Uma nova força política?

Por volta das dezoito horas e trinta minutos, estava na minha sala (Corregedoria da Polícia Civil) e eis que ouvi tocar  o telefone fixo. Ao atender aquela voz saltou:

- “O que tu estais fazendo aí ainda trabalhando?”.

Sim, era a queridíssima  Marilisa que de início quis  uma orientação como preencher o relatório da nossa última viagem. Depois de dar as dicas Marilisa fez uma revelação:

- “Tu sabes o que o Deputado Vieira queria comigo no sábado? Depois eu ri um monte. Ele veio me convidar para ser candidata a prefeita de Joinville. Olha, eu tive que rir. Ele disse que meu nome está nas pesquisas e que seria muito importante eu sair candidata. À noite me ligou o Tebaldi, imagina, uma loucura...”.

Interrompi:

- “Bom, isso tem o lado bom, pelo menos estais sendo lembrada, mas não é fácil...”.

Marilisa interrompeu:

- “Imagina, e se acaba dando uma zebra e eu ganho as eleições, como é que vai ser?” 

Procurei ser direto:

- “Bom, é possível, tu tens um nome limpo na praça, não existe nada contra a tua pessoa,  já os políticos profissionais que têm por aí estão bem desgastados. Tu vais precisar de assessoria...”.

Marilisa, sem conter seu estado de graça, arrematou:

- “Eu aceito, mas só se tu vires para cá me ajudar. Tu vens?”

Fiquei num misto de surpresa e alegria e argumentei:

- “Claro que sim. Claro que vou, sabes que sempre poderás contar comigo”.

Marilisa:

- “Ah, então eu aceito, se tu vieres me ajudar eu aceito”.

Sim, era puro delírio, temperado com alegria e eu não queria estragar o momento dizendo algo negativo. Ela para registrar:

- “Bom, tu sabes que eu quero ser...?”

Antes que eu desse a resposta ela me interceptou:

- “Invisível, eu sei”.

Rimos juntos e ela completou:

- “Ah, eu também quero ser invisível, igual naquele filme...”.

Interrompi:

- “Ah, sei, o Harry Porter, quando ele usa uma capa”.

Marilisa:

- “Isso, uma capa, não tens uma aí para me arranjar?”

Continuei naquele clima festivo:

- “Ah, eu acho que na minha cabe mais uma”.

Marilisa:

= “Ah, então tá bom, eu vou...!”

Interrompi:

- “Brincadeiras à parte,  tens que pensar muito, tu sabes como são os políticos. Eles querem um Judas, alguém para colocar na vitrine, depois, que se vire. Tu sabes, Marilisa, que é assim, depois que tu entra não tem mais volta. Mas tu tens um bom nome, conheces muita gente. Tens que pensar e eu não quero influenciar na tua decisão, isso te pertence...”.

A omissão dos Delegados Regionais:

Marilisa  parecia ainda sob efeito da euforia, mas existia aquele ditado: “depois da festa acaba a euforia, e sobra a conta para pagar”. Entretanto,  na hora da festa o jeito é curtir e esse era o tom do momento. Marilisa desabafou que no dia seguinte  não iria  ter um policial de plantão na 6ª DP e que teria que  vir abrir as portas da Dpcami de Joinville. Fiquei pasmo e recomendei que ela fizesse um relatório para o Delegado Regional Dirceu Silveira. Marilisa comentou  que já tinha providenciado  e nisso aproveitei para desabafar:

- “Olha, Marilisa, eu tenho uma bronca com os Delegados Regionais, são uns omissos, eles têm uma visão míope, só enxergam a sua região, não se unem, não querem entrar em confronto com a cúpula, com  políticos, e dá nisso, uma vergonha. Bom, tu já fosses Delegada Regional aí e sabes que é assim”.

Marilisa concordou e depois  reiterou o que já tínhamos conversado sobre o   anteprojeto a respeito do  nosso “Fundo de Aposentadoria”. Aproveitei  para sugerir que na condição de Presidente da  “Rede de Assistência Jurídica aos Policiais Civis”, mandasse um documento ao Deputado Darci de Matos para que ele desse encaminhamento à proposta do nosso anteprojeto. Marilisa comentou:

- “Que chic, que chic...!”

Procurei esclarecer:

- “Eu presido essa entidade, foi eu que criei, só que ela está inativa há anos, então o jeito é ressuscitá-la”.

Marilisa reiterou:

- “Que chic, claro que sim,  vai dar força!.

Interrompi:

- “É, porque aí já não é mais um anteprojeto do Felipe e da Marilisa, é uma proposta chancelada por uma entidade com força sindical, não achas?”

Marilisa:

- “Claro que sim!”

Completei:

- “Deixa que eu vou fazer um documento para o Deputado Darci e te mando?” 

Genial:

Depois que encerramos a ligação fiquei pensando: “Puxa vida, será que Marilisa tem mesmo uma missão existencial superior de vida  a cumprir? Como Evita Perón, Joana D’ Arc, Golda Meir, Indira Ghandi...? Ou será apenas minha eterna  Barbarella me conduzindo para o Éden, com super poderes, uma mistura  barbarizante (que causa frenezi, empolga, flutua, vaporiza e ao mesmo tempo realiza, eletriza, magnetiza...  coisas tão geniais? De qualquer maneira, era o  seu jeito, e ela tinha todo o seu  carisma,  luz própria,  personalidade, conhecimento, empatia..., enfim, tudo corria a seu favor. Por tudo isso tinha que torcer pelo seu futuro político, era mais do que uma  mulher, um  místico cheio de divindade, do espírito forte, uma alma que purificava, uma “Evita” que em qualquer espaço e tempo só poderia galvanizar e distribuir o  bem”.