O velho e novo: Os Delegados Bini e Dirceu Silveira (Joinville):

Dia 09.08.07, por volta das dez horas da manhã, já me encontrava a postos na na DRP/Joinville para dar continuidade a audiências correcionais e pedi que o Agente “Zico” fosse levar o relatório de instrução do caso “Marcucci” (Processo Disciplinar) para que Marilisa lesse e assinasse. “Zico” fez um contato telefônico via celular e do outro lado ela informou que estava num supermercado fazendo compras e que logo em seguida passaria na DRP. 

Por volta de onze horas  Marilisa deu o ar da sua graça, justamente no momento em que eu estava fazendo a ouvida da Escrivã Marines da Central de Polícia de Joinville, sendo auxiliado pela Investigadora  Patrícia Angélica. Marilisa abriu a porta e colocou a cabeça dando sinal da sua presença, já esbanjando seu sorriso angelical.  Antes que eu a convidasse para adentrar, ela já tomou a iniciativa e foi cumprimentando Marines, depois Patrícia Angélica e, finalmente, a mim.  Logo que repassei o relatório de instrução Marilisa pegou o documento e foi direto assinando, sem questionar nada. Interrompi perguntando:

- “Sim, não vais nem ler o documento?”

Marilisa ficou meio que sem jeito e achei que não prestou muito a atenção que eu estava brincando, assumiu uma tez séria...  Ela pareceu que levou  a sério minha provocação e  sugeri:

- “Não queres dar uma lida com calma, conversar antes com o Alves? Afinal, estamos decidindo a vida de uma pessoa...”.

Marilisa ponderou:

- “Pode deixar, eu já estou lendo direto a conclusão”.

Insisti que  poderia dar uma olhada com calma e ela argumentou  que iria tirar cópia. Aproveitei para brincar mais ainda:

- “Puxa, vê se me coloca nessa tua agenda aí, heim! Eu tenho uma coisa importante para conversar contigo”.

Marilisa argumentou:

- “Claro que sim, meu Deus, claro que sim!”

Depois, Marilisa foi falando de um parente da policial Ivonete que havia falecido  de câncer recentemente... Aproveitei para comentar que de acordo com o depoimento de Marines teria que também ouvir  Ivonete, a Escrivã super amiga e confidente  de Marilisa, outra pessoa especial, muito embora frustrada com o caos. Porém, veio a resposta nestes termos:  

- “Agora não. Do jeito que ela está, é mais uma bomba na cabeça dela, não, vamos esperar um pouco!”

A ouvida de Ivonete era coisa simples, não tinha nada de grave, mas era engraçado como Marilisa ficava afetada com assuntos de “Corregedoria” e pude perceber como ela era temerosa com assuntos desta espécie: “Corregedoria”, “inferno”, “fisco”, “multas”, “diabo” e etc. Naquela situação o que eu poderia lhe dizer? Nessas circunstâncias ela tinha um comportamento bastante generalizante, impessoal... e eu virava mais uma vez  o Corregedor, ou talvez o que simbolizaria o “castrador” de almas policiais...  Olhei Marilisa e percebi que ela não parecia bem, revelando aquela mesma aflição que senti na sua voz durante o  seu telefonema. Como era difícil viver nesse estado de instabilidade, de prova constante, insegurança... Sentia  Marilisa como nunca,  toda a sua fragilidade, vulnerabilidade, bem  diferente  de outros tempos, quando se produzia, transformava-se, externava  sensualidade,  clima de atração... Eram outros tempos, mas era a mesma pessoa, agora mais real, deixando escapar toda a  verdade, todos os seus lados, pontos... De qualquer maneira ela mesmo assim continuava linda como pessoa e não precisa se esforçar muito para mostrar que era uma pessoa para ser bastante querida e amada por alguns mais próximos...  Vê-la daquele jeito tão frágil  era algo que3 perturbava,  sabia  que poderia ajudá-la muito, mas aquele seu quê de orgulho  talvez fosse a maior barreira entre nós e pensei: “É mais um dia que ela não vai ligar para dar um oi, perguntar se está tudo bem, se estou bem, o que pudemos fazer para ficarmos bem..., e o que é pior, talvez não tivéssemos  outra chance  de aproximação depois da “passagem” pelos “zeros” e “setes”. Já tarde para querer resgatar contingências metafísicas, agora era mesmo no tranco, no convencional, e talvez ela nunca conseguiria nesta vida perceber a grandeza de passar pelo “Portal Estelar” e abreviar a conquista de um universo superior, de superação, grandeza espiritual, virtudes, sensibilidade aflorando da forma mais pura... 

Naquela manhã ouvi ainda o Delegado Bini, Coordenador da Central de Polícia de Joinville, o que foi uma agradável surpresa, pois se tratava de um Delegado novo que se constituía esperança por melhores dias. Bini era paranaense, mas possuía raízes em Santa Catarina (norte do Estado). Também me revelou que era muito idealista, porém, estava bastante preocupado com o futuro dos Delegados nos próximos dez anos, porque nossas carências materiais eram  muito grandes e pareciam intransponíveis. Bini citou que Oficiais da PM estavam fazendo cursos superiores, enquanto que os Delegados estavam acomodados ou mergulhados em serviços, sem tempo para nada...  Interrompi, para dizer em tom de alerta:

- “Somos os melhores. O pessoal de outras instituições não são melhores do que nós, podes ter certeza disso Bini...”.

Na verdade aquilo era para Bini entender que o seu  discurso poderia ser perigoso e que tínhamos  que olhar para nós mesmos e descobrir nossas virtudes, fazer as coisas acontecerem, deixando os outros viverem as suas vidas.  Depois Bini quis falar da importância do anteprojeto da Lei Orgânica patrocinada pela Adpesc... Interrompi novamente para dizer que neste momento a Lei Orgânica era seria arranjar uma grande encrenca e perguntei para ele se sabia o que era uma “lei orgânica”. Bini ficou sem jeito, pareceu hesitar  para responder minha indagação. Antes que ele dissesse qualquer coisa fui explicando que se tratava de uma lei para definir competência de órgãos policiais e que isso não iria nos dar perspectivas de melhorar nossa situação salarial, salvo se a lei assim dispusesse. Bini deu a impressão de desapontamento e eu aproveitei para lhe repassar a minha proposta de Emenda Constitucional prevendo a criação da “Procuradoria-Geral de Polícia” e do “Fundo de Aposentadoria””, solicitando que o mesmo repassasse o assunto para os colegas e que formassem opinião sobre o que era melhor para o nosso futuro, já que a Polícia Militar já tinha superado esse assunto. Procurei ainda mencionar a importância de se criar uma onda, de se aproveitar o momento  para plantar algo para que tivéssemos o que colher quando chegasse o governo Pavan. Bini recebeu o material e deu a impressão de ter ficado mais otimista, interessado, crédulo, esperançoso num amanhã...  Depois que Bini saiu dizendo que iria conversar com o Delegado Gusso e outros eu pensei em Marilisa, queria repassar tudo isso para ela, mas até aquele momento absolutamente nada. Aliás,  ela estava parecendo distante e frágil... e eu pensando no fim dos meus dias, no meu extremo, no ponto mais profundo da minha existência, querendo dar o meu máximo na luta para defender os interesses de nossos policiais, coisas que talvez ela não compreendesse.

Por volta das quatorze horas estava retornando para a Delegacia Regional de Joinville quando fui surpreendido  pelo Delegado Dirceu Silveira me chamando do Setor de Cartório. Fiquei sem saída e tive que ir ao seu encontro. Na verdade ainda estava bastante sentido com o problema das férias da Delegada Marilisa. Mas resolvi tratar a coisa de maneira sensata e hábil, bem do jeito que não gostava, mas que era imperativo. Fiz  de conta que estava tudo bem entre nós e  Dirceu Silveira foi me perguntando se eu sabia da história dos Escrivães de Joinville. Respondi afirmativamente, ou seja, que sete Escrivães haviam optado por trabalhar no Instituto-Geral de Perícias. Dirceu, parecendo indignado, comentou :

- “Gastamos dois milhões com a formação de policiais na última Academia e do que adiantou? Agora esse pessoal está indo para o IGP...”.

Interrompi:

- ”Bom, eu vou fazer um relatório, como é que não pensaram nisso?” 

Dirceu Silveira deu de ombros e eu tive que me conter para não dar uma chamada dizendo: “Sim, mas você é o Delegado Regional e por que não metesse bronca em cima do Secretário, do Delegado-Geral?” Mas achei melhor me conter e apenas sugerir:

- “Podes fazer um relatório para o Maurício, não é? Eu vou fazer um relatório colocando a situação de Joinville...”.

Acabei lembrando do encontro com o Delegado-Geral Maurício Eskudlark no dia anterior  em Balneário Camboriú, quando falava a todo tempo no  celular, escudado pelo Delegado Regional  Gilberto Cervi Silva... Recordei que Maurício dava a impressão de que estava resolvendo assuntos de alta relevância, da mais alta indagação, tipo coisas que iriam nos levar bem além do Cabo da Boa Esperança, e que aquele telefone poderia significar o salvamento de muitas almas..., ou talvez estivesse falando com algum cabo eleitoral, uma voz feminina... A voz de Maurício ainda borbulhava na minha mente, dava a impressão que estava exorcizando alguns demônios existentes em alguma ilha perdida nos confins do Pacífico...,  era uma voz  grave, impositiva, segura..., de quem sabia ordenar, determinar, argumentar...  Agora Dirceu Silveira estava ali na minha frente parecia outra pessoa, bem diferente daquela situação que encarnou na presença de Marilisa...