Um encontro com o policial Eleandro Felício na Penitenciária de Florianópolis:

Dia 27.06.07, por volta das dez horas da manhã o Delegado Nilton Andrade (Corregedor-Chefe) veio até minha sala para uma conversa informal. Nilton relatou que foi nomeado Corregedor, porém estaria ganhando um salário menor, pois não poderia perceber horas extras.  Comentei que tinha  participado de reuniões com Corregedores de outros órgãos, como da Polícia Militar que era um Coronel/PM e que ficava um pouco ressentido porque não era Delegado “Especial”. Procurei não aprofundar a questão até porque tinha opinião formada e argumentei que nós estávamos ali para ajudá-lo. Nilton era  uma pessoa boa e se comparado a seus antecessores dava um banho em termos de humildade, muito embora tivesse dúvidas sobre ser uma pessoa autêntica e sem falsidades.

À tarde, resolvi dar uma chegada até a Penitenciária da Capital, onde conversei reservadamente com o ex-Policial Leandro Felício (preso em razão do caso do Delegado Marcucci de Joinville). Fui a procura de informações correcionais e durante o curso da nossa conversa, quando falávamos de Joinville, fizemos comentários sobre os Delegados que atuam naquela cidade. Leandro quando falou da “doutora Marilisa”  revelou que ela era muito esquecida, tomava remédios fortíssimos e acabava esquecendo tudo. Disse que muitos policiais subordinados acabavam se aproveitando da situação, fazendo-a de “boba da corte”.  

Por volta das treze horas, estava no Besc (Banco do Estado de Santa Catarina) e encontrei o Ouvidor da Segurança Pública (Cleto) que logo que me viu veio ao meu encontro e me trouxe uma novidade:

- “Estais sabendo, o ‘T.’ está para ser nomeado Ouvidor da Segurança Pública? Eu não tenho nada contra, mas eu disse para o Secretário Benedet que esse cargo de Ouvidor tem que ser preenchido por alguém de fora. Não dá para se colocar policiais, tem que ser gente de fora. Eu falei com o Secretário, citei alguns nomes de Delegados que conheço, citei até o teu nome”.

Interrompi para agradecer Cleto enquanto ele continuava:

- “Imagina, Genovez, para se receber verbas federais tem que se cumprir uma série de compromissos. Tá certo que mandaram pouquinho, mas o pouco que mandam já ajudou. Um dos compromissos é que esse cargo de Ouvidor seja preenchido por gente de fora”.

Fiquei surpreso com a novidade e argumentei:

- “O que é isso, mas o ‘T.’ Logo o ‘T.’? Eu acho que o Secretário está louco, se bem que a coisa é política e o ‘T.’ foi candidato pelo PMDB, tem cacife. Mas, sinceramente eu acho que o Secretário está marcando um gol contra se nomear ele para esse cargo. O ‘T.’ fez muito mal para a instituição, foi um dos nossos piores momentos da nossa história. Se nomearem ele para esse cargo só vão se desgastar...”.

Cleto evitou qualquer consideração a respeito de minhas palavras, comportando-se como um político hábil. Como estava próximo da chamada da minha senha, abreviei nossa conversa e meu interlocutor comentou ainda que iria me visitar na Corregedoria. Agradeci, disse que o aguardaria e que estava torcendo por ele.

Por volta das dezoito horas e quinze minutos tocou meu celular e quando atendi era Marilisa. Procurei controlar meu senso, minha expectativa de dias, minha curiosidade... Marilisa perguntou se estava tudo bem e eu respondi que sim, que as coisas estavam bem, tudo de maneira tranqüila, sem externar meus sentimentos de dias de espera por um sinal.  Mal começamos a conversar a ligação ficou ruim e acabou caindo. Imediatamente verifiquei o número no celular e fiz a chamada do telefone da própria Corregedoria. Do outro lado um policial atendeu e passou a ligação para Marilisa que disse que estava procurando o número da Corregedoria na sua agenda, seguido de um riso rápido e agudo. Novamente me perguntou se estava tudo bem e eu reiterei que estava tudo certo(!?!?). Aquele seu contato tinha um quê de preocupação, muito embora pude perceber que ela estava “rodeando, dando voltas...” e por algum motivo fugia do centro, evitava abrir seu coração, perguntar uma coisa direta, tipo: “pensei em ti; estava com saudades; como foi bom o teu último telefonema; não me ligasses mais, adoro conversar contigo, és especial, por favor me liga mais, me ajuda, tua presença é importante...”. Sim, procurei deixar pistas, sempre tomei a iniciativa de deixar a porta aberta, tudo em nome de uma amizade sincera, verdadeira e pura. Talvez não estivesse no seu alcance e só me restava cada vez mais me afastar.  Procurei fazê-la relaxar e falei de obviedades, ou seja, da viagem programada para a próxima semana, traçando uma tangente sobre nossa aproximação. Marilisa se sentiu em casa, falou do trivial, do que parecia ser o nosso lugar comum, fugindo do centro..., enquanto deixei as pedras rolarem como numa trama boba e idiota, esquecendo de vez aquela velha canção do vento, como parecia propor. Santana.  Ficamos em paz conversando sobre a jornada da próxima semana, se iria ser boa, se iríamos nos encontrar em Joinville, Navegantes... Marilisa disse que conversou com Ariane (Escrivã) que a avisou que a audiência da Penitenciária estava cancelada. Argumentei que nem lembrava mais da desse compromisso. Acabei propondo que na próxima quarta-feira eu, ela e mais o Delegado José Alves nos encontraríamos pela manhã na Delegacia Regional de Joinville e que o motorista Samir da Corregedoria iria nos apanhar. Depois lembrei que a primeira audiência seria na cidade de Alfredo Wagner, então ela e Alves teriam que vir até Florianópolis (Corregedoria) para em seguida seguirmos viagem até àquela cidade. Argumentei que na quarta-feira pela manhã deveria estar em Joinville e então deixaria meu carona na Delegacia Regional quando então poderia seguir com os mesmos até a Capital. Também, só para ver como é que ficaria, arrematei:

- “Olha, a partir de amanhã vou estar em Joinville até o final de semana. Tenho audiências aí. Na sexta vai ser com a Patrícia, estou presidindo uma sindicância...”. 

Marilisa do outro lado comentou:

- “Ah, é. Ah, sim...”.

Dava a entender nitidamente que queria passar ao largo, sem um encontro, muito menos dizer: “Puxa, que bom; até que enfim vamos poder comer aquela pizza; estou louca para conversar contigo; vem rápido; olha só, tenho um monte de coisas pra te contar; preciso te mostrar algumas coisas interessantes;  vamos dar uma passeada; então, não vais esquecer de passar aqui na Delegacia da Mulher, vou te esperar... Nada, absolutamente nada, mas, também, conhecendo seu histórico, seria muita pretensão esperar o contrário. No final da conversa Marilisa ainda disse que conversaria com Ariane e que logo em seguida telefonaria de volta para dar um retorno. Recomendei que assim procedesse pois eu não tinha a agenda de viagem e não me envolvia com itinerários. Marilisa terminou a nossa conversa me mandando um beijo que  retribui, mais nada, apenas encerramos a ligação sem maiores perspectivas. Evitei externar minhas reais intenções, ou seja, mais um encontro.... Depois que terminamos a conversa comecei a digitar este texto e fiquei pensando na canção do “vento”, nas forças que precisava para me fortalecer mais e estar preparado para os imprevistos. Sim, aquele contato de Marilisa me pareceu uma forma sincera e elegante de se manifestar, marcar presença, de dizer que está viva, que me ligou, tipo, dar um alô, mas só.  Meu lance derradeiro foi pensar: “Duvido que ela me ligue amanhã, sexta, sábado, domingo, segunda..., duvido”. Como consolo restaria ouvir a “Canção do Vento”, única forma de apaziguar meus pensamentos, secar minhas lágrimas ocultas, fazer esquecer nossos desencontros. Marilisa era especial e me tocava fundo... Talvez ela nunca soubesse desse seu poder, mesmo porque estava criando meus filtros, escudos... E a saída seria ficar distante, quanto menos contato melhor, muito menos em se tratando de lembranças...

Acabei lembrando do que me disse o ex-policial Eleandro Felício, de um dia para outro ela era capaz de esquecer tudo...