As frustrações do Delegado Baltazar e a falta de vergonha coletivo:

Dia 25.06.07,  por volta das quinze horas conversei com o Delegado Baltazar na 4ª DP/Coqueiros (Florianópolis), a respeito da sindicância do “Caso do Delegado Bottini”, cujo inquérito estava sob sua presidência. Baltazar relatou que esteve no encontro dos Delegados na cidade de Lages e retornou bastante frustrado, pois não constatou perspectivas, só “enrolação”. Argumentei que estávamos péssimos,  que o Governo Luiz Henrique  foi campeão de retrocessos para a Polícia Civil e, em especial, para os Delegados. Mencionei que tudo começou com Dirceu Silveira, depois Thomé, Ilson Silva e Maurício Eskudlark (este o menos pior). Baltazar confidenciou que estava respondendo uma sindicância e que coube ao Delegado Nilton Andrade ser seu algoz (“imagina, um Delegado de Quarta Entrância ser algoz de um Delegado Especial”, pensei). Baltazar relatou que seu filho passou no concurso da magistratura e era Juiz Substituto em São Miguel do Oeste. O outro filho estava estagiando no Ministério Público. Ambos comentaram com ele que era muito triste ver a situação da Polícia Civil, dos Delegados... e que como era  possível os Delegados não terem vergonha na cara. Argumentei que tudo aquilo era por culpa exclusiva dos Delegados de permitirem tantas décadas de  “politicagem” que permeava o universo dos Delegados..., no final éramos todos vítimas e algozes da instituição, dentro de um processo “altofágico” que se renovava a cada alternância de poder político.  Baltazar argumentou que estava com quase cinqüenta anos de serviço e ainda gostaria de trabalhar mais. Pensei: “Esse é um ‘mostro’, no bom sentido”. Em razão disso fiz meu comentário final:

- “Pois é, Baltazar, que vergonha, uma pessoa como você, com todo esse tempo de serviço dedicado... e aí jogado numa Delegacia, mesmo sendo um Delegado Especial...?”

Os espíritos de Nietszche e Shopenhauer:

Primeiro pensei em mim (onze anos Delegado Especial), depois no Baltazar (Delegado Especial e cinqüenta anos de serviço...) e Nilton Andrade (Delegado de Quarta Entrância e Corregedor-Chefe da Polícia Civil. Nada contra a pessoa de Nilton Andrade, mas o fato era que a esculhambação continuava, os Delegados mais novos assumiam posições de comando sem qualquer vergonha desse procedimento, apesar de legal, era imoral, antiético, violava princípios comezinhos que servia de fundamento para outras instituições... E,  Nilton Andrade poderia ser utilizado como exemplo próximo, seu interesse estava voltado à promoção para Delegado Especial e, depois, pensar em ir embora, se aposentar, fizesse chuva ou fizesse sol, para o bem ou para mal, servindo a Deus ou ao Diabo, disposto a participar de qualquer negócio para atingir seus objetivos. Assim também ocorreu com o Delegado Ilson Silva quando assumiu a Deic e, depois, a Delegacia-Geral... Digamos que todos são “bem intencionados, assumem cargos comissionados para servir os governantes, e como será que irão entrar para a história? Na verdade uma  triste trajetória profissional, com direito a auto justificação enquanto estiverem por cima e depois que deixam o poder e circulam naturalmente entre seus pares, pois cumpriram seus papéis, estão com suas consciências tranqüilas..., inclusive com o legado que deixaram para futuras gerações. Fiquei pensando: “Que destino estaria reservado para mim? Serei somente um historiador? Estarei vivo algum dia para deixar meus registros históricos? Verei o fim dos tempos? Como serei lembrado? Qual será o meu legado para as futuras gerações e para a sociedade?” Depois lembrei do livro que estava lendo ontem sobre a “Biografia e tragédia de Nietszche” que tratava sobre o apego incondicional “Zaratustriano” pela musicalidade de Wagner, a emoção, a loucura, os extremos, os impulsos, os errantes...”. E o liame com Schopenhauer (que influenciou tantos, como o próprio Nietszche) e seus conceitos dogmáticos questionando a vida,  o humano, a felicidade e o pragmatismo, em especial, em se tratando dos “egos” com fêmeas novas, lindas e sensuais.  Lembrei da visita que Nietszche fez a Colônia (Alemanha), o bordel que visitou, o piano... seu “El Bigódôn” e a mulher que resolveu ouvi-lo, sim, eu disse “ouvi-lo”, talvez como Marilisa que de certa forma também me ouve... Pobre Nietszche e a primavera de 1888.

Por volta das dezoito horas, o Delegado Optemar Rodrigues encontrava-se na Corregedoria da Polícia Civil e veio até minha sala para conversar um pouco e dizer que também tinha participado da assembléia-geral dos Delegado em Lages. A preocupação de Optemar era com o Delegado Sérgio Maus (Presidente da Comissão de Promoções dos Delegados de Polícia). Em razão disso comentou que durante os debates na assembléia-geral abriu uma discussão, pois Sergio Maus teria dito aos presentes que mandassem documentos para contabilizar pontos por merecimento para fins de promoção. Optemar argumentou que essa orientação na verdade se constituía uma  arbitrariedade, pois a lei mandava levantar as informações na pasta funcional. Disse que durante os debates o Delegado-Geral Maurício Eskudlark defendeu a posição de Sérgio Maus. Optemar ainda relatou que a Delegada Sonéa – Presidente da Associação dos Delegados - teria comentado que o ex-Delegado-Geral havia realizado o último processo de promoções de maneira “ar.”, totalmente “Il.”, porque não respeitou a lei, não constituiu comissão “coisíssima nenhuma”. Ao final da conversa, Optemar revelou que o objetivo de Maurício Eskudlark era promover os Delegados Neves (esposo de Sonéa) e Ilson Silva à graduação “Especial”, e que era só esperar para ver...

O efeito “estigmata”:

E ao final do dia não tive como pensar no efeito “estigmata”, na esfinge que tomou meu pensamentos nos últimos dias... Sequer um telefonema de Marilisa, sequer um sinal, um agradecimento, um toque, absolutamente, nada, absolutamente nada!  Tão quente em meus pensamentos, como querida amiga, com um ser transcendente no meu mundo, que se fez importante,  com poderes sobrenaturais de semi-deusa, capaz de gizar minhas forças mais ocultas, de me resgatar de “buracos-negros”. Mas, o que importava era que tudo girava em torno de nós, da nossa amizade e da necessidade que procurei desenvolver a partir da sua presença. Diante disso me questionei como deixei que sua energia ganhasse tanta força dentro de mim, para desejá-la, querê-la sempre próxima, perto do meu coração. Se “metamorfizou” em amuleto, num “serzinho” gnomo, espelho d’alma, um catalizador de forças mediúnicas para o bem? Marilisa talvez nem sonhasse com tudo isso, seu mundo parecia muito pequenino, e como não tinha como alçá-la do nível em que se encontrava, então o jeito era deixar as coisas seguirem seu curso natural, era como se já fosse muito tarde...: “vai, vai, vai, Marilisa, vai na tua cabelereira, vai cuidar das tuas unhas, mas volte sempre!!!

“Karavansarai” e a Canção para o Vento:

Dia 26.06.07, por volta das oito horas estava me dirigindo para a Corregedoria da Polícia Civil (ex-Gerência de Orientação e Controle), uvindo aquela quinta faixa do melhor de C. Santana (Caravanserai – Canção do Vento). Aliás, desde ontem que ouvia aquelas faixas com os acordes de guitarra solo que me elevam às alturas, mexiam com minhas entranhas, causavam um estrago “amplidérrimo” e “epidérmico” na  minha mente. Logo pela manhã pensei em Marilisa com carinho e agradeci pelo bem que me fez nos últimos tempos. Sim, estava sendo egoísta, pois não percebia ou não queria aceitar suas limitações e seus temores.  Evidente que na sua visão meu comportamento gerava um campo energético de “caçador” de energias, e como explicar que não era nada disso para uma mulher “construída”, “civilizada”, processada culturalmente num meio onde os valores eram convencionados e deformados?  Como explicar a ela que propunha que nossas energias transcendiam a tudo, era uma força  muito superior, como naqueles acordes de Santana e sua dialética aguda na qual incitava e desafiava o vento a lhe dar respostas a seus enigmas?

Eureka!!!

Já estava na minha mesa digitando essas passagens, ainda sob transe e afetado por aqueles acordes superiores de cordas mágicas, como meus sentimentos ainda efervescentes em relação a doce Marilisa. Sei que da sua parte existia retroatividade e receptividade de pensamentos espelhados, existia eco nos nossos sentimentos, mas ao mesmo tempo, seu mundo estava prontinho, e abrir mão dele para uma relação a dois, nesta etapa da vida era  algo impensável. Então comecei a pensar seriamente nesse fato, que ela poderia estar imaginando que seria esse o desígnio que nos esperava, e como já teve uma desilusão amorosa muito grande, talvez tivesse medo de repetir seus erros. No meu caso não era nada disso que eu pensava almejava, pois perto do que estava registrando e me propondo a fazer, era algo muito superior se comparado à busca por acasalamento, romance, não era o que eu queria, muito embora estive também presente o espírito de Lancelot nas nossas relações. Digamos que nossa energia era intrigante, uma viagem ao desconhecido, que perpassa a tudo, transcendia muito além do previsível e de nós mesmos, uma relação de irmãos, com amor, carinho, estima, paixão...... Talvez fosse mais que tudo isso ou nada disso. Lembrei do sorriso de Marilisa, de seus gestos, da sua voz e como tudo isso afetava prazerosamente meus pensamentos, minhas memórias, como desencadeava transformações físico-químicas, liberava neurotransmissores... Na verdade nossa proximidade funcionava como fontes de processamento e liberação.  Depois vinha a memorização e como isso era resgatado e processado, gerando aquele sentimento de falta, ausência, uma sensação incrível da mente humana, uma experimentação, uma viagem...  E ao mesmo tempo, como nós humanos éramos tão primários diante de nossos impulsos, desejos... Era imperativo evolução e enfrentamento para lidar com essas energias, mais se parece adolescente (eureka!), como se estivesse fazendo experimentos emocionais, sinápticos.  Sim, mas essa era a minha condição humana: interagir, conhecer, gerar ciência, pensar, descobrir, meditar,“cultivar” a espiritualidade e possibilitar a união de forças para se praticar o bem e deixar um legado melhor para as futuras gerações. Marilisa poderia ser parte desse processo.  Sim, era verdade, existiam muitos anjos em nossas vidas, mas nem todos conseguiam  nos conduzir até dimensões (neurais) amplificadas da mente, a pontos misteriosos de um futuro incerto e imprevisível, e esse era o nosso diferencial. “Obrigado Marilisa por tudo isso, você simplesmente é um anjo, meu anjinho.  E o incrível é que depois do nosso último contato estarei me afastando, primeiro para me preservar, segundo para preservá-la, terceiro, para preservar-nos, quarto porque existe um diferencial entre nossas visões de mundo e acredito que você talvez não esteja preparada para entender o sentimento emulado que se desencadeou em nossos universos”, pensei. 

Comutação e dualismo cruzados:

A grande resultante de tudo isso era o fato que compreendi um pouco mais a energia gerada por aquela entidade parceira e cúmplice do tudo e do nada. Também, como Marilisa podia ser capaz de gerar nesta entidade processos receptivos a partir de emulações neurais resultantes das sinapses mais recentes e especializadas,  potencializando sentidos, capaz de processar informações via sistema límbico com o banco de memórias permanentes e fixadas de forma sentida, culturalmente aceitas, liberando neurotransmissores finos ligados aos sentimentos mais nobres, além da inerência de nossas vontades cruzadas capazes de nos proporcionar enlevos de percepção do outro, da fluidez da emoção natural e da fixação de nossas novas memórias de forma dual.