ser humano buscando-se.

A personagem do livro (O mundo de Sofia) reflete nos seguintes termos: “Não era estranho que ela não soubesse quem era? Não era absurdo não poder decidir nada quanto à sua figura? Tinha simplesmente nascido consigo.

Podia escolher os seus amigos, mas não se escolhera a si mesma. Nunca tinha decidido que queria ser um ser humano...

O que era um ser humano?

A grande questão, portanto, não é sobre mim ou você: Quem sou eu ou quem é você? A questão diz respeito ao sentido da existência. Ao perguntar quem sou eu, na verdade, estou me colocando a indagação sobre a origem: de onde vim?

Minha – ou nossa – origem pode ser uma pista para explicar quem sou.

Então: de onde viemos?

São dadas duas respostas, sem muita reflexão: viemos de nossos pais; fomos criados por Deus.

São respostas sem reflexão, porque a resposta não responde: se viemos de nossos pais, qual a origem de nossos pais?

Também carece de mais reflexão a afirmação da origem em Deus: somos criaturas de Deus. Com que finalidade Deus nos colocou no mundo?

Isso nos leva à constatação de que a busca pela explicação de “quem sou eu?” passa pela explicação da origem: “de onde vim?”. E nos dois casos a questão se dirige para o sentido da existência.

Quem sou eu? De onde vim? São indagações que podem ganhar uma direção na medida em que se encontrar um sentido para a existência. Minha origem me leva ao meu encontro e eu me encontro em minha origem.

Então para que existo? Para dar um sentido à minha existência. Mas, qual o sentido da minha existência? Qual o sentido da tua existência?

Se não sabemos a resposta pode ser porque não existe sentido no existir. E se não existe sentido no existir, corre-se o risco de se viver alienado da própria vida e da própria existência. Então, para não cair no absurdo, cabe ao existente criar um sentido para viver. E desse sentido vai surgir uma direção para o existente se dar uma explicação sobre si mesmo.

Ai a resposta poderia soar mais ou menos assim: eu sou aquela pessoa que dá sentido à minha existência.

Neri de Paula Carneiro

Mestre em Educação. Filósofo. Teólogo. Historiador

Rolim de Moura - RO