A viagem para Joinville:

Dia 06.07.07 – tinha acabado de encerrar mais uma audiência e juntamente com os Delegados Marilisa, Alves, a Investigadora Patrícia Angélica e o Comissário Samir, iniciamos viagem para Joinville. Durante o nosso percurso pedi para Patrícia o seu “CD” do “Ira” que já tínhamos ouvido no dia anterior.  Fui direto para a quinta faixa, com a música “...Acho que mereço o prêmio nobel da paz... acho que devemos brindar o nosso amor...”.  Sim, no meu íntimo queria falar com Marilisa sobre a questão do “amor” e seus nuances... Longe de pensar em uma relação vulgar, pois esse era um tipo de primitivismo possível no mundo quântico, mas incompatível com a evolução espiritual, cujos pensamentos sempre estiveram distantes da relação que procurei estabelecer e experimentar com ela, muito pelo contrário, sempre a percebi como um “anjo”, uma pessoa com uma forte ligação que transcende as relações comuns das pessoas normais, evidente que isso era o meu “eu” presente, imaginário, uma busca quem sabe por um elo perdido, porém, desprovido de qualquer impulso lascivo, luxúrio..., pois, apesar do seu batton (e unhas) vermelho, seus trejeitos cativantes, fala macia, corpo “soave”,  nada fez que me despertasse o condão de pretender “fisgá-la” com desejos primitivos, selvagens.... Preferi permanecer com aquelas informações sobre seu passado que me foram repassadas ao longo dos nossos contatos, sem contar seus remédios para depressão, sua fragilidade..., o que deve ter contribuído para deixá-la uma mulher aparentemente “fria”, com momentos de afloração de instintos  “selvagens”, porém, parecendo como ponto de fuga da sua própria realidade. Na verdade sempre achei que por dentro Marilisa fosse gélida e ninguém poderia substituir as memórias que formatou desde os tempos do seu  casament, desde da tenra adolescência, suas dores na alma, sua luta paa superar tudo e se a pessoa maravilhosa que evoluiu e se transformou, imprescindíel para a família, amigos..... 

Uma carona em boa hora:

Logo que nos aproximamos de Joinville e chegamos na Delegacia Regional Marilisa pediu que Alves lhe desse uma carona até sua casa, fazendo seguinte comentário:

- “É que o Alves mora na direção da minha casa”. 

Em silêncio interpretei: “Bom, ela sabe que meu carro está ali, sabe que eu gostaria imensamente de conversar mais um pouco com ela, talvez até pudéssemos almoçar juntos, mas que pretensão, mesmo pensando nos 07.07.07, que mundo gélido, sei lá,que mundo tão pequeno...”.  Procurei fazer de conta que tudo estava normal, bem ao gosto  Logo que desembarquei do carro olhei para todos e fui avisando um tanto “dislexo” com a “saída rápida” de Marilisa:

- “Bom, tchal, gente!”

Fui para meu carro sem dizer mais uma única palavra, deixei o local com os “07.07.07 nos pensamentos que simbolizava o fim do nosso “portal” imaginário.  Alves e Marilisa seguiram outro rumo.  Fui para São Francisco do Sul e logo que cheguei na minha casa resolvi ligar para Marilisa no seu celular quando constatei que estava desligado. Tentei mais uma vez e nada. Logo pensei: “Ela desligou o celular para não falar com ninguém...”.  Como o dia seguinte era fatídico, marcante, não me importei muito com as circunstâncias, com possíveis “piripaques”, tudo era previsível, mas o dia de amanhã merecia os “extremos” em termos de tentativa, enfim, eu próprio me desafiava, superava, transgredia..., tudo em nome de uma grande causa. Aliás, fiz uma reflexão e percebi que estava no caminho certo, considerando meus objetivos, meus sentimentos, desígnios..., especialmente porque nosso prazo estava para se findar. Acabei lembrando do Delegado Garcez com quem sempre tentei estabelecer uma amizade sincera, mas nunca consegui, algo meio parecido com Marilisa, claro que eram outras variáveis e variantes. Havia  meses que Garcez simplesmente desapareceu, até aqueles dias não deu notícias, sequer uma ligação para dizer: “Oi, Felipe, pensei em ti, estou com saudades do amigo, que bom te ouvir, vamos nos encontrar para conversar...”. Nada, absoluta e infinitamente, nada! Aliás, para não dizer “nada” a última que soube dele foi por meio do Investigador “Marquinhos” (Marcos Antonio Cordeiro) da Gerência de Recursos Humanos da Segurança Pública, dizendo que havia prorrogado sua licença médica até final de setembro de 2007. “Marquinhos” ainda comentou que tinha pena do Dr. Garcez que parecia muito doente, depressivo, abalado...  Sim, somos atraídos por certas pessoas que passam a ser especiais nas nossas vidas, como Garcez, Marilisa..., porém o que me intrigava era que justamente essas pessoas viviam noutro mundo, além de serem muito especiais. A Polícia era habitada por seres normais, mas havia aqueles que eram singulares, possuíam uma energia própria, uma vibração  intrigante... Sim, no meu caso andava na contra-mão, acreditando ser possível encontrar diamantes, divindades..., que talvez só existissem na minha imaginação, não dentro do universo da Polícia, em lugar algum, pois anjos dotados de uma natureza humana somente habitavam meus pensamentos que teimavam em resistir, persistir...  Aprendi a conhecer melhor Marilisa e a perceber que inconscientemente suas emoções vibravam como se numa superfície, como no caso da minha “Tia Lúcia”, com o desgaste do tempo acaba despertando em todos nós um misto de necessidades de habilidades, friezas, carências,  empatias..., que são capazes de compensar as nossas perdas ao longo da vida, criando outros mecanismos de sedução, admiração, proximidade, elegendo as pessoas como destinatárias de sua doçura, amabilidade, sem, contudo, jamais se revelar, e assim sobrevivem, levam suas vidas.  Não que não sejam pessoas menos belas na essência, mas certamente com suas histórias guardadas numa “caixinha preta”, com o “corpo fechado” e a mente voltada a satisfação de seus interesses num mundo programado para ser feliz a seu modo. Aliás, o mundo da modernidade facilitava muito esse estágio, a começar pela ditadura e determinismo imposto pelo “poder econômico” a volatilidade das emoções dentro dessa cadência em massas, no âmago das relações, sensações, desejos, impulsos para satisfazer desejos introjetados para dar respostas de consumo mistificado e desmistificado, tudo descartável, até as próprias pessoas quando fora desse circuito fechado.