"Marquito" reentra em cena:

Dia 20.07.2007, por volta das vinte e uma horas liguei para “Marquinhos” no seu celular (já havia ligações dele registradas no meu aparelho). Estava tomando um vinho  e meu velho amigo atendeu de pronto a ligação:

- “Marquinhos, tu conheces o doutora Marilisa, aquela Delegada de Joinville?”  

Marquinhos do outro lado:

- “Credo, conheço, aquilo...!”. 

Interrompi  os comentários e logo fui avisando que era para ele me dar um desconto porque  estava meio passado por causa da bebida. Em seguida comentei  que Marilisa era minha super amiga e se era assim para mim ela também passava a ser amiga dele também. Marquinhos voltou à carga com sua voz de veludo e cheia de malícias:

- “Mas ela não era daquela turma do Marcucci?  Eu sei que tinha rolo de férias lá na Gerência, isso na época dela na DRP. Eu sei que fizeram um rolo por causa das férias dela, mas acabaram dando...”.

Interrompi:

- “Pois é, eu estou te ligando porque as férias dela precisam ser interrompidas, ela está me ajudando na Corregedoria...”.

Marquinhos me interrompeu:

- “Tudo bem, eu já recebi o pedido dela de interrupção das férias...”.

Interrompi:

“Tu já recebesses?  Mas que bom, então processa isso, tá!”. 

Marquinhos concordou e disse:

- “Olha só, eu não vou citar o nome, mas alguém disse que lá na Corregedoria, durante as tuas viagens, até as tuas malas é a secretária que tem que carregar, é verdade isso? Eu achei muita petulância até a mala a secretária tem que carregar, mas eu não vou dizer o nome de quem disse. Foi lá na Felipe Schmidt, tinha um bolinho de mulheres e elas comentaram, é verdade?”

Respondi: “Marquinhos dá licença, eu tenho três mulheres que trabalham comigo lá, claro que é coisa da Patrícia Angélica, coitada, fala pelos cotovelos, mas também têm  a Margarete e a Ariane que são discretas e reservadas. No final das contas todas são adoráveis e jamais iriam dizer isso partindo do coração, inclusive a Patrícia que se falou foi como forma de auto afirmação, discurso grupal...”.

Marquinhos me interrompeu:

- “Mas disseram. É verdade?”

Continuei negando porque sei que não era verdade, mas achei que aquilo só poderia ser coisa  da “Patrícia” que sabia que até motorista eu era, mas ela precisava se sentir grandiosa... Quanto ao “Zico” achei muito remoto esse tipo de discurso ou que poderia ser um de interpretação, porém, não tinha dúvidas que era coisa de Patrícia Angélica que não agüentava o tranco de tantas viagens, audiências..., a ponto de algumas vezes eu ter que mandar ela para o hotel e fazer tudo sozinho, só que acabava ganhando o rótulo de o “demolidor” viajante e estressante.

Por volta das vinte e duas tentei falar no celular com Marilisa e não consegui. Imaginei que ela já deveria estar dormindo ou passeando. Então mandei um e-mail dizendo que conversei com “Marquinhos” e que suas férias estavam bem encaminhadas.

Dia 23.07.07,  “Marilisa não ligou nem para dar um ‘oizinho’, que figura! O interessante era como ela pensava de forma ‘basicona’ e ao mesmo tempo  parecia querer me ‘desafiar    ‘ porque sabia que me importava com ela”, pensei Agora que pude compreendê-la mais, entrar na sua mente e  sentir suas emoções, parece que passei a entendê-la melhor, em especial, como ela precisava respirar, não se sentir sufocada, sem liberdade...  Também, como reagia diante de pessoas que se colocavam a seus pés. Era como se sua mente repulsasse, desvalorizasse... Entrava em cena o velho mecanismo de compensação neural, onde quanto mais difícil alguma coisa que se quer, mais desejada era...  Era aquela velha máxima de Yung: “tudo que resiste, persiste”.  Esse era um retrato fiel da velha Marilisa, ou seja, se algo que ela desejava era difícil de ser conquistado, então maior o seu desejo? Mas todos nós éramos  assim, muito embora ela tivesse conseguido amadurecer (desconstruir) a questão da riqueza material, da ostentação, pois conseguia administrar bem a falta de poder econômico pessoal, compensando com valores pessoais, como o “orgulho”, a “sedução”, “aparente excesso de carinho e afeição pelos mais próximos...”, “modais empáticos aliado a receptividade”, “voz terna”, “sorriso doce”..., tudo nela transpirava muita energia pessoal e magnetismo. Todo esse complexo contribuía para liberação de endorfinas, neurotransmissores, processos sinápticos..., responsáveis por escamotear  sentimentos como ter peso e importância frente à adversidade, em que pese limitações materiais, também, o prestígio pessoal,  o “eclipsamento” e encapsulamento como conseqüência da carreira profissional que abraçou se comprado a outras mais prestigiadas (empresariado, política, magistratura, Ministério Público e etc).  Mas isso tudo era algo para ser visto com grandeza, afinal todos nós seres humanos (uns para mais outros para menos) estávamos sujeitos a esse condicionamento e determinismo mental, ainda mais se consideramos o estágio primitivo, nosso aparelho cerebral ainda tão natural e animal. “Marilisa, você é um amôôôrrr...,  muito adorada e me faz muitíssimo bem”, desabafei em silêncio e em nossa homenagem.

Por volta de oito horas e trinta minutos a Escrivã Cleide da Corregedoria veio me dar a notícia que o Delegado aposentado Lorival Borja havia falecido. Também, disse que ontem foi o enterro do sobrinho do “doutor Trilha” que havia se suicidado.

Por volta das dezoito horas liguei para “Marquinhos” na Gerência de Recursos Humanos e fui reiterando se estava tudo certo com relação às férias da Marilisa. Marquinhos respondeu  que na época que ela era Delegada Regional de Joinville todo mundo falava mal dela na Gerência de Recursos Humanos, pois o controle de pessoal naquela DRP era uma “esculhambação”. Imediatamente saí em defesa de Marilisa dizendo que ela era muito inexperiente quando assumiu a direção daquele órgão da maior cidade do Estado. Também, que foi muito boicotada e pessoas se aproveitaram da situação. Marquinhos interrompeu para perguntar:

- “Sim, mas aquela turma do Marcucci e outros não estavam com ela lá?”

Respondi:

- “Não, Marquinhos ela era do governo Amin, o Marcucci era do PMDB, lembra?”

Marquinhos:

- “Ah, sim, mas eles estavam trabalhando em Joinville, não?”

Respondi:

- “Claro que sim. Mas a Marilisa precisava confiar, precisava administrar, só que era inexperiente. Hoje ela se arrepende de ter assumido aquilo lá, não quer nem mais saber...”.

Marquinhos:

- “É mesmo, puxa...!”

Continuei:

- “Marquinhos, eu sou muito amigo dela, e  ela agora também é tua amiga, ta bom, não esqueças disso?”

Marquinhos deixou escapar um sorriso que  dava a certeza de que seria assim,  que tinha conseguido mudar a imagem e preconceitos que  tinha formado sobre a grande amiga Marilisa. Depois, Marquinhos ainda comentou que todo mundo falava bem do Delegado “Dirceu Silveira”, inclusive, que fazia uma boa administração à frente da DRP de Joinville. Concordei e meio que passei a entender o porquê que ele caiu nas graças do DRP, muito embora  lembrasse do “último episódio” ocorrido  em Joinville envolvendo o caso das férias interrompidas de Marilisa. Também passei a entender e comentei que   aquele tratamento especial do Delegado  Dirceu Silveira para com ele era estratégico porque precisava da Gerência de Recursos Humanos. “Marquinhos” concordou com meu raciocínio e depois me forneceu a data de nascimento de Marilisa (16.12.1964), seu número de matrícula (195.649-3), e seu endereço residencial (Rua Aracajú, 515, Bom Retiro, Joinville).