Um jantar com Patrícia Angélica:

No dia 24.09.07, no horário das 20:30 horas, estava no Hotel Susin na cidade de Mafra, jantando com a policial Patrícia Angélica, enquanto que o motorista Dílson Pacheco dava uma caminhada hall do hotel, sendo que acompanhávamos seus passos pelas paredes de vidro do restaurante. Relatei para Patrícia o que tinha ocorrido na sexta-feira última, no gabinete do Delegado Regional Dirceu Silveira e que Marilisa deveria ter ficado muito chateada com meu posicionamento, quando a critiquei (construtivamente) dizendo que ela tinha que procurar se especializar profissionalmente. Era evidente que nada comentei sobre os “torpedos”, pois isso era um assunto reservado. Acabei falando da Corregedoria e lembrei que naquele dia pela manhã (entre oito e nove horas), antes de iniciar a viagem, encontrei as policiais Nora, Ieda, Ariane e mais a estagiária Patrícia, no setor de protocolo, conversando animadamente sobre assuntos particulares.  Já tinha observando aquele procedimento muitas vezes. Patrícia Angélica que estava jantando comigo comentou:

- “Doutor, a Nora vai trabalhar de manhã porque quer ganhar horas extras. Lá existe um panelinha. A Nora, a Ieda, a Ariane e agora a Daniela fazem parte da mesma panelinha...”.

Interrompi:

- “Ah, mas isso é ruim, eu não gosto de panelinhas, pois é justamente isso que derruba direções...”.

Voltei a falar sobre o que aconteceu na sexta no gabinete do Delegado Dirceu Silveira:

- “Pois é Patrícia, eu entendo que a Marilisa quer passar longe de computador, não quer aprender nada, não faz questão de fazer algum curso, porque ela sabe que isso implica em trabalhar mais, produzir mais. Ela sabe que se não usar computador o pessoal já não vai mandar serviço por causa das suas limitações, como aconteceu na sexta, quando o Dirceu teve que voltar atrás e não repassar o serviço para ela. Brincadeira, Isso é muito complicado, a gente tem que buscar o conhecimento, melhorar a qualidade dos nossos serviços, e não ficar fugindo das responsabilidades, afinal de contas quem paga nossos salários é a sociedade. Eu sou radicalmente contra perseguições, sou contra hostilizar pessoas,  sou contra punir e julgar sem antes orientar, mas também não posso admitir que os espertos fiquem ganhando seus salários ‘fritando bolinhos’ nas Delegacias, enquanto que os outros trabalham, são mandados para a pedreira, é injusto, eu não aceito essa mundo dos espertos”.

Patrícia Angélica deu a impressão que concordou com meu raciocínio.

A notícia da morte do policial Levi Rosa Peres:

Dia 25.09.07, às nove horas da manhã, logo que cheguei na DRP de Mafra, a policial Marília veio me contar que o Inspetor Levi de Canoinhas havia falecido no dia anterior à noite. Pior, no momento que estava jogando uma partida de futebol teve um infarto e morreu. Um amigo que também estava participando do jogo, vendo o seu estado, também teve um infarto e acabou morrendo também no mesmo local. Marília relatou que o Delegado Osmar Simplício Amorim havia se dirigido para Canoinhas para participar do enterro. Lamentei e relatei um pouco a história do Inspetor Levi, desde a época da “Fecapoc”, quando a meu pedido ele liderou o movimento para criação da Associação dos Policiais Civis do Planalto Norte (Aplanpoc).  Relatei a luta na Constituinte de 1989 e a liderança de Levi que conseguiu nos ajudar nos contatos com o ex-Deputado Neuzildo Fernandes (também já falecido). Era lamentável como não tínhamos memória, como esquecíamos a história de lutas de nossos policiais e Levi era um baluarte, um exemplo que só dignificou a Polícia Civil e os policiais. Lamentei em silêncio aquela perda e meditei desejando o maior bem do mundo aquele que se foi.  Aproveitei um espaço e dei uma chegada no andar térreo, na esperança de encontrar o Delegado Oclair Silveira na Delegacia da Comarca. Logo fui informado que Oclair só trabalhava à tarde. Fiquei horrorizado e me dirigi até o Comissariado, onde havia um policial assumindo o plantão. Sem me apresentar, entrei no recinto e o policial perguntou o que estava acontecendo. Em tom de brincadeira, fui dizendo:

- “Fui assaltado”.

O policial me olhou parecendo meio na retranca e foi perguntando o que havia ocorrido. Completei:

- “É que o governo não está pagando os nossos reajustes salariais...”.

O plantonista logo percebeu que eu deveria ser algum policial. Continuamos a conversa sem que eu me apresentasse, falando sobre a situação da Polícia Civil. O Comissário que disse ter quase vinte nove anos de Polícia Civil foi dizendo que do jeito que estavam indo as coisas não iria demorar uns cinco anos para que a instituição acabasse. Olhei para ele e fui dizendo que na semana passada estive em Joinville ouvindo um Juiz de Direito e ele reclamou que a Justiça de Joinville estava um caos. Argumentei que no Fórum havia inúmeros estagiários trabalhando, muito deles assessorando juízes e ajudando a lavrar sentenças.  Uma situação horrível. O policial acabou se recolhendo um pouco, pois deve ter percebido que estava conversando com um Delegado. Depois que deixei o Comissariado fiquei pensando: “Bom, não deixa de ser preocupante, mas navegar e preciso...”.   

Viva Marilisa:

No horário das 14:41 horas constatei que havia uma ligação de Marilisa no meu celular (estava almoçando em Rio Negrinho/SC), então, resolvi dar um retorno, mas o celular dela tocou e nada de atender. Imaginei que ela deveria estar num curso e não poderia atender.

Às 15:00 horas, estava na salinha da “Corregedoria” localizada no segundo andar da Delegacia Regional de Joinville, quando apareceu o Delegado José Alves. Estava trajando uma camisa preta e logo que me viu foi falando que estava feliz porque já estava aposentado. Alves afirmou que já estava tratando do seu retorno como “Delegado convocado”, ou seja, pretendia retornar por meio de uma “convocatória”.  Fiquei impressionado porque sempre achei que o negócio do “Alves” era ir para casa cuidar da sua jovem esposa. Tudo bem, sabia que o negócio era dinheiro, mas essa “convocação” parecia  mais uma contribuição à covardia que reinava entre os Delegados, ou seja, se a hora extra já era um “cala-boca”, agora na “convocatória” iria ficar mais difícil haver algum tipo de reação dos Delegados, pois ficariam totalmente entregues ao poder político, numa condição de “acovardamento”, claro que isso era muito bom para o Delegado-Geral Maurício Eskudlark, bom para a Delegada Sonéa (presidente da Adpesc), bom para os puxa-sacos, pois no balcão de negócios não haveria margem para resistência, só bajulação ou omissão.  

No horário das dezessete horas, já estava em Joinville quando observei que Marilisa havia me mandado um “torpedo”, com a seguinte mensagem: “Estou no curso de Pol. Comunitária. Bjs. Ma”. Fiquei contente com a mensagem, pois era um sinal de vida, muito embora aquilo demonstrasse que ela assim estava agindo para se redimir da sua conduta na sexta passada. Depois que ela voltava ao “normal”, que já havia superado os maus momentos, a impressão era que desapareceram os resquícios dos seus espinhos e ela votava a ser a princesinha doce, pronta para “barbarellar”...

No horário das dezoito horas, ainda estava na salinha da “Corregedoria” da DRP de Joinville e após ouvir a Escrivã Ana Ballestrin, responsável pelo Setor Administrativo, soube que o Delegado Dirceu Silveira tinha viajado para acompanhar o velório e enterro do Inspetor Levi na cidade de Canoinhas. Tudo bem, era merecido. A questão era que a Delegacia Regional parecia abandonada, nas mãos de estagiários. A vontade que tive foi de percorrer todos os setores da DRP e pedir a relação de policiais e estagiários trabalhando, porém, achei mais prudente não criar problemas, mas a vontade era grande... Depois de Mafra, agora Joinville.. Perguntei para a Escrivã Ana Balestrin quem eram os policiais que estavam fazendo o curso de Polícia Comunitária e ela foi nominando a Delegada Marilisa e vários outros policiais. Quando terminei meu trabalho fiquei lembrando das impressões de Mafra e agora de Joinville, parece que todos estavam noutro mundo, ou eu estava vivendo noutra dimensão e, talvez, estivesse aí a resposta para meus desencontros com Marilisa e tantos outros. Havia uma dissonância, um descompasso, uma amplitude na maneira de enxergar, compreender, viver, sonhar, lutar, participar..., mas eram os meus sonhos, não dela?