DELEGADA MARIA ELISA (PARTE XLV): A “MAESTRIA” POLÍTICA DO DELEGADO MAURÍCIO ESKUDLARK E A SABEDORIA “POPULACHA” DA INVESTIGADORA PATRÍCIA ANGÉLICA ALCÂNTARA.
Por Felipe Genovez | 25/02/2019 | HistóriaBalneário Camboiú:
Dia 08.08.07, por volta das nove horas cheguei na DRP de Balneário Camboriú e fui direto para o gabinete do Delegado Gilberto Cervi e Silva. Descobri que ele ainda não havia chegado e logo pensei que deveria ter tido compromissos no dia anterior, isso até tarde. Mas logo em seguida chegou Gilberto e eu reiterei a necessidade de articular nosso anteprojeto do “fundo”... Não botava muita fé em qualquer iniciativa do DRP, até pelo seu grau de submissão ao Delegado-Geral, mas tinha que tentar, articular, ser chato, dar também uma de ingênuo, inocente..., até porque a história estava sendo registrada.
Um reencontro com Maurício Eskudlark:
Por volta das onze horas Gilberto entrou na sala de audiências onde eu me encontrava e foi avisando que o Delegado Maurício estava no prédio da DRP, o que me levou a pensar:
- “Puxa, esse Maurício tem um carinho especial pela DRP de Balneário Camboriu, certamente que em razão de seus interesses políticos na região, os policiais, seus contatos..., mas tudo visando seus interesses políticos, a uma futura candidatura à Assembléia Legislativa. Quando me dei por conta Maurício entrou na sala de reuniões acompanhado de Gilberto, ambos falando ao celular, uma cena bastante engraçada, coisa meio de “cachorro doido” porque eu dificilmente falo ao celular, tenho contatos com pessoas seletas, exceto algumas muito especiais e próximas... Maurício veio ao meu encontro sorrindo. Estava trajando um terno azul marinho e em seguida desligou o telefone foi dizendo:
“Puxa, tu estais cada vez mais novo, qual é o segredo...”.
Apenas respondi com um sorriso discreto até porque ele voltou a falar ao telefone. Lembrei que no nosso último encontro naquele mesmo local ele tinha ficado meio que abismado com minha juventude, éramos quase que contemporâneos na Polícia, há anos seguimos uma trajetória com pontos de contatos... Maurício sempre buscou o poder político, diferente de mim, já que nadar contra a corrente tinha o seu preço, já fazer política é bem diferente... Logo que Gilberto se aproximou afirmei:
- “Sim, Gilberto, já entregasse o nosso anteprojeto do ‘fundo’ para o Maurício?”
Gilberto fez sinal que ainda não havia entregue nada e foi esclarecendo:
- “É o projeto do ‘fundo’. A PM já consguiu...”.
Maurício interrompeu Gilberto:
- “Ah, sim, eu já falei com o pessoal do gabinete do Governador...”.
Olhei para Maurício e fiquei pensando: “Meu Deus, o Maurício que está com a cabeça sempre a mil, vive no celular, viaja direto... e vai me sair com essa que já conversou com o pessoal do gabinete..., ‘passa-manhã’, acredite quem quiser, esse é o político. Não, não, estamos só perdidos...”. Na verdade o que eu queria ouvir de Maurício era o seguinte: “Deixa eu ver o anteprojeto. Passa já para mim. Vamos dar uma olhada, me explique, vamos nos reunir lá no meu gabinete para tratar disso com a maior relevância... Vamos mandar isso para frente já que está pronto. Vamos conversar com meu amigo ‘Pavan’ que vai ser o futuro governador. Não vamos perder mais uma vez o bonde da história. Vamos ter pelo menos um projeto bom para os policiais para ser apresentado quando o Pavan assumir o governo. Vamos a luta. Isso é prioridade no momento. Vou também conversar com o Secretário, vamos convocar Delegados, as lideranças de classe...”. Mas que nada, a visão parecia surreal, e do lado o Delegado Regional “Gilbertão” somente sorria, sem se comprometer com nada, sem externar qualquer reação crítica, uma cobrança, um estímulo..., nada, absolutamente nada que pudesse representar opinião sincera, oposição, cobrança, confrontos ideológico, administrativo... Já Maurício assumia plenos ares errantes, de cacique político de uma polícia tupiniquim, procurando sair do nosso centro das atenções, desviar o foco, escapar da raia, buscar a saída pois dava a impressão que estava muito ocupado, quer no celular quer se dirigindo para o carro com um motorista que o aguardava e permanecia atento e ostensivamente próximo de todos nós, parecia que tinha que viajar para algum lugar, algum almoço com pessoas importantes... Eu fiquei plantado olhando aquelas imagens que valiam por mil palavras e me senti um verdadeiro idiota ou patriota institucional no reino de “Haporema”. Aproveitei para justificar minha ausência na primeira reunião do Conselho Superior da Polícia Civil convocada pelo próprio Delegado-Geral Maurício, pois tinha viagem marcada para Joinville e ele comentou:
- “Que pena que tu não vais estar, poderias ajudar muito...”.
Sim, Maurício sempre teve uma relação cordata comigo, sempre nos demos bem, apesar daquela “lambança” das minhas férias, quando se deixou usar por um ex-Delegado-Geral, atuando como relator no meu requerimento que foi parcialmente deferido, mas de forma acintosa, opressora... Também, lembrei que passado alguns anos, na posse do Delegado Nilton Andrade no cargo de “Gerente de Orientação e Controle da Polícia Civil” (depois “Corregedoria”), Maurício veio falar comigo rapidamente e tentou justificar o seu parecer no meu pleito de gozo de férias e licenças-prêmio, dizendo que não tinha sido bem assim, que ele não tinha culpa de nada..., só que eu tinha cópia do processo administrativo, do seu parecer e da deliberação (o Delegado Ilson Silva havia me repassado...).
Entre bons “Samaritanos” e “populachos” no reino de “Haporema”:
Acabei de ouvir o Delegado Carlos Schlosser da Delegacia da Comarca de Balneário, repassando uma cópia do anteprojeto do nosso Fundo, quase que suplicando que o mesmo divulgasse o assunto para que houvesse uma cobrança do Delegado Regional, do Delegado-Geral..., enfim, que fossem até o Vice-Governador Leonel Pavan de quem era “amigos”... Acabei não sentido muita firmeza porque Carlos comentou que estava mergulhado nos seus serviços, ocorrências, inquéritos, investigações..., e que nada era mais importante. Bom, a esperança era a última que morre, e estava fazendo a minha parte.
Depois do meio dia, quando havíamos encerrado a audiência eu e Patrícia Angélica deixamos o local em direção ao almoço no Shopping Atlântida e aí fiz um desabafo:
- “Puxa, hoje me senti um verdadeiro idiota...”.
Patrícia quis saber por que:
- “Ah, dá licença, tu não visse? Eu fui falar para o Maurício do anteprojeto. O Gilberto entregou o documento ali na minha presença só porque eu botei pressão. O Maurício saiu com aquela máxima de que já sabia de tudo, tinha conversado na semana passada sobre o assunto com alguém do gabinete do governador... Fiquei imaginando uma conversa entre políticos, o dizer que conversou sobre o assunto, mas o que isso adiantaria, que diferença faria “palavras ao vento”? O projeto nem existia, não tinha sido entregue para o Delegado Sílvio, como era que Maurício poderia saber? Só se o Dr. Sílvio Gomes tivesse comentado alguma coisa com ele, mas por quê faria sem conhecer o conteúdo? Bom, mesmo com o benefício da dúvida, se Maurício realmente se interessasse pelo anteprojeto, que fosse a luta, convocasse a gente, me procurasse, mas que nada, era um empurra com a barriga, uma saída rápida tipo um cala-boca..., só!”
Patrícia Angélica fez o seguinte comentário:
- “Ah, doutor, o senhor não pode pensar assim. Acho que tem que lutar, que está certo, não pode se sentir um bobo na corte...”.
Fiquei pensando naquelas sábias palavras, cujo conteúdo tinha um fundo de verdade e eu sabia disso, só que o padrão dos nossos políticos era o “saber” discursar onde havia o “populacho”, presente e ouvinte.