DELEGADA MARIA ELISA (PARTE XXIII): O UNIVERSO POLICIAL CONSPIRA, ISSO “PRÁ DIZER QUE NÃO FALEI DE FLORES E SERIA UMA SIMPLES QUESTÃO DE PERCEPÇÃO SENSORIAL?”
Por Felipe Genovez | 19/02/2019 | HistóriaOs efeitos de um plantão na CCP de Joinville e a fragilidade de uma Delegada:
Por volta das dezessete horas, encontrava-me no Posto Sinuelo da BR 101, Araquari, e resolvi ligar para Marilisa. Na verdade queria saber se ela havia recebido meu “torpedo”, muito embora soubesse que ela esteve no plantão da Central de Polícia e no dia seguinte dormiu até à tarde. Depois que o celular tocou algumas vezes, ela, enfim, atendeu. Logo foi me dizendo com uma voz carreada de sonolência:
- “Acabei de levantar, estou fazendo um ‘cafezinho’. Ontem estive de plantão. Sim, recebi o teu torpedo. Acabei de ver. Daqui a pouco vou na minha cabelereira, acabei de telefonar para ela...”.
Fiquei pensando nas dimensões, nas grandezas de suas manifestações, mas preferi a “quase” indiferença e argumentei:
- “Ah, sim, é bom ir na cabelereira pintar esses cabelos, ficar bem bonita...”.
Marilisa do outro lado interrompeu com a receptividade das boas novas da minha presença:
- “Sim, tenho que pintar porque já estão aparecendo os brancos...”.
Interrompi:
- “Sei, eu já percebi os teus cabelos brancos...”.
Marilisa:
- “Ah, sim, eu quero pintar os cabelos, as unhas, quero ir para frente do espelho e me sentir bem, afastar esta depressão...”.
Resolvi descambar um pouco a conversa e comentar:
- “Vivemos num mundo onde o ‘poder econômico’ dita nossas vontades, determina nossas vidas. Você é uma pessoa bonita por dentro, não se preocupe tanto com a beleza externa”.
Marilisa interrompeu:
- “O mundo hoje é do ter, o que importa é ter, poder!”.
Interrompi:
- “Marilisa, isso ocorre desde muito antes do Império Romano”.
Marilisa me interpelou:
- “Como é que é? Não entendi?”
Continuei:
- “Eu disse que isso ocorre desde antes do Império Romano, ou você não sabia que o Imperador Julio César...”.
Marilisa me interrompeu:
- “É verdade. Mas isso não leva a nada!”
Interrompi:
- “Ah, deixa pra lá! Não vamos descambar para essa conversa. Tu estais bem? Ainda estou preocupado contigo?”
Para minha surpresa a impressão era que Marilisa havia confundido tudo:
- “Ah, eu já estou melhor. Bastou dormir um sono que eu já me refiz do plantão...”.
Meio estonteado interrompi, sem deixar escapar nenhum sintoma de minha perplexidade:
- “Não, não, Marilisa, eu estou falando daqueles teus problemas estomacais”.
Marilisa se deu conta e rapidamente respondeu:
- “Ah, sim, já estou bem melhor. Já estou boazinha.”.
Argumentei que assim eu ficaria mais tranquilo. Perguntei se ela havia gostado do meu “torpedinho” e ela comentou :
- “Ah, sim gostei. Muito bonito!”
Fiquei pensando: “Meu Deus, mas foi apenas uma mensagem gráfica, o que será que ela deve estar pensando?”
Marilisa novamente reiterou que iria na cabelereira pintar os cabelos e perguntou onde eu estava naquele momento. Depois questionou o que eu iria fazer no dia seguinte:
- “Amanhã vai ser dia de faxina. Vou pegar meu empregado e vamos trabalhar na faxina, tenho um monte de coisas para fazer o dia todo”.
Marilisa me interrompeu:
- “Eu adoro essas coisas. Adoro a terra, o chão o trabalho ao ar. Eu também faço essas coisas. Adoro”.
Lembrei da importância do contato com as pessoas e como precisamos contar com quem realmente tem conteúdo. Marilisa interrompeu e fez o seguinte comentário:
- “Sim, é verdade. Como são importante as pessoas, como são importantes os amigos”.
Notei que ela teve alguma dificuldade para mencionar a locução “amigos”, como se tivesse algum receio ou resistisse em externar esse sentimento quanto ao tamanho da nossa relação. Em seguida, antes de terminar a ligação, perguntei algumas coisas sobre a última reunião de segunda-feira com o Delegado Dirceu Silveira (DRP/Joinville), querendo saber se ele havia mencionado alguma coisa sobre meu relatório sobre a “Central de Polícia”. Marilisa comentou que na última reunião o Delegado Regional aparentava estar bem melhor, mais bonzinho:
- “Eu acho que ele estava ‘bonzinho’ porque soube que não está doente. Foi tudo um erro de laboratório. Ele chegou a citar o nome do laboratório. Recomendou que agente nunca procure aquele laboratório que deu o resultado errado para o exame dele...”.
Delegado-Geral desconhecia a realidade criminal de Joinville?
Marilisa ainda relatou que Dirceu Silveira fez alguns comentários a respeito da situação da Polícia Civil em Joinville e que o Delegado-Geral Maurício Eskudlark esteve na cidade e disse que desconhecia a situação da Polícia local. Marilisa também arriscou dizer que sobre meu relatório nada foi mencionado, calculando que talvez ainda não tenha sido recebido ou chegado ao conhecimento do Delegado Regional de Joinville. Tomei a iniciativa de terminar a conversa e deixei um “beijão” para ela que fez o mesmo. Foi só, e assim encerramos a conversa. Fiquei impressionado, quando se tratava de assuntos de serviços Marilisa era bem articulada nas palavras, mas quando se tratava de outros assuntos mais abstratos que envolviam sentimentos aí ela apresentava falta de conteúdo, grande dificuldade de manter uma conversação noutro nível... Fiquei pensando na questão da faxina amanhã e quando ela comentou que adorava essas atividades domésticas. Em razão disso pensei: “Será que ela estava esperando um convite para que fosse me ajudar? Não era possível, não poderia ser, e lembrei da história da Pizzaria Baggio que ela disse que me levaria para conhecer, só que quando eu tomei a iniciativa de cobrar o convite deu no que deu. Com essa história da ‘faxina’ de amanhã, sem chance, nem pensar, não iria convidá-la...”.
A percepção sensorial e uma "gafe":
A bem da verdade Marilisa era uma pessoa que apresentava sérias limitações em termos de percepção das coisas, muito embora apresentasse uma energia maravilhosa, era pratica, externava gestos tão gentis, atitudes verdadeiras, palavras de consolo, espontaneidade... Para destoar disso, lembrei aquela vez que fomos almoçar juntos no restaurante Rudinick (Joinville, às margens da BR 101) e após o almoço ela pegou um palito e passou a “palitar” os seus dentes em público, bem na minha frente, sem qualquer inibição, desconforto. No ato, lembrei que adverti:
- “Por favor, Marilisa, não faça isso na minha frente. Você é uma pessoa maravilhosa, não merece isso...”.
Lembrei também que ela havia repetido essa cena quando almoçarmos juntos no restaurante do “BIG” da Beira-Rio (Joinville) e naquela época eu não tinha tanta liberdade para censurá-la. Mas isso em momento algum queimava sua imagem de mulher virtuosa, muito embora faltasse muito para ser uma mulher de “catchigoria”, muito embora gostasse dela à sua maneira. Lembrei que Marilisa e seu ex-marido (Advogado Lima) tinham churrascaria em Joinville (na frente da residência onde residia) e provavelmente antes de ser Delegada trabalhava no faz tudo e que adquiriu alguns hábitos de gente que freqüenta esse tipo de ambiente..., talvez faltasse senso ou seria uma simples questão de ausência de percepção sensorial?