A amizade entre os Delegados Hilton Vieira e Marco Aurélio Marcucci:

Dia 14.09.07, no horário das quatorze horas, o Delegado Hilton Vieira veio até minha sala para reclamar que eu havia convocado a Inspetora Daniela, sua secretária, para mais uma viagem com a comissão de processo disciplinar. Pedi desculpas e acertamos a situação. Antes que Hilton saísse lembrei a ele que teria que ouvi-lo como testemunhas requerida pela defesa do Delegado Marcucci. Hilton retornou e foi dizendo:

- “Eu sei o que ele quer. O Marcucci quer é me atribuir responsabilidade pelos livros que eu peguei. Ele insiste em afirmar que eu arrombei o prédio da ‘DIC’ lá em Joinville e apreendi os livros de controle de viatura e de inquéritos policiais... “.

Interrompi:

- “Tudo bem Hilton. Mas tu estavas lá na condição de ‘Corregedor’. Depois, tu não devolvesses os livros? Então, se tu tens a cópia da ‘CI’ ou se não tens, o que importa é a tua palavra... “. 

Argumentei, ainda, que achava difícil que o interesse de Marcucci seria prejudicá-lo, pois nas audiências que presidi não percebi esse intento. Hilton insistiu que Marcucci estava tentando responsabilizá-lo, criando novos fatos.  A seguir, comentou que pelo que pôde perceber Marcuccì estaria era querendo criar provas para juntar em seus recursos. Relatei que numa das audiências teria comentado com Marcucci que ele era amigo do Delegado  Hilton Vieira desde à época que ele era o Delegado Regional de Joinville... No final da conversa, Hilton Vieira confirmou que mantinha amizade com Marcucci desde os tempos que respondia pela Gerência de Orientação e Controle da Polícia Civil e que no início das acusações o DRP de Joinville havia ligado para a casa dele pedindo que presidisse o inquérito policial porque era seu amigo, pois do contrário seria indicado o Delegado Zulmar Valverde que era seu inimigo político. Hilton Vieira confidenciou para Marcucci que se ele estivesse “limpo” não teria problema algum de presidir seu inquérito.

Por volta das quatorze horas e trinta minutos a Escrivã Margarete da Corregedoria da Polícia Civil esteve na minha sala e comentou que na semana que passou entrou em contato com a Delegada Marilisa e soube que o Delegado José Alves havia se aposentado e que o ato havia sido publicado no DOE 18.199, de 03.09.2007 (Portaria n. 1374/IPESC, 24.08.07).  Autorizei Margarete a substituir o Delegado Alves pelo Delegado Gentil João Ramos.  “É o fim do Alves. Sim, o fim profissional dele”, pensei.

A nova visita do Delegado Wilmar Domingues e os contatos com a Delegada Sonéa Neves (Presidente da Associação dos Delegados de Polícia do Estado de Santa Catarina): 

No horário das quinze horas o Delegado Wilmar Domingues apareceu na minha sala para fazer uma visita e relatar que esteve novamente na Adpesc, em cujo local conversou pessoalmente com a Delegada Sonéa que lhe relatou que esteve em Brasília tratando da PEC da carreira jurídica para os Delegados de Polícia e que a comissão havia aprovado a proposta, sendo que apenas um Deputado que era Promotor de Justiça teria sido contra, alegando que o Ministério Público não está vinculado ao Poder Executivo.  A Delegada Sonéa também teria relatado que os policiais militares tentaram por meio de emenda se vincular às carreiras jurídicas, o que acabou sendo negociado, pois havia uma outra emenda que tratava da desmilitarização das Polícias Militares e que acabou sendo engavetada em troca da negativa da rejeição da emenda dos militares de entrarem nas carreiras jurídicas. Wilmar comentou que conversou com a Delegada Sonéa sobre a LC 378/07 e que havia um anteprojeto que tratava sobre o assunto. Sonéa argumentou que havia recebido uma correspondência do Delegado Sílvio Gomes de Itajaí no mesmo sentido. Wilmar Domingues insistiu que a proposta era do “Felipe Genovez” e foram comparar as redações, chegando a conclusão que realmente o texto era o mesmo. A Delegada Sonéa argumentou que noutra oportunidade já havia feito contato comigo para escrever a história da Polícia Civil e que era para conversar comigo para que eu mandasse por meio de e-mail o texto do anteprojeto porque o governador quer conversar com ela que poderia ser chamada a qualquer momento. Duvidei em silêncio.

No horário das quinze e trinta horas, liguei para Marquinhos na Gerência de Recursos Humanos da Secretaria da Segurança Pública que me disse que o pessoal da Central de Rádio da Polícia Civil foi retirado da Polícia Militar. Segundo Marquinhos a Central de Rádio passou a funcionar novamente no prédio da Delegacia-Geral e que os policiais estavam bastante revoltados de terem que sair da Polícia Militar. Marquinhos citou o caso da policial Deisy que – segundo diziam – possuía uma língua muito afiada e que teria dito que o Delegado-Geral emitiu uma nota dizendo que os policiais que trabalhavam no “Cepol” eram muito vadios, não faziam nada. Achei aquilo muito esquisito e argumentei que foi muito bom terem retirado o serviço de rádio da Polícia Civil do âmbito da Polícia Militar e que o Delegado-Geral Maurício Eskudlark era experiente e preparado, não emitiria uma nota inconsequente daquelas. Também, argumentei que os policiais não sabiam o que inventar e começavam a falar de mais.. Marquinhos argumentou que tentaria localizar a nota do Delegado-Geral, muito embora tivesse quase certeza que não existia, que era tudo fofoca dos policiais que queriam continuar trabalhando na Polícia Militar.

Um encontro com o Delegado Rodrigo Marquetti – Delegado Regional de Polícia de Blumenau:

Dia 18.09.07, no horário das 10:30 horas, cheguei na Delegacia Regional de Polícia de Blumenau para ouvir o Delegado Rodrigo Marquetti.  Logo que o avistei no seu gabinete fui sinalizando e ele mandou que eu entrasse. Rodrigo era aquele “gurizão” que está próximo dos “trinta”, e tentava revelar segurança do cargo, do que fazia...  Era fumante e se via pela barriga que estava fazendo muitos contatos, mantendo muitos compromissos, sem contar os sinais de estresse... Mas tinha a vantagem da idade e poder abusar, entretanto, ficava a aquela certeza de que tinha pressa em crescer rápido na instituição... Nesse aspecto lembrava Marcucci, só que Rodrigo se apresentava mais comedido e prudente, menos ousado, não iria para o tudo ou nada tão facilmente, sem medir as consequências.  Andava de terno e gravata e caprichava no estilo executivo. Logo que me sentei na sua frente e fui servido de um cafezinho, Rodrigo foi dizendo:

- “Aquela lei do ‘fundo’ da PM, eu estava conversando com o Maurício e ele disse que o ‘decreto’ foi revogado...”.

Pensei antes de falar: “Rodrigo está falando de uma lei complementar, da LC 378/07, mas o que vou dizer para ele se já trata o assunto como um ‘decretão’?” Em seguida externei meus pensamentos:

- “Bom, que ‘decreto’ é esse? Não é ‘decreto’, é uma lei complementar. Imagina, para revogar uma lei complementar é necessário ir um projeto para a Assembléia Legislativa. Isso aí é bobagem o que o Maurício te disse. Como é que se diz mesmo, é puro ‘balão’. O negócio agora é dar ‘balão’ nos Delegados”.

Rodrigo se fixou nas minhas palavras e deu a impressão que estava concordando com meus argumentos, o que me fez pensar: “Meu Deus, o Maurício fica inventando saídas para neutralizar qualquer movimento dos Delegados, apagar qualquer foco de fogaréu, quer administrar tranqüilo, exercer seu domínio territorial, pessoal, político...  sobre os policiais, administrar sem resistências, mesmo que a ordem seja dar balões, contar estórias, inventar, aplicar um sete um... Imagina o Rodrigo, filho de ex-Deputado, ficar acreditando nisso. Outro dia foi lá em Itajaí com o pessoal do Sílvio, agora novamente em Blumenau...”. Acabei argumentando que estávamos muito mal representados. Relatei que a Delegada Sonéa – Presidente da Associação dos Delegados - estava em Brasília cuidando da ‘PEC’ das carreiras jurídicas, enquanto que aqui no Estado a coisa ficava para o ano dois mil e dez...  Rodrigo me interrompeu perguntando se eu havia conversado com a Delegada Sonéa sobre a LC 378/07. Argumentei que foi conversado, mas por enquanto não existia nada. Comentei que o Maurício Eskudlark era do PSDB e o Secretário do PMDB e que enquanto houvesse essa equação política na Segurança Pública Maurício Eskudlark teria que ficar dando ‘balões’ nos Delegados. Também, citei o exemplo da Delegada Sonéa que era esposa do Secretário Adjunto (Delegado Neves) e só tinha uma saída para não prejudicar os projetos políticos do seu esposo, isto é, viajar para longe, cuidar de “PECs” distantes, desviar a atenção dos Delegados para causas impossíveis e dar seus “balões”. Rodrigo, de maneira cautelosa não fez muitos comentários, não se comprometeu com nada, apenas ouviu atentamente, lamentou a nossa realidade, intercalando com o atendimento no celular.

Por volta das 17:00 horas estava na Delegacia da Comarca de Gaspar, dentro do Gabinete do Delegado Paulo Koerich. Logo que entrei Paulo veio ao meu encontro para me recepcionar. Fui encaminhado para o interior da sua sala e apresentado ao Capitão PM Mafrioloti (acho que é assim) que estava ali fazendo uma visita de cortesia. O Capitão me pareceu uma pessoa sincera, muito embora pudesse imaginar o que estivesse fazendo ali, ou seja, cumprindo ordens superiores.  Conversamos os três mais um pouco e o Capitão disse que em Gaspar as “Polícias” possuíam um ótimo relacionamento, chegando a duvidar que em outra cidade houvesse esse nível de entendimento. Fiquei contente. Em seguida o Oficial pediu licença e ficamos eu e Paulo conversando reservadamente. Paulo relatou que a PM estava querendo fazer boletins de ocorrência, lavrar termos circunstanciados...  Disse que o Capitão esteve ali tratando do assunto, que iriam remeter os boletins de ocorrência para a Delegacia. Paulo Koerich comentou que ao invés da ficha de ocorrência da PM, agora eles mudaram o nome para “Boletim de Ocorrência”.

Também, disse que os PMs estão lavrando o boletim de ocorrência e solicitando perícia. Interrompi:

- “Pois é, tinha que se chamar o ‘Seu R. T.’ agora para explicar. Ele comprou uma briga com os médico legistas, atazanou o pessoal o que deu, até que os Peritos fizeram um movimento que acabou com uma emenda constitucional... onde é que está o ‘Seu T.’ agora?”

Paulo comentou:

- “Bom, imagina, a PM solicita perícia e eles vão ao local por solicitação da PM, fazem a perícia...”. 

Paulo comentou que os Juízes e Promotores não reconheciam o boletim de ocorrência da PM. Se recebessem boletins da PM iriam mandar para a Delegacia de Polícia para oficialização.  Paulo koerich ainda argumentou que o Capitão havia dito que iria descaracterizar mais uma viatura da PM, colocar mais dois policiais no P2, para realizarem investigações. Também, disse que os PMs iriam trabalhar diretamente para os Promotores. Argumentei que era uma luta burra dos Oficiais da PM, pois a afinidade deles deveria ser  conosco, não com Promotores e Juízes. Lembrei que nunca tive conhecimento de qualquer luta do pessoal da Justiça para defender direitos de policiais, já os Delegados...  Acabei falando que o sistema policial brasileiro foi inspirado no modelo francês e que isso era  importante para as duas polícias, para manter essa dualidade, o fortalecimento, as características...  Relatei que a PM estava vivendo um momento muito difícil, uma crise de identidade, razão porque acabava querendo atropelar os Delegados e a Polícia Civil, invadindo suas competências. Comentei que com a PEC transformando a carreira de Delegado de Polícia em carreira jurídica, os Oficiais estariam querendo participar das decisões jurídicas, ocupando algum espaço para se justificarem também não como militares, mas como carreiras jurídicas e que nesse aspecto, concordava com os Oficiais, mas o problema é que seria preciso primeiro se assegurar aos Delegados essa condição. Depois, procurei falar que faltava aos Delegados uma “agenda”, depois um “planejamento estratégico” e, por último, “ações”. Discorri que as ações dependiam de três vias de poder na Polícia Civil. A primeira a “cúpula”, a segunda os “Delegados Regionais” (relatei um pouco da história dos DRPs que exercem poder local) e, por último, as lideranças classistas.  Paulo concordou que os Delegados Regionais tinham uma dívida muito grande com a instituição, todos, os atuais e os que já foram. Também, concordou que existiam Delegados Regionais mais fortes politicamente do que o Delegado-Geral  e até Secretários de Segurança.

No horário das 17:30 horas resolvi passar para o cartório a fim de ouvir o Delegado Juraci Darolt numa sindicância.  Logo de início Darolt se apresentou com ares de Delegado meticuloso, prudencioso, amistoso... Enquanto aguardava a chegada da minha secetária Patrícia Angélica Darolt foi desabafando no sentido de que estava em dúvida se iria se aposentar ou não. Em seguida, externou que ainda não havia assimilado bem ter perdido a Delegacia Regional de Blumenau para um Delegado Substituto como Rodrigo Marchetti. Aproveitei para dar uma alfinetada:

- “Pois é, tu lembras quando a gente conversava lá na ‘Regional’ de Blumenau em 2004 e eu te dizia da importância dos Delegados Regionais se organizarem, fazerem alguma coisa? Lembras?”

Darolt respondeu:

- “Sim, lembro, o senhor tinha razão. Imagina, um Delegado substituto como o Rodrigo vai ali e tira a minha vaga, dá licença, isso é um desrespeito. Ele tem que entender que ele fez isso hoje comigo, mas amanhã vão fazer com ele...”.

Darolt parecia muito habilidoso ao tratar de questões políticas, ainda mais quando se está na condição de “barriga vazia”, mas era uma pessoa boa, porém, político e eu acabei dizendo que tudo o que aconteceu com ele era resultado das ingerências políticas que sempre permearam o universo dos Delegados. Darolt externou que me admirava muito e deveria haver uns seis Delegados como eu para fazer as mudanças necessárias na instituição. Acreditei que ele teria dito aquilo com convicção, portanto, mereceria credibilidade, mas o problema é que quando se está no poder as pessoas que poderiam mudar o curso da história acabam pensando de outro jeito bem diferente. Colhi o depoimento de Darolt e a todo o tempo ele demonstrava que não desejava se indispor com ninguém, ou melhor, queria era ficar bem na foto com todo mundo, uma hora dizendo que não lembrava mais de nada, outra dizendo que adotou todas as medidas cabíveis para cobrar mais policiais civis o que me levou a pensar: “que figuraço esse Darolt!” No final da conversa Darolt confidenciou que iria mesmo pedir sua aposentadoria e trabalhar com sua esposa numa fábrica de confecções de biquínis. Estranhei que fiquei conversando com o Delegado Paulo Koerich e nada de Darolt dar as caras para conversarmos a três e logo intui que a relação entre ambos não era boa...  Quando terminei a audiência, Darolt disse que iria cumprimentar o Delegado da Comarca de Gaspar.