Dia 21.06.07, por volta das quatorze horas, estava na Gerência de Orientação e Controle da Polícia Civil e resolvi conversar com o Corregedor-Chefe Delegado Nilton Andrade, com o objetivo de dar uma satisfação sobre a viagens de serviço. Relatei que a viagem até Foz do Iguaçu foi produtiva e concluída dentro do que esperava. Também, relatei a conversa que tive com a Promotora Regina de Videira, sobre as denúncias que formulou contra o Investigador Policial “B.” que – segundo ela – adquiriu duas máquina caça-níqueis e as colocou num bar, além de cobrar propinas...  Nilton perguntou se a Promotora de Justiça havia dito em que bares haviam sido colocadas as máquinas. Respondi que não entrei em detalhes. Depois relatei que pedi para a Promotora Regina que ajudasse os Delegados a combater as ingerências políticas na Polícia Civil e que ela resumiu tudo dizendo que era simplesmente a Promotora de Videira. Também, registrei que a doutora Regina havia reclamado que o MP não recebia notícias a respeito de documentos que encaminhavam ao nosso órgão correcional, também, sobre a conclusão dos trabalhos investigatórias disciplinares. Informei o Delegado Nilton que provavelmente a partir de outubro ou novembro deveria passar a usufruir cerca de nove meses de afastamento e depois, talvez, protocolasse meu pedido de de aposentadoria. Solicitei que se fosse assim resolvido, a partir de setembro não seria mais para que me passasse procedimentos correcionais. Nilton concordou e disse que o Delegado Douglas Marreiros também já havia solicitado um mês de férias para o próximo mês. Argumentei que meu motivo era em razão da falta de perspectivas futuras em termos profissionais, um governo indiferente, mudanças estruturais, falta de perspectivas profissionais... Também citei a falta de hierarquia na instituição, mencionando o caso do Delegado Regional de Blumenau (Rodrigo Marquetti). Nilton se encolheu um pouco, pois também estava numa situação indigesta, pois comandava Delegados Especiais, enquanto ele era ainda Delegado de Quarta Entrância.  Procurei pegar leve com Nilton e no final da conversa senti que ele ficou mais animado, concordando que a quebra de hierarquia era um problema sério e precisava ser resolvido.

A notícia triste do dia foi que Marilisa sequer deu uma ligada para conversar comigo, sequer quis saber o que seriam “Portais Estelares”, “neurônios espelhos”, muito menos foi gentil em retribuir toda a minha preocupação dos últimos dias... Cheguei a desconfiar que Marilisa vivesse noutro mundo, ou se fizesse de insensível, boba, tola, típico do mundo de “Barbarella”, cuja situação poderia ser comparada à Delegada Jane Pícolli, ou seja, seriam sobreviventes, frustradas, desiludidas, cheias de medos e sem esperanças... Apenas ofereci o meu melhor: minha amizade, minha sensibilidade...  Mas tive que agradecer porque serviu de balão de ensaio, laboratório... eis que nesta vida as pessoas são o centro do universo, das nossas atenções e orações. Lembrei daquela música que dizia que “...pois sei quem és para mim”. Sim, era verdade, mas talvez ela nunca viesse a saber o que eu significaria para ela, estava muito distante, longe do seu alcance. Lembrei que o Delegado José Alves havia me confidenciado que há alguns anos atrás Marilisa parecia sempre fazer corpo mole para trabalhar, faltava ao serviço, chegava tarde..., e na minha opinião isso poderia ser conseqüência do fato de ter sido exonerada do cargo de Delegada Regional de Joinville. Creditei essa realidade ao fato de Marilisa, a exemplo do Delegado Juraci Darolt e outros, se julgar injustiçada, sem ânimo para trabalhar, ainda mais quando teve que retornar para uma Delegacia de Polícia que não contava com o mesmo peso político do cargo de Delegado Regional. Porém, a coisa mudou de figura quando se criou as horas extras para Delegados aí sim Marilisa teve que se superar e passou a aparecer mais no serviço, tudo em razão da força do     “vil metal” (aliás, isso foi geral!!!). A impressão era que diante dessa nova realidade Marilisa  conseguia saber onde estava pisando, o que queria e como se blindar contra maldades internas.  Apesar de tudo, sentia que ela era uma Delegada que soube superar tudo, especialmente, depois da sua separação que lhe causou dor, sofrimento,   trauma e vergonha pelas circunstâncias... Marilisa deve ter ficado muito abalada, o que provavelmente levou a fazer tratamentos... Dava para perceber que era uma super mãe,  querida, carinhosa, dedicada, preocupada, fabulosa...   Diante de todo esse quadro deixei rolar esses acontecimentos, muito embora estivesse achando que ela estivesse um tanto perdida, confundida... Lembrei quando ela me disse que seu pai adorava música e que iria se dar bem comigo...  Mas achei que se um dia eu fosse lembrar tudo que ela me disse iria  dizer que não lembrava de nada do que vivemos e conversamos. Daí, a conclusão que ela possuía realmente sérios problemas de memorização, esquecia fácil as coisas, enquanto eu lembrava de quase tudo...  Mas apesar de tudo Marilisa era um anjo bom, gostava da sua companhia, da sua energia, amizade que me passava e pelo bem que me fez em estar presente no meu universo e permitindo meus registros. Era como se fosse consultar um médico e saísse do seu consultório leve, feliz, compreendido...  Mas a notícia triste era  que poderia ter mandado notícias nem que fosse para liquidificar sonhos, pensamentos, fatos...

Dia 22.06.07, por volta das dez horas da manhã, cheguei na Delegacia Regional de Camboriú e resolvi mandar um “torpedo” para Marilisa. Estava há dias com ela nos pensamentos e a sua presença continuava a me iluminar. O “torpedo” tinha uma mensagem gráfica (uma flor) e a seguinte mensagem:

“Pra não dizer que nunca te falei de flores...”.

Confesso que diante de tanta desconexão e autismos profissionais cheguei a hesitar um pouco em mandar a mensagem, mas era isso que eu tinha prá lhe registrar, vinha do meu âmago para uma pessoa tão especial e para tantas outras... No caso de Marilisa era o que estava vivendo e respirando intensamente nos últimos tempos, a profussão de nossos sentimentos... e o que corria nas nossas vidas.