A velha questão das eleições para o Conselho Superior:

Dia 15.12.04, por volta de dez horas e trinta minutos estava na Capital do Estado e  fiz uma ligação para Dra. Marilisa. Ela prontamente atendeu o celular e para minha surpresa foi dizendo que estava também em Florianópolis, na Academia da Polícia Civil fazendo um curso. Jogamos alguma conversa fora e ela me trouxe uma notícia:

- “Olha, votei em ti. Não sei bem para o que era, mas acho que foi lá para a Adepsc (Associação dos Delegados de Polícia), sei lá. Eu sei que votei em ti. Vais ganhar, estou torcendo...(risos)”.

Logo imaginei que só poderia ser para o Conselho Superior e insisti:

- “Vem cá, não foi para o Conselho Superior, não? Não votasses em mais nomes?”

Marilisa continuou:

- “Sim, parece que são quatorze nomes. Eu acho que tu vais ganhar. Nós temos que colocar pessoas competentes lá...”.

Imediatamente fiz uma intervenção para dizer:

- “Não, não quero participar. Já tinha requerido o meu desligamento. Não tenho interesse algum em participar...”.

Marilisa ponderou:

- “Ah, mas nós temos que colocar gente competente lá. E eu sei que tu vais ganhar...”.

Continuei:

- “Tudo bem, eu sei que é importante, mas eu não quero participar. Das outras vezes que fui eleito já pedi meu desligamento. Olha, Marilisa,  é bem votado quem tem o poder nas mãos, faz favores, usa a caneta, salvo exceções. É aquele jogo de habilidades. A pessoa está ocupando um cargo comissionado e todo dia conversa com Delegados, faz favores, é amigo, visita, faz  contatos, usa o cargo para pedir votos. Na hora de votar os Delegados vão lembrar daquele colega com quem sempre conversaram, pediram favores, foram ajudados, quebrou galhos ou que usam o voto como uma reserva... Não, como um Delegado que não aparece, está distante, não faz contatos, parece antipático vai conseguir se eleger? Eu sempre primei pelas relações noutro plano, mais verdadeiras, sinceras. Não me satisfaz esse tipo de relação de interesses, jogo para ser visto e lembrado. Por isso que eu prefiro ficar distante, de mais a mais o Conselho só funciona para os interesses da cúpula...”.

Marilisa pareceu concordar, mas insistiu que votou em mim.

Delegado Marco Aurélio Marcucci na berlinda: 

Dia 28.01.05, por volta de meia hora fui almoçar com a Delegada Marilisa num restaurante no interior do “Big” de Joinville. Logo que comecei a conversar a respeito do Delegado Marco Aurélio Marcucci ela foi dizendo:

- “Felipe, o Marcucci incomodou muito esses caixeiros aqui em Joinville. Esse pessoal não gosta dele e vão fazer de tudo para prejudicá-lo. Agora esse policial que está preso não é flor que se cheire, todo mundo aqui em Joinville sabe disso...”.

Questionei Marilisa como é que o Marcucci colocou um policial desses para trabalhar no “DIC” e ela chegou a lembrar que havia falta de efetivo e que não dava para contar com muita gente. A seguir trouxe a seguinte novidade:

- “Pois é, sabia que o Marcucci está brigado politicamente com o Nilson Gonçalves? É, eles brigaram. O Nilson Gonçalves disse que o Marcucci traiu ele. O Marcucci teria rompido um acordo político. Parece que é para as eleições no ano que vem, o Nilson é candidato à reeleição e o Marcucci sairia a Federal. Agora, parece que o Marcucci quer mesmo é sair  a estadual...”.

Fiquei surpreso e argumentei:

- “Isso pode ser ruim para o Marcucci, porque o Nilson deveria estar ajudando o Marcucci a passar por toda essa pressão na Delegacia Regional e agora será que ele não vai ficar sozinho?”

Marilisa imediatamente rebateu:

- “Não! O Marcucci já acertou como o Governador. Ele vai passar para o PMDB...”. 

Pensei no Delegado Hilton Vieira – Gerente de Orientação e Controle da Polícia Civil (órgão que substituiu a Corregedoria), trabalhando, suando a camisa enquanto  Marilisa ainda fez outro grande comentário:

- “Isso que está acontecendo aqui em Joinville é muito triste para nós, sabia? Os Juízes, Promotores estão obrigando o Hilton (Delegado), o Mário Martins (Delegado) e outros aqui a ir para o Fórum prestar depoimentos. Ontem foi o Hilton. Elei foi lá pro o Fórum ser interrogado pelo juiz que queria saber tudo o que ele andou fazendo por lá.  Imagina, se fazem isso com o nosso “Corregedor-Geral”, o que eles não fazem com um Delegado como simples mortal como nós?” 

Lamentei:

- “É mesmo, é lamentável que isso tenha ocorrido. Como é que pode o Mário Martins vir  para Joinville e monte uma força-tarefa com policiais daqui ou até de fora, mas sem que se expusesse, eles tinham que se preservar, não poderiam se expor e agora acontece isso, passam a ser intimados a ter que comparecer para dar explicações, é lamentável!”

Marilisa ainda revelou que o Delegado Zulmar Valverde deixou o PT e parecia que voltou para o PFL, depois de uma briga com o pessoal do diretório... 

O moral dos policiais de Joinville destroçado: 

Dia 14.02.05, por volta das dezessete horas liguei para a Delegada Marilisa na Delegacia da Mulher em Joinville. Logo que me atendeu parecia deprimida e foi desabafando:

- “Estamos muito tristes aqui. Tive até vergonha de ir na igreja no domingo rezar, as pessoas ficaram me olhando, me cobrando e eu não sabia o que dizer. Fiquei muito envergonhada. Aqui todos os Delegados estão assim, muito tristes com o que está acontecendo. Nós queríamos que eles viessem aqui para nos ajudar, não para fazer esse carnaval na imprensa, não para criar esse clima de terror...”.

Interrompi:

- “Na Revolução Francesa nós tivemos o ‘Robespierre’ que aterrorizou muito, só que depois foi guilhotinado também...”. 

Marilisa concordou:

- “Então é ‘Robespierre’, esse é o nome. Mas doutor o senhor pode nos ajudar, vê se faz alguns contatos aí na Capital, procura relatar a nossa situação aqui, o que nós passamos. Eu sei que o senhor é bem relacionado aí...”.

Interrompi:

- “Eu vi a reportagem hoje no jornal do almoço e o Delegado-Geral estava falando em responsabilizar inclusive Delegados que já não estão mais aí em Joinville...”. 

Marilisa continuou:

- “ Eles vão ter que ressuscitar até mortos que passaram por aqui. Tem muitos Delegados que passaram por aqui, o Ênio, o Vavassori, o Zanetti o João Pessoa. Sim, a gente sabe que nós tivemos Delegados vadios que passaram por aqui também...”.

Marilisa citou dois nomes. Interrompi:

- “Mas o Thomé está conseguindo tirar o assunto dos ‘caixeiros’ do foco e reverter a situação, pois antes eram todos contra o Marcucci, agora é o Thomé contra todos...”. 

Marilisa parecia visivelmente deprimida e foi dizendo:

- “Na quinta e na sexta da semana passada eu tive que ir para São Francisco despachar lá na Delegacia, pois o doutor Ivan teve que viajar com urgência. É isso que nós ganhamos aqui, fazemos um sacrifício grande e não há reconhecimento. Eu tive que ir lá para São Francisco despachar. Eu queria que eles viessem aqui para resolver nossos problemas como a falta de condições de trabalho, de policiais... É por isso que tem muita coisa atrasada, mas não interessa para eles enxergar essas coisas, só o que interessa...”. 

Questionei o que a Adpesc estaria fazendo para defender os Delegados e Marilisa relatou que absolutamente nada. Relatei que vi o Delegado Maurício Noronha (Presidente da Adpesc) desfilando fantasiado na escola “Unidos da Coloninha”. Marilisa acabou dando uma risada em sinal de descontração e comentou que parece que na quarta-feira alguém da Associação dos Delegados estaria presente em Joinville para “acompanhar” os acontecimentos. 

Por volta das oito horas fui acessar a Internet e comprovar a “bondade” da direção da Polícia Civil  em liberar a rede a conta gotas  e para minha surpresa realmente foi liberada, entretanto, em baixa velocidade o que pressupunha que talvez daqui alguns meses iriam liberar um acesso menos irritante e desgastante...