Mestres em ferir vidas e almas:

Dia 14.08.07, durante á noite, estava em Balneário Camboriú e fui consultar o meu e-mail  a fim de verificar se os documentos chegaram até minha dileta destinatária  Marilisa  ([email protected]). Pude observar que muito embora tivesse mandado um torpedo para o seu celular dizendo que tinha mandado os documentos (anteprojeto sobre o “fundo de aposentadoria”) até aquele momento não tinha recebido a sua confirmação, algum retorno sobre o assunto, o que demonstrasse que talvez não estivesse muito preocupada  ou que não acessasse suas correspondências eletrônicas no âmbito da “PC”, sem contar a possibilidade de ter coisas mais importantes para se ocupar, ou que minhas preocupações, projetos, sonhos, ideais eu não significassem muito... Mas isso era Marilisa, quando presente dava a impressão de intensidade,  profundidade, profusão de sentimentos, interesse..., porém, depois, tudo se dissipava e o que passou deixou de ser “presente”, não tinha mais a devuda importância... Lembrei quando Marilisa desdenhou os ricos, comentando   que quem quiser ficar rico, ter patrimônio que viva as suas loucuras e que ela não estava nem aí para isso, o que era um problema não para os “ricos”, mas para a grande pobreza que só aumentava...  Tudo bem, até concordo em parte com aquela sua visão sobre a “riqueza”, mas a questão era é que aquela sua visão poderia se aplicar a muitas outras coisas, não só à riqueza, como projetos institucionais, a natureza...  Não sei se era um caso de recaída, mas essa indiferença, distanciamento, frieza... só revelava uma Marilisa bem diferente, noutros trópicos, que acabava por revelar como estávamos  distantes quando não éramos o centro, quando o foco estivesse fora de nós, para coisas distantes... e talvez por isso jamais somaríamos esforços para uma causa grandiosa porque o sonhar tem limite no infinito...  Lembrei que na próxima quinta-feira à noite estaria em Joinville e passaria a sexta-feira toda por lá, mas  a impressão era que Marilisa não estava muito interessada sobre a  possibilidade de nos encontrarmos para tratar do nosso anteprojeto, e eu ansioso...  Quanto ao Delegado José Alves, bom,   era só o amor, não tinha a energia de Marilisa, seu magnetismo, envolvimento social e político, totalmente distante de assuntos institucionais...,  e meus “amigos” simplesmente não existiam..., todos reféns de seus cargos, compromissos...,  muito menos para desenvolver um ambiente para amizades sinceras, defender interesses institucionais, até jogar conversa fora, falar de coisas da vida, música,  poesia... e de projetos para melhorar nossas vidas... Mas, bem  talvez, poderíamos pensar em arregimentar exércitos e combatermos  juntos nossos beligerantes “moinhos de vento”, com Marilisa à frente, encimando um “’coursier’ negro”,  empunhando uma bandeira rosa desfraudada..., com seus gritos de ordem por “avante”, “paz e arrozinhos” no reino de “Haporema”...

E, quanto a mim? Fui!

Dia 16.08.07,  por volta das 09:00 horas, cheguei na 2ª DP/Blumenau e fui direto para o gabinete da Delegada Jane Pícolli. Logo que me anunciei Jane deu as suas boas vindas enquanto eu sentava a sua frente. Jane continuava fumando  compulsivamente, mal eu podia respirar porque o ambiente estava bastante contaminado, havia pilhas de xepas de cigarro que inundavam seu cinzeiro. Enquanto ela conversava comigo pude perceber que seus dentes inferiores estavam “encracados”. Era uma visão  niilista do seu universo interior que há muito parecia em pânico... Jane demonstrava estar num estágio da vida  que sua saúde física e mental se apresentavam bastante comprometidas, só que ela parecia nem ligar mais... Jane teve uma grande decepção amorosa, separou-se de seu marido, mas não largou o sobre nome (Picolli), como a Delegada Lúcia Stefanovich que também se separou do “Ivo”, mas...  Já Marilisa que disse ter planejado minuciosamente seu “suicídio”, largou o sobrenome de casada, passou para os “tarja pretas” e seguiu seu caminho... Voltei minha atenção para Jane que para compensar meu viés interior,  acabou discursando que pretendia se candidatar à presidência da Associação dos Delegados, logo percebi que se tratava de um delírio, talvez, uma provocação...  Na sequência (deixei ela meio que monopolizar a palavra),  comentou  que esperava que o candidato do PMDB e do PT não levassem as as eleições de 2009.  Em resumo,  Jane disse que tinha boas relações com  Espiridião Amin, Jorge Konder Bornhausem...  Enquanto ela falava pensei: “Báh, mas o Amin no seu último governo deixou muito a desejar para a Segurança Pública, perdemos nossa isonomia com os Procuradores de Estado, começamos a perder a Polícia Científica com a nomeação de um Perito para o cargo de Diretor...”.  Aproveitei algumas brechas para falar do anteprojeto do “Fundo de Aposentadoria” e da proposta de emenda constitucional que pretendia criar a “Procuradoria-Geral de Polícia”.  Mencionei ainda que se Leonel Pavan viesse a assumir o governo teríamos  a grande oportunidade de sair da “segurança pública”, conquistarmos nosso próprio espaço, teríamos a tão sonhada autonomia administrativa e financeira plena...  Nesse momento, o Delegado Rafael já se fazia presente no recinto e lembrei também que no dia anterior  o Delegado Regional  Rodrigo Marchetti havia conversado comigo  dizendo que o Delegado Rafael estava bastante preocupado com a sindicância instaurada por representação da Delegada Rosi Serafim. Procurei acalmar o novato Delegado Rafael e me dirigi para a salinha improvisada para audiência a fim de ouvir as policiais Ivanete e Dione. Depois que encerrei os trabalhos correcionais conversei novamente com o Delegado Rafael e imprimi o anteprojeto do “fundo de aposentadoria” e a proposta de “emenda constitucional”.  Apesar de pretender aprofundar o assunto com Rafael pude notar que a preocupação do mesmo era só com a sindicância e com o inquérito policial para apurar as suas responsabilidades. Argumentei que ele não precisava se preocupar e que isso era pequeno se comparado ao que falei sobre nossos projetos, que o importante era a mensagem que eu havia deixado. Depois que saí fiquei pensando naqueles Delegados novos, muitos vindos de outros Estados, “concurseiros”, “paraquedistas”... que chegaram no Estado só pensando em se dar bem, promoções, cargos de comando..., sem qualquer vínculo ou interesse pela nossa história, era tudo muito horrível. A esperança era que o Delegado Rafael e outros, fossem diferentes. Voltei a  pensar no “exército para combater ‘moinhos de ventos’”...  

Por volta das quinze horas cheguei na Delegacia de Navegantes e fui direto conversar com a Delegada Maria de Fátima Ignácio (tia da Delegada Magali e irmã do Delegado Lauro Ignácio, há anos aposentado e advogado). Depois, pedi a um policial que me levasse até a Pousada do ex-Delegado Carlos Sontag,  demitido em processo disciplinar presidido pelo Delegado Hilton Vieira no ano de 2006 (ato do Governador Luiz Henrique).

Ao chegar na pousada  o ex-Delegado Carlos Sontag (também, ex-Vereador de Ibirama e cabo eleitoral do Delegado Júlio Vânio Teixeira) veio me atender surpreso com a visita. Eu e Patrícia Angélica fomos convidados a entrar e nos sentamos num sofá existente na recepção. Sontag demonstrava claramente tremor nas mãos e, a exemplo da Delegada Jane, fumava compulsivamente. Perguntei como era que estava a sua situação funcional (em termos de recursos, ações na Justiça...) e ele ficou surpreso por eu desconhecer o que lhe aconteceu. Pedi que me relatasse como estava o seu processo, e foi o que ele fez:

- “...Pensei que tivesse vindo aqui para me trazer alguma novidade. O senhor sabe que aquele Delegado, como é mesmo o nome dele? Desculpe mas eu ando muito esquecido das coisas, acho que é o Hilton Vieira, isso mesmo, foi ele que acabou comigo. Ele fez um relatório no final do processo pedindo a minha demissão. Na época ele  vinha conversar se fazendo de amigo, mas o pessoal já tinha me advertido para abrir o olho com ele, já tinham me dito que ele era ‘t.’, já tinham me dito que ele era ‘f.’ e eu me preparei, não sei como é que não fiz uma besteira.... Mas o processo foi para o Secretário de Segurança e na Consultoria Jurídica foi dado parecer contra o relatório do Hilton, pedindo que fosse retirada a minha demissão, só que na Casa Civil deram um parecer favorável ao Hilton e contra o parecer da Consultoria Jurídica...”.

Interrompi:

- “Sim, mas e o processo criminal?” 

Sontag relatou que foi condenado e a decisão foi confirmada em Brasília, muito embora tenha sido reduzida a sua pena para dois anos e pouco, sem perda da função pública.  Em razão disso, Sontag entrou com um mandado de segurança tentando anular o ato de demissão  do governador Luiz Henrique, mas acabou não logrando êxito quando do julgamento do mérito.  Recomendei para Sontag que quando houvesse o “alinhamento dos astros” ele entrasse com um pedido de revisão.  Lembrei que muitas injustiças foram cometidas contra Delegados e policiais civis. Acabei citando os casos dos Delegados Alcino Silva que sequer respondeu a processo criminal..., mas a Delegada Lúcia (Secretária de Segurança...) resolveu pedir a sua demissão, diferentemente do seu amigo Delegado “G.V.” que foi condenado criminalmente a regime fechado, perda da função pública... e acabou sendo premiado por ela por ser seu compadre. Depois, também, o caso do Delegado Carlos Heinenberg, cujo processo disciplinar começou na gestão Lipinski/ Rachadel e desaguou na gestão do Delegado-Geral Thomé..., sem que tivesse sido instaurado um processo criminal...  Na verdade, para quem tinha padrinhos políticos ou amigos internos o tratamento era um, para os demais os rigores da lei e o peso de “Corregedores” dispostos a mostrar serviço, com direito depois a adotarem o discurso de que o importante era “botar a cabeça no travesseiro e dormir com a consciência tranqüila”, sem contar a premiação com cargos...

No final da conversa, me coloquei à disposição  para ajudar e pude notar que  Sontag deu a impressão que estava ali uma fagulha de esperança, e lembrei antes de me despedir:

- “Não esqueça, se o Pavan assumir o governo do Estado, o Maurício acaba sendo o Secretário de Segurança e aí um pedido de revisão pode ser julgado procedente, vão constituir uma comissão revisional...”.

Assim terminamos nossa conversa, falando sobre vinhos com um piloto de helicóptero da Líder Táxi Aéreo que era hóspede da pousada.

À noite, já instalados na cidade de Joinville, Patrícia Angélica foi ser hospedar no Hotel Avenida e eu direto para o “Trocadeiro”. Cheguei a pensar em telefonar para Marilisa, mas achei melhor aquela altura, com a mente carregada de peso emocional, não conversar com mais ninguém, ficar recolhido na minha solidão, sem ninguém para dividir nada...