Entre abraços e torpedos:

Dia 16.06.2007, por volta das nove horas da manhã deixamos Chapecó com destino a Joinville para deixar Marilisa. No carro as músicas preenchiam o vazio do nosso tempo, todos querendo chegar, retornar... Marilisa estava preocupada com seu filho de “dezesseis” anos que à noite viajaria para Brasília de avião e essa seria a sua primeira viagem.

Por volta das dezenove horas deixamos Marilisa na sua residência em Joinville e no momento em que “Zico” levaria sua bagagem para o interior da sua residência ela veio na minha direção e me abraçou com carinho, agradecendo por tê-la colocado na comissão de processo disciplinar. Achei engraçado o seu gesto inesperado e procurei ser breve no abraço, na nossa despedida, muito embora meu coração estivesse sentindo a distância, a dor da saudade que se avizinhava... A seguir fomos até posto de gasolina na Rua João Colim para o abastecimento da viatura  e aproveitei para mandar um torpedo para Marilisa:

- “Sp – Sp – Sp , linda, saudades,  obrigado, bjs”. 

Em seguida Marilisa me retornou com o seguinte torpedo:

- “Estou radiante de felicidades bjs”.

Li o “torpedinho” e pensei:

- “Meu Deus que coisa mais abstrata, descompromissada, lisa, ligeira, sem profundidade, mas esse era o lado da Marilisa sem noção, muito provavelmente não queria se comprometer,  talvez, porque exigia fidelidade e lealdade a seu companheiro, marido... O Comissário Ângelo Canteli (Delegacia Regional de Joinville) tempos atrás já havia me relatado e meu objetivo não era confundi-la ou misturar as coisas. Poderia ter escrito algo tipo assim: querido amigo... (sem palavras – sp, sp, sp...)”.

Um ser “encantante” e provocativo:

Dia 17.06.07, por volta das vinte e duas horas, já estava em minha casa em São Francisco do Sul, e resolvi mandar outro “torpedo” para Marisa,  com a seguinte mensagem:

- “Haja o q. houver, seis quem és, te espero na Baggio na terça-feira às vinte e uma horas... Estrela radiante.  Ou tens algo melhor? Estou em SF. BJS”. 

Em seguida veio a resposta:

- “Estou no aeroporto de Ctba esperando meu filho. Bjs”. 

Retornei com a seguinte mensagem final:

- “Fique bem”.  A madrugada veio e meus pensamentos estavam todos voltados para a doce amiga. Acabei revendo vários momentos marcantes de nossos momentos. Foram simples, mas intensos e cheios de potência indescritível no plano espiritual. Achei que talvez fosse  resultante do meu momento e era preocupante como Marilisa conseguia invadir meu interior, irradiando uma energia do tamanho do universo, óbvio que eu permitia que fosse assim e volvia meu senso para que isso acontecesse.Não defino como amor, amizade, alegria, atração..., pois isso seria muito ínfimo, vulgar, pequeno, pobre demais... O que se me afigurava se situava numa faixa cósmica, quântica..., se bem que de minha parte. Talvez Marilisa não tivesse idéia ou não estivesse preparada para entender esse sentimento. Procurei relembrar nosso primeiro momento, quando fui ouvi-la numa sindicância e se dirigiu  até a Delegacia Regional de Polícia de Joinville, usando um “terninho preto”, com aquele seu corpo magro e esguio, silhueta bem definida e maquiada discretamente. Eu estava sentado próximo a porta do gabinete do Delegado Marcucci e percebi quando ela chegou com andar macio, sorrisos sinceros, espontâneos e que deixavam transparecer serem verdadeiros, iniciando uma conversa com a estagiária que trabalhava como secretária do Delegado Regional. Mas essa não tinha sido a primeira vez que a vi. A bem da verdade, a  minha ligação com Marilisa começou em 2004, justamente naquela sua chegada  na Delegacia Regional, eu ali sentado a esperando, tentando ainda recompor aqueles fragmentos rebuscados do nosso outro encontro na época do Secretário de Segurança “Carvalhinho” (1999). Passados os anos, Marilisa era outra pessoa, bem mais segura, com um quê diferente que chamava a atenção, muito embora continuasse deslizante, “encantante”, deslumbrante...  Reduzi a termo suas declarações  e logo percebi sua energia, toda a sua proximidade...  Noutros contatos que se seguiram ela me revelou que tinha casa de praia em São Francisco do Sul (Enseada). Também comentou que sabia que eu tinha uma “casa bonita na ‘Barra do Sul’. Ledo engano, procurei algumas vezes corrigir, dizendo que não era na “Barra do Sul”.  No verão de 2005 Marilisa me convidou para ir uma noite na casa de praia na Enseada para que a gente se encontrasse. Estive durantes algumas noites na sua residência, mas não a encontrei. Noutro momento, acertamos na Delegacia da Mulher de Joinville que nos encontraríamos à noite na sua casa da praia na “Enseada”, numa sexta ou sábado à noite, para comermos uma pizza.  Fui até sua residência no horário combinado e fiquei aguardando durante cerca de uma hora (das nove às onze da noite) e ela não havia chegado,  muito embora soubesse que havia luz no interior da casa. Acabei cansando de esperar e me mandei para uma pizzaria próximo da ponte (ligava Ubatuba à Enseada). Quando era por volta  da meia-noite acabei ligando para a sua residência e Marilisa atendeu, quando avisei que tinha passado na sua residência no horário combinado, mas não a encontrei. Marilisa espontaneamente disse que tinha ido dar uma volta com uma amiga de Joinville que estava lhe acompanhando. Fiquei um pouco impressionado porque quando havíamos combinado nos encontrar e comer uma pizza  ela não tinha mencionado que teríamos companhia. Mas não que isso me incomodasse, muito pelo contrário, só que não estava sabendo. Durante o curso da conversa rápida ao telefone Marilisa me convidou para dar uma chegadinha até sua residência porque já estava em casa. Argumentei que estava na pizzaria e que ficaria para uma outra oportunidade. Ela pareceu entender  e nesse clima nos despedimos  sem maiores expectações. Achei interessante esse nosso contato por que para mim, no nosso caso,  um encontro marcado era um encontro sagrado. Aliás, quando convidava alguém como ela para se encontrar comigo era para valer, era algo muito sério, desde a amizade, o compromisso, um negócio, um serviço... e a necessidade de se documentar a sua e a nossa história. Esse compromisso com Marilisa era previsto para ser um encontro de grandes amigos, de estreitamento dos laços afetivos, trocas de idéias, conversa jogada fora, porém, nada mais sério ou comprometedor. Na verdade, na condição de Corregedor precisava dessas fontes, desse tipo de contato..., que pudessem me auxiliar nos trabalhos de coleta de informações. Marilisa simbolizava justamente isto: uma pessoa confiável, pura e verdadeira, uma profissional de Polícia para ser entendido, conhecido... Mas aquela sua “furada” de sábado teria sido emblemática e marcante. Leituras e releituras tentei fazer sobre esse seu procedimento, vindo a causar um distanciamento preliminar, muito embora continuasse a conversar com ela em razão de minhas viagens à Joinville.

Noutro momento, ainda no ano de 2005, lembrei que estava chegando na Delegacia da Mulher de Joinville e era quase noite, final de expediente. Logo reconheci o Siena Azul marinho de Marilisa estacionado ao lado do prédio. Resolvi me aproximar porque percebi que ela estava no interior do carro, sem observar minha aproximação. Logo que cheguei próximo da sua porta constatei que estava ouvindo som do CD ou do rádio FM numa altura bastante excessiva. Me surpreendi porque além de ouvir música ela cantarolava junto, dando a nítida impressão que estava viajando, sonhando..., talvez, com alguém em especial. Guardei aquela sua imagem e logo que começamos a conversar ela ficou um pouco perdida, baixando o volume da música. Achei engraçado porque ela foi logo me dizendo que tinha aquele carro que estava financiado, tinha uma casa, dois filhos, sendo que a casa de praia na Enseada (São Francisco do Sul) estava no nome da sua mãe.  Eu não sabia se ela estava querendo justificar patrimônio diante da minha condição de “Corregedor” ou se poderia ser um delírio meu, mas poderia ser que estivesse estabelecendo uma reta entre dois pontos, no sentido de estar propondo algum tipo de aproximação ou colocar sua situação patrimonial apenas como defesa, prevenção...  Só que achei esta última hipótese muito remota, primeiro porque Marilisa parecia ser muito temerosa em se tratando de “Corregedoria”, por segundo, em razão do temor reverencial em relação à minha pessoa (Corregedor). Noutras oportunidades que estive na Delegacia de Proteção a Mulher Marilisa sempre se mostrou muito querida, o que era uma característica constante. Na verdade eu  sentia uma certa tensão no ar, talvez um medo, tudo em razão da minha condição de “Corregedor”.  Noutro momento lembrei dos almoços com Marilisa na praça de alimentação do “BIG” de Joinville (próximo a Beira Rio), pois ela sempre ligava para sua casa avisando que iria almoçar com o “Corregedor”, querendo se explicar para os filhos e mostrar que estaria com alguém muito importante. Mais tarde entendi que ela valorizava muito o contato com a família, o almoço e jantar com os filhos na mesa, quando colocavam os assuntos em dia. Noutra oportunidade fomos almoçar umas duas ou três vezes juntos no restaurante Rudinick na BR 101 (Bairro Pirabeiraba). Numa dessas oportunidades Marilisa andava ao meu lado como se quisesse me chamar para um abraço, pude sentir seu lado provocante... e ao mesmo tempo seu lado adolescente.  Mas me contive, muito embora meus neurônios tivessem captado aquela energia e aquilo não me preocupava porque tinha pleno controle da situação.

Durante o transcorrer do mês de março de 2007 conversei com o Comissário Ângelo Cantelli - que trabalhava com o Delegado Regional Dirceu Silveira. Ângelo era uma fonte rica de informações sobre todos os policiais de Joinville. Conversamos reservadamente sobre tudo, inclusive,  sobre um assunto sigiloso que tratava sobre o famoso “dossiê”  imputado ao policial “Paulo Curvelo” ou a um despachante desconhecido, com denúncias a respeito de irregularidades praticadas por policiais civis e sobre a vida privada. No dossiê constava informações que a “D.M.B.” tivera um caso com o Delegado “D.S.”, na época que era Delegada Regional.  Ângelo negou que esse fato fosse verdadeiro e revelou que Marilisa atualmente vivia uma relação com um advogado da Prefeitura (“Ciro”) e que não entendia por que os dois ainda não casaram ou assumiram a relação pois todo mundo na cidade tinha conhecimento.

A dor no outro que abastece a alma,  e a necessidade de se seguir em frente:

Posteriormente, por volta de março/2007 eu e Marilisa fomos tomar um café numa floricultura em Pirabeiraba, e foi outro momento marcante, pois novamente senti sua sua energia contagiante, mas novamente me contive e não me atrevi a nada. Também, por volta do mês de março de 2007 viajei para São Francisco e resolvi dar uma carona para Marilisa que estava em Florianópolis. No trajeto resolvemos dar uma parada em Itapema para tomar um café (Café Colonial em frente a PRF). Em seguida acertamos dar uma caminhada na praia existente na frente do restaurante “Sereia do Mar”. Estacionei o carro e fomos a pé até próximo do mar. Depois começamos a caminhar até o final da praia. Nunca estivemos tão próximos em tudo. Marilisa estava linda e sorria quase como uma provocação. Procurei me controlar, muito embora a proximidade parecia muito contagiante. Lembrei que no final da praia tivemos que dar um salto para chegar no outro lado de uma corredeira de rio que dava no mar. Em seguida resolvemos chegar até um barzinho no alto, tendo que subir numa passarela. Como percebi que Marilisa estava encontrando alguma dificuldade para acessar a plataforma de madeira, resolvi de surpresa vir por trás e apanhá-la pelos cotovelos que estavam erguidos na altura dos ombros tentando alavancar o impulso para chegar no nível superior. Logo que Marilisa sentiu minhas mãos tocar seus cotovelos deu a impressão que se esquivaria de alguma possível ousadia minha, porém, quando percebeu que eu só queria ajudá-la, resolveu ceder para que eu a auxiliasse. Quando chegamos no referido bar havia um local onde se permitia visualizar a paisagem, debruçando-se numa mureta de madeira. Ficamos lado a lado, quase com o corpo colado olhando ao longe, com os rostos bem próximos.  Procurei me conter e não a toquei, muito embora meus sentidos quisessem aquela aproximação. Voltamos para carro, caminhando junto ao mar, descalços e agora o clima era mesmo de retorno. Durante o curso da viagem até Joinville fomos ouvindo músicas.  Deixei Marilisa em sua casa e nos despedimos, ficando aquele gostinho de saudade, de quero mais...  Em razão dessa energia, dessa proximidade, procurei indicar Marilisa para integrar comissões de processos disciplinares na condição de vogal, a fim de ficar próxima. Concluiu como era incrível as reações de Marilisa, ela era provocativa, criativa..., parecia amar o processo de proximidade, cessão, entrega..., ao mesmo tempo a resistência..., desde que causasse alguma espécie de dor, frustração... E, no meu caso, tinha que afinar minha espontaneidade para conseguir seguir em frente.