Delegado Hilton Vieira: o antes e o depois, até os seus sinais de fim dos tempos: 

Dia 16.04.07, segunda-feira, por volta de meio-dia a Delegada Marilisa me ligou para conversar sobre uma audiência a respeito de um processo disciplinar (Delegado Gilberto Cervi e Silva/Balneário Camboriú). Por volta das dezoito horas o Delegado Hilton Vieira veio até meu gabinete na Gerência de Orientação e Controle e revelou que até setembro daquele ano daria entrada no seu pedido de aposentadoria. Pelas internas cheguei a duvidar que isso fosse verdade, pois Hilton era um “aficionado” pelo trabalho. Mas olhando bem seu semblante, percebi que ele já não parecia mais o mesmo de antigamente.  A começar pelo seu andar mais cansado, seu cabelo estava ficando grisalho, seu corpo e pele revelam uma certa decadência geral.

Acabamos conversando sobre o contexto em que estávamos mergulhados e ele foi desabafando:

- “Não dá mais, né Felipe. Eu ando muito desanimado com tudo. Fiz uma investigação lá no oeste agora, um caso grande, envolve corrupção de policiais, tem um Delegado envolvido, existem os testemunhos de vários presos incriminando os policiais, deram número de conta e tudo. Mas aí chega lá encima e mandam segurar...”.

Interrompi para arriscar um palpite:

- “Sim, esse Delegado é lá do Oeste?”

Hilton respondeu que era de Chapecó. Insisti:

- “Mas é dos antigos...?”

Hilton respondeu:

- “É mais ou menos, o nome dele é Geovani. Bom, a gente fica muito decepcionada...”.

Concordei e fiz um arremate:

- “Mas o que tu queres Hilton, olha bem o nosso contexto, olha bem onde estamos mergulhados...”.

Acabei comentando que muitos casos que permearam a segurança público nos últimos anos foi por conta da falta de uma rede de informações eficiente, em especial, dentro do próprio serviço correcional. Citei os casos do ex-Delegado Sérgio Lélio Monteiro, Alcino Silva e Brasiliano. Quando citei o caso “Brasiliano” observei na face e nas palavras de Hilton uma certa satisfação, seguido deste comentário, esboçando certa dose de glória:

- “O caso do Brasiliano foi eu também que levantei...”.

Evitei maiores comentários e perguntei:

- “Bom, tu sabes o que é que matou o Acioni? Já pensastes nisso? Foi a própria instituição, podes ter certeza que foi. Todo mundo sabia que ele estava doente desde aquele acidente na Beira-Mar com a viatura. Depois veio o vício do jogo. Na Central de Polícia todo mundo sabia que ele voltou a jogar. Tudo mundo sabia que ele já não se sentia bem lá. E ainda deram o comando da Central para ele. Imagina, ele já naquela situação, e ainda mandaram comandar aquilo lá, só poderia dar no que deu. Por que não fizeram um exame nele? Por que não exigiram...?”

Hilton não teceu comentário algum, apenas deixou escapar um suspiro. Em seguida apontei o jornal “A Gazeta’ de Joinville e disse:

- “Taí, o caso do Marcucci é outro. Imagina, um Delegado substituto assume uma cidade como Joinville, dá licença, né Hilton. Era para o Marcucci começar lá pelo oeste, crescendo bem ‘devagarzinho’. Eu acho que em se tratando de ex-policiais civis de fora que vêm fazer concurso aqui no Estado a Chefia de Polícia tinha que ter um cuidado especial, um acompanhamento...”.

Hilton interrompeu:

- “Inclusive ele foi reprovado no psicotécnico, entrou com liminar...”. 

Concordei:

- “Sim, mais um motivo para haver um acompanhamento especial...”.

Hilton deu a impressão que o assunto lhe interessava e foi revelando:

- “No caso do Marcucci os Promotores queriam a cabeça dele a qualquer custo. Eu estava lá trabalhando com os Promotores em Joinville e estava vendo que eles queriam a cabeça dele. Eu comecei a aprofundar as investigações na esperança que conseguiria inocentá-lo, essa era a minha idéia inicial. Eu não imaginava que a coisa iria chegar ao ponto que chegou...”.

Interrompi:

- “Sim, imagina a repercussão, imagina a mídia encima, imagina o Thomé pressionando, a Justiça...?” 

Hilton interrompeu:

- “O Thomé também queria a cabeça do Marcucci, eles estavam disputando poder...”.

Interrompi:

- “Sei, eram dois astros, eram dois ‘sóis’ brigando por espaços políticos, o Delegado-Geral e o Delegado Regional da maior cidade do Estado, e aí imagina no que iria dar...?”

Nisso chegou o Delegado Feijó (Corregedor-Geral da Segurança Pública) que foi entrando na minha sala deslumbrado com meu notebook de última geração. Procurei passar tranqüilidade e fui afirmando:

- “Nem cumprimentasse o Hilton...”.

Feijó, bem à vontade foi dizendo:

- “Cumprimentei lá encima já...”. 

Feijó se interessou pela manchete do jornal “A Gazeta” de Joinville de 22 a 26 de março de 2007 e foi afirmando:

- “Tudo começou lá na Marlene Rica...”.

Acabei fazendo umas brincadeiras e perguntei:

- “Sim, Feijó, disseram que tu também estavas lá naquela noite...”.

Feijó imediatamente negou. Hilton olhou o jornal e achou que era coisa antiga, até que eu disse que era atual e que a sua foto estava estampada no interior. Hilton com ligeireza e curiosidade, meio que duvidando, foi perguntando:

- “É verdade mesmo que minha foto está aqui dentro? Estão me denunciando?”

Tranqüilizei Hilton dizendo que não era nada disso e que se tratava apenas de uma matéria. Hilton leu o artigo com tranqüilidade e no final disse:

- “Bom, Felipe, pelo menos eu à noite durmo com uma plaquinha na parede lá em casa,  durmo bem tranqüilo...”.

Interrompi:

- “Que nada, Hilton. O povo não quer saber de nada, nós acabamos virando pó. Eu não me preocupo com o resultado do meu trabalho, me preocupo, isto sim, é de fazer o melhor, agora o que vem depois não me interessa porque se não eu acabo doente...”.

Hilton ficou meio sem saber o que dizer e tentou ainda argumentar alguma coisa e eu insisti:

- “Hilton, olha o contexto em que nós estamos inseridos? Olha só a operação da Polícia Federal nesta semana, prendendo Desembargadores, Delegados, Advogados... e aqui no Estado, heim?”

Hilton interrompeu:

- “Bom, tu sabes por que o "M." é o Chefe de Polícia, sabes? O "P." é dono de cassino, de loja que explora jogos eletrônicos lá em Balneário Camboriú e precisa do "M." na Chefia para dar cobertura, queres mais?” 

Feijó já tinha saído e a conversa ficou entre eu e Hilton. Era tudo verdade ou mentira, porque provas não existiam, muito embora todo mundo falasse tudo ou nada sobre esse assunto pelos bastidores.

As estatísticas e os “Bodões”: Delegado Carlos Heinemberg segue o caminho do Delegado Alcino Silva:

Por volta das dezoito e trinta fui até o Setor de Protocolo da Corregedoria e levei um choque ao ler a primeira página do Diário Oficial de 02.04.07: A demissão do Delegado Carlos Heinemberg... Sim, outro que serviu de “bodão-expiatório”, e tudo começou na           “Era Lipinski e Rachadel”, cujo tempo entrou para os anais da história da Polícia Civil, produto de um governo  fisiológico, depois com a turma do PMDB que nunca mais será aquele movimento histórico que já foi. Carlos Heidemberg era mais uma vítima do caos institucional, das omissões da própria direção da Segurança Pública e da Polícia Civil, das ingerências políticas, da falta de controle, da tirania... Heinemberg, com seus quase trinta anos de serviço policial, acabou entrando para as estatísticas dos desafortunados, dos desapadrinhados, dos vulnerados, ... 

O Delegado Carlos Heinemberg nos últimos anos apresentava sérios problemas de saúde, todos sabiam da sua realidade, e acabou cometendo erros levianos, tolos..., assim como Alcino Silva.

O amigo e Delegado Hélio Natal Dornsbach uma vez na 2ª DP de Chapecó me relatou que quando Carlos Heinemberg era seu adjunto os policiais comentavam que uma “velhinha” todos os dias vinha visitá-lo pela manhã. Aquilo já havia se tornado uma rotina, e Heinemberg passava horas trancado em seu gabinete com a anciã magrinha. Depois, quando a mesma deixava a repartição próximo do almoço os policiais entravam no seu gabinete e quase não suportavam um cheiro fétido exalando pelas entranhas do gabinete... Natal fazia seus relatos com um certo quê de cênico e ao mesmo tempo com ironia e imposição com a voz grave, tendo reprisar as frases de seus subordinados e as suas próprias impressões... Procurei argumentar que o Dr. Heinemberg deveria estar fazendo algum trabalho espiritual de aconselhamento para aquela senhora... Mas Natal era impiedoso nas suas adjetivações e impressões pessoais...

 Lembrei Heitor Cony quando comentava sobre um ex-amigo intelectual que dizia no Rio de Janeiro: “Ah, se eu fosse Chefe de Polícia por um dia...” (referia-se a “Otto Maria Carpeaux”). Sim, Cony reverberava aquilo sem muito conhecimento de causa, era mais emocional..., mas era verdade.

Bom, se eu fosse Chefe da Polícia por um minutos, revogaria tudo..., e revogam-se também as disposições em contrário!!!