Uma trágica notícia: 

Dia 10.08.07, por volta das vinte e duas horas recebi uma notícia muito triste: meu amigo Arno Vieira (Comissário de Polícia aposentado) me ligou de Florianópolis avisando que seu filho Wildemir havia acabado de falecer em razão de um tumor no estômago, foi uma noite bastante pesarosa. Se tratavam de dois amigos valorosos (pai e filho). Tanto Arno (como o Investigador Marcos Antonio Cordeiro – o “Marquinhos”, o Comissário Ademir Figueiredo, a Investigadora Rita de Cássia Adriano, o Escrivão Osnelito Souza, o Delegado José Guaianaz de Lima...) foi um dos meus braços na construção da “Federação Catarinense dos Policiais Civis”, depois transformada em “Sintrasp” e atual “Assesp”. No período de quatro anos, durante a minha presidência (1987/1991), saímos praticamente do nada e adquirimos dois terrenos (totalizavam aproximadamente vinte e cinco mil metros de área), construímos a Sede balneária do Campeche, também fizemos a aquisição dos dois apartamentos no centro de Florianópolis (sede administrativa e Hotel de Trânsito), iniciamos todo o processo de criação das “Apocs” (Associações Regionais de Policiais Civis, injetando recursos para o início da construção da sede de algumas delas, como foram os casos de Chapecó, São Miguel do Oeste, Araranguá, Criciúma, Canoinhas...), ingressamos com milhares de ações em defesa de direitos dos policiais... Já Wildemir foi chamado por mim para trabalhar na Penitenciária Estadual de Florianópolis, quando assumi a direção daquele estabelecimento (1995/1997), vindo a ocupar inicialmente  um cargo de confiança. Depois ingressou na carreira de Agente Prisional por meio de concurso. A mãe de Wildemir era irmã da esposa de outro grande amigo, o Delegado Wilmar Domingues.

Dia 13.08.07,  logo no início da tarde, o Delegado/Corregedor da Polícia Civil Nilton Andrade me pediu que desse uma chegada na DEIC para ouvir um preso de nome Klaisson, suspeito de ter praticado um homicídio na Capital.  Logo em seguida me dirigi até aquele órgão especializado em investigações criminais, isso por volta de dezoito horas, fui direto para o gabinete do Delegado Célio Nogueira que estava de saída.  Logo que me viu chegar “Celinho” comentou:

- “Puxa, esperei, esperei, pensei que não vinha mais. Disse que viria até as dezessete e já são dezoito, já estava de saída, tenho um compromisso na minha igreja...”.

Nossa tropa de choque nos relatos do Delegado Ilson Silva (Diretor da “Deic”):

Argumentei que não teria problema, ele poderia deixar sua sala aberta que eu e a policial Patrícia ouviríamos o preso. E assim foi feito. Quando já passava das dezenove horas e trinta minutos apareceu o Delegado Ilson Silva que de surpresa e abriu a porta. Ilson estava com aquele seu terno preto, com listas discretas, gravata preta, camisa branca, seu rosto ostentava o velho bigode dando a impressão que além da estética pretendia  dar ares de “homenzarrão”,  impor respeito...  Depois dos cumprimentos iniciais, Ilson foi relatando  que tinha acabado de chegar de uma reunião com o Secretário Ronaldo Benedet  que durou toda à tarde. Em seguida fez um quase desabafo:

- “É, eu não sei se nós vamos segurar mais esta. Estávamos lá reunidos com o comando da PM e eles querer por que querem também fazer os ‘TCs’. Eu acho que nós não vamos conseguir segurar...”.

Logo pensei no Delegado-Geral  Maurício Eskudlark, no seu fiel escudeiro Delegado Regional de Balneário Camboriú – Delegado Ademir Serafim,  todos muito políticos, será que defenderiam os interesses da Polícia Civil nessa hora ou ficariam encima do muro para não bater de frente e, assim, pousariam bem na foto. A seguir perguntei para o Delegado Ilson:

- “Sim, mas e o Secretário, o que diz?” 

Ilson ficou meio que surpreso com essa incursão e respondeu:

- “O Secretário se manteve neutro. Ele disse que os dois comandos é que tinham que decidir...”.

Interrompi:

- “Bom, então as nossas lideranças, os nossos Delegados têm que fazer um movimento, eles têm que fazer um levante contra isso...”.

Ilson ouviu em silêncio e deu a impressão que não queria polemizar o assunto, apenas assumiu o papel de ouvinte, expectador dos fatos e assim se despediu mediante o silêncio total. 

Nossa tropa de choque nos relatos da Delegada Magali Ignácio (Corregedora):

Dia 14.08.07, por volta das sete horas e quarenta minutos, já estava na Corregedoria da Polícia Civil e resolvi ir até a cozinha para tomar um cafezinho. Logo que entrei encontrei a Delegada Magali Ignácio, bastante constipada por causa de uma gripe, “desabafou”  que no dia anterior  teve que ficar até mais tarde acompanhando o Delegado-Geral Ademir Serafim numa reunião no gabinete do Secretário Ronaldo Benedet, onde os Comandos das Polícias Civil e Militar discutiram um “acordo” sobre a lavratura dos “TCs” (Termos Circunstanciados). Magali fez o seguinte relato:

- “Nós estávamos no Gabinete do Secretário (Deputado Federal Ronaldo Benedet) e aí veio a bomba que a PM quer fazer ‘TCs’ e propôs um acordo com a cúpula da Polícia Civil. A cúpula da PM quer lavrar TCs e daqui para frente eles se comprometem a não fazer mais escutas telefônicas, a realizar buscas e apreensões... O senhor sabe que a Justiça está concedendo todos os pedidos deles de buscas, o senhor sabe muito bem disso...  Eles também propuseram no acordo que os TCs de desacato à autoridade sejam feitos no âmbito da Polícia Civil...

Delegado-Geral Maurício Eskudlark e Ademir Serafim presentes:

“(...)

O doutor Ademir chamou o Maurício (Eskudlark) num canto e disse para ele não assinar o tal acordo. O ‘dotor’ Ademir disse que se ele assinasse aquele acordo ele nunca mais conseguiria se fazer respeitar pelos Delegados, perderia todo o prestígio que ele tem... 

Delegado Renato Hendges presente:

(...)

“... Ah, participaram dessa  reunião representando a cúpula da Polícia Civil o Neves, a Sonéa, o Adriano Luz... Ah, também estava lá o ‘dotor’ Renato Hendges, mas ele só falou  besteira, não dizia coisa com coisa. A certa altura mandaram o ‘Renatão’ calar a boca..., os Delegados que estavam lá disseram para ele não falar mais nada, e ele ficou o tempo todo só criticando, falava coisas que não tinha nada com o assunto...”.

Os ‘quatro cavaleiros’ do apocalipse presentes?

Interrompi:

- “Sim, quer dizer que estavam lá os ‘quatros cavaleiros do apocalípse?” 

Magali ficou meio sem entender e perguntou:

- “Que quatro cavaleiros dos apocalípse, ‘dotor?’”

Respondi na lata:

- “Bom, não sei se tu lembras, mas “T.”, o “N.’, a ‘S.’ e o ‘A.’  foram os responsáveis por aqueles planos que acabaram com a nossa  Corregedoria-Geral,  Polícia Científica... E se não bastasse concordaram com o governo que os salários dos Oficiais ficassem vinculados aos dos Delegados, deixaram nós engessados, ainda naquele governo foram instituídas as horas extras para Delegados, e todos acabaram em cargos comissionados no Governo Luiz Henrique...”.

A velha questão do “Detran” e os desatinos do Delegado “Renatão”:

Magali emendou com cara de desânimo:

- “Ah, ‘dotor’, perdemos até o Detran, lembra? Antes ele estava vinculado à estrutura da Polícia Civil, desde a época da ‘dotora Lúcia’, bem antes. O ‘dotor’ Renato disse lá para os Coronéis: ‘ah, vocês podem ficar com o Detran..’ Imagina, ‘dotor’, o Detran ser entregue para a Polícia Militar...”.

Interrompi:

- “É, mais essa é uma velha idéia do Thomé, participei de uma reunião com os Delegados Especiais lá na Delegacia-Geral, ainda na ‘Osmar Cunha’ e ele defendeu isso publicamente, queria implantar o modelo de Polícia gaúcha, uma visão que nos leva mais uma vez em direção ao fator “terra arrasada”, logo o Detran que é um órgão estratégico, que mais arrecada  tributos,  logo o Detran que assegura nosso outro lado em termos de construir  relações públicas, poder participar dos tributos por meio do nosso ‘Fundo da Polícia Civil’, abrir portas para conversar com políticos para encaminhar nossos projetos ... Bom, com o fim da Polícia Técnica e o Detran poderiam extinguir também as Delegacias Regionais de Polícia, afinal, pra quê servirão...?”

Magali concordou  já percebendo minha indignação e  fui saindo de fininho por que a Delegada Sandra Mara Pereira havia acabado de entrar na cozinha. Enquanto deixava o local mostrei os quatros dedos da mão direita erguida e disse:

- “Não esqueça dos quatro cavaleiros Magali, mas todos ficaram muito bem depois dos ‘planos’ para o governo Luiz Henrique...”. 

“Quid ind?”

Era evidente que não se poderia esquecer, inclusive, o pessoal que estava à frente da Associação dos Delegados e outras lideranças que passaram ao largo dessas questões institucionais. Bom, era melhor nem comentar sobre esse pessoal porque seria muito triste nominá-los, afinal de contas éramos todos perdedores, membros de uma mesma família que acabava em desespero coletivo crescente. Ah, também, existiam os Delegados Regionais , ávidos por se manterem em seus postos, por continuarem a respirar poderes regionais e se imporem politicamente em seus cargos,  muitos deles com quem conversei eram mais chegados ou tinha mais contato, como  Dirceu Silveira (Joinville), Juraci Darolt (Blumenau), Gilberto Cervi e Silva (Balneário Camboriú), Leonísio Marques (São Bento do Sul),  Castro (Lages)..., e o que fazer?