A mãe de Marilisa:

Dia 07.09.07, por volta das onze horas da manhã estava na praia de Enseada, em São Francisco do Sul, e ao deixar a “Imobiliária Rocha”, depois de uma conversa sobre política com o Senhor Rocha, lembrei que havia um campeonato de surf na “Prainha” razão porque resolvi dar uma passeada por aquele local. Antes, porém, lembrei de dar uma chegada pela casa de praia da mãe de Marilisa localizada na praia da “Enseada” (caminho alternativo para a “Prainha”), pois poderia apostar que ela tinha vindo passar o feriadão naquele local.  Aproximei minha velha caminhonete Hilux branca próximo da casa da mãe de Marilisa (segunda casa da rua) e de imediato percebi que havia um rapaz andando no quintal à frente do imóvel. Também, notei que na residência ao lado havia uma mulher de bermudas, cabelos presos e, enquanto manobrava meu carro e fazia a volta, observei que ela não parava de fazer faxina, chegando a dar a impressão que percebeu a minha chegada, porém, sem se fixar muito, como se tivesse meio que me reconhecido e esperado algum sinal de confirmação. Como eu estava com pressa e fiquei em dúvida, porque se parecia muito com Marilisa (nunca a tinha visto sem estar produzida e naquela condição), além do mais, estava limpando a casa do vizinho, o que poderia apenas ser uma coincidência ou não? Digo isso, primeiro porque realmente fique em dúvida se era ela e, por segundo, porque não era a casa dos seus pais.  Certamente que se não tivesse com tanta pressa ou melhor, se tivesse certeza que era ela, claro que teria parado para dar um alô, dizer oi, como vai...  Em seguida lembrei que ela havia me perguntando se eu ficaria em São Francisco até o final de semana...  Logo que deixei o local, depois de uns quinze minutos, liguei para o celular de Marilisa, mas nada de atender, o telefone chamou, chamou, chamou... e nada.

Dia 10.09.07, e nada de Marilisa, realmente era hora de colocar por terra qualquer pretensão de nos encontrar para tratar das estratégias sobre o assunto do nosso “anteprojeto” (Fundo de Aposentadoria dos Policiais Civis), muito menos de conversarmos sobre assuntos diversos, como do cotidiano policial, saúde, poesias...  Era triste imaginar “Marilisa” empolgada com as coisas do seu dia a dia, tais como: apanhar seu filho e levar não sei onde, ir semanalmente (ou mensalmente) a sua cabeleireira predileta tagarelar e pintar seus cabelos, fazer uma visita à sua manicure para colocar os assuntos em dia... Enquanto isso, ninguém tinha nada haver com nossos assuntos institucionais, todos pareciam se esquivar, invocavam desculpas ou acabavam dizendo que os nossos problemas eram provocados por um “Bin Laden” ou “Peter Phothamus”. 

Um “escravão”, o “jeito raposão”,  o “cobrão” e a “princesinha”: 

Nesse contexto, Osnelito continuava boquirroto, falastrão frustrado e amordaçado pelo sistema que não lhe permitia ingressar na carreira de Delegado e por isso talvez morreria “escravão”. Jorge Xavier, sempre com aquele seu jeito rapozão, depois de expurgado do comando da Polícia Civil passou a cuidar dos netinhos e procurava ainda se curar dos traumas causados por sua “disparada”... Já o Delegado Rubem Garcez, muito provavelmente, estaria na condição de serpente, lendo “filósofos iluminados” para se imunizar e transportar para a “conquista das estrelas”, na esperança de se transformar numa pessoa diferente de seus pares posicionados aquém... Marilisa, bom, minha querida Marilisa poderia estar “Barbarellando” como uma princesinha em Joinville... E, quanto a este piloto perdido no deserto policial? Talvez um errante em contínua jornada ao “Centro da Terra”, como naquela epopéia “rickwakeniana”, acreditando em sonhos, fadas, seres encantados, na lâmpada de Aladin...  Quanto aos inimigos? Estou em paz. E os amigos? Perdoarei a todos sempre, se é que os tenho, já que o essencial é invisível aos olhos, apenas é possível sentir com o coração.

A saga:

E agora? Sim, precisarei de contingências, talvez, de um salto quântico, fazendo uma invocação a Garcez, mas no meu caso, não como ponto de fuga, tão só para continuar minha saga rumo a outros universos desconhecidos.

A visitado Delegado Wilmar Domingues:

Dia 11.09.07, por volta das dezesseis horas o Delegado Wilmar Domingues veio até a Corregedoria da Polícia Civil para apanhar o material que havia deixado comigo para fotocopiar (acórdão do TJ./SC). Também, solicitou uma cópia do anteprojeto de lei sobre o “fundo” para os policiais civis se aposentarem. Wilmar também solicitou uma cópia do meu parecer que apresentei para o Delegado-Geral Maurício Eskudlark relacionado aos “Termos Circunstanciados”.  Aproveitei para repassar para Wilmar uma cópia da Lei Complementar 378/2007 (beneficiou os policiais militares). Em seguida, Wilmar leu a legislação e mais o “anteprojeto de lei complementar” de criação do “Fundo de Aposentadoria” e me lançou uma indagação sobre o que deveria ser feito para aprovarmos essa proposta. Recomendei que devêssemos fazer contatos políticos, em especial, com o Deputado Blasi, líder do PMDB na Assembléia Legislativa que possivelmente teve uma participação especial na aprovação da mencionada legislação complementar. Wilmar confidenciou que seu filho possuía boas ligações com o Deputado Blasi e com o Prefeito de Palhoça (Ronério) e a seguir me perguntou se não seria interessante colocarmos que os Delegados finais de carreira tivessem o benefício de vinte por cento de gratificação, após trinta anos de serviços. Lembrei que em sua homenagem faria as alterações no anteprojeto. Cheguei a questionar que talvez aquela proposta pudesse prejudicar a tramitação do anteprojeto, porque na LC 378/07 apenas os Coronéis foram beneficiados e no nosso caso, não só os Delegados Especiais seriam beneficiados, mas todos os policiais civis finais de carreira. No curso da conversa concordei que seria mais simpático colocarmos esse benefício para todas as carreiras, fixando o tempo de trinta anos de serviço policial no Estado. Nesse sentido, nossa proposta seria um pouco diferente da PM, porque no nosso caso, seriam trinta anos, independente de ser mulher ou homem. Argumentei que na PM o tempo de serviço era exclusivamente militar, já na Polícia Civil o policial poderia ingressar contabilizando averbação de tempo de serviço. Ficou acertado que Wilmar faria uma visita à Delegada Sonéa, Presidente da Associação dos Delegados de Polícia do Estado de Santa Catarina (Adpesc), a fim de sondar se havia algum anteprojeto já em andamento sobre esse assunto. Depois disso, ficou acertado que faríamos um encontro com vários Delegados e acertaríamos uma audiência com o Deputado Blasi para tratar do assunto. Relatei a Wilmar que havia feito contatos com a Delegada Marilisa de Joinville e que a mesma havia se comprometido de fazer contatos com políticos da região norte (Deputado Darci de Mattos...), para que pudéssemos entregar o nosso anteprojeto, mas que até aquele momento não tivemos qualquer avanço. Procurei estimular Wilmar no sentido de buscarmos uma outra via, um outro caminho, apesar de que as nossas esperanças continuassem fortes e centradas no norte do Estado.

Dia 12.09.07, mais um dia se passou e nada de Marilisa. Lembrei que havia dito a ela que somente quando ela fosse se aposentar é que sentiria a importância de lutarmos para conquistar aquele benefício indenizatório. Não quero que essa responsabilidade pese sob suas costas, até porque  outros Delegados estão apenas alheios, assistindo, esperando, contemplando, filosofando, jogando, brincando, entretidos...  Mas o silêncio de Marilisa é como uma ponta de espada que fere visceralmente, em especial, minha alma, porque sempre dei o meu melhor para ela, como se uma irmandade formássemos, na esperança de criarmos laços verdadeiros de amizade. Mas, o tempo é o grande aliado, basta ter prudência e paciência, porque é o tempo que fará aflorar revelações para nossas vidas. 

Por volta do horário das dezoito horas, Wilmar ligou por meio do meu celular e foi relatando que esteve na sede da “Adpesc” e não encontrou a Delegada Sonéa. Wilmar contou ainda que Sonéa e o Delegado Artur Régis estavam em Brasília cuidando da “PEC” da carreira jurídica para Delegados. Imediatamente eu rebati:

- “Eu não te disse Wilmar, é um tal de correrem para bem longe, fugirem daqui, buscarem causas distantes, tipo viagens para ‘Roma’, ‘Paris’, Brasília, enquanto que aqui em Santa Catarina, esquecem tudo! Brincadeira, estamos mortos com esse pessoal...”.

Wilmar concordou e fez o seguinte comentário:

- “Eu conversei com o Sell (Delegado aposentado Arthur Sell, da diretoria da Adpesc) e falei sobre a lei da PM (que criou a indenização de cotas para fins de aposentadoria) e ele disse que desconhecia essa legislação. Ele ainda falou: ‘é, o que essa PM não consegue’.  Bom, o que que tu achas que nós temos que fazer agora?”

Respondi:

- “Eu acho que nós temos que reunir um grupo, marcar um encontro, esse é o próximo passo”.

Wilmar concordou, perguntando:

- “Sim, mas tu não achas que a gente deva aguardar a Sonéa voltar de Brasília e conversar com ela?”

Argumentei:

- “Sinceramente, Wilmar, é aquilo que eu dissesses naquele dia, eu que não sou presidente da Adpesc, não sou da diretoria, já estou com o anteprojeto pronto. Agora, ficar esperando por eles que estão lá em Brasília? Dá licença, vamos tocar nós mesmos...”.

Wilmar concordou com meu raciocínio e acertamos para a próxima segunda-feira voltarmos a conversar sobre o assunto e traçarmos as estratégias. Wilmar ainda quis saber onde eu andaria pelos próximos dias. Respondi que estaria viajando pela Corregedoria e ele brincou:

- “Eu acho que vou trabalhar aí para viajar um pouco também, ah, eu acho que vou...”.

Brinquei:

- “Claro que sim, vem pra cá,  vai ser bom, aqui é bom...”.

E, assim terminamos nossa conversa.