A visita dos Delegados Mário Martins e Ademar João Rezende:

Dia 27.08.07, por volta das quatorze horas apareceu na minha sala (Corregedoria da Polícia Civil) o Delegado Mário Martins, seguido pelo Delegado  Ademar Rezende (Advogado do Adpesc). Brincadeiras à parte, Mário Martins passou a provocar  Ademar Rezende chamando-o de “velho”, claro que isso de tabela,  pelas entrelinhas, seguido de muitos risos.  Em seguida, chegou a policial Patrícia Angélica que me avisou  que já iria  qualificar o  “Doutor Mário” que seria ouvido no caso dos crânios achados no prédio que onde funcionou a 1ª DP/Capital, localizado na Chácara da Espanha (centro). O objetivo era apurar a invasão do antigo prédio que teria sido invadido  por mendigos, assunto que foi veiculado na mídia e gerou sindicância sob minha presidência. No curso da nossa conversa o velho amigo Mário Martins me disse que pretendia pedir aposentadoria no início do próximo ano  e que isso já era definitivo (definitivo? Pensei). Perguntei para Mário Martins como estava o Delegado Rachadel, por que tinha  uma sindicância contra ele que se encontrava afastado das funções, só que não conseguia  citá-lo. Mário Martins respondeu que o Delegado Rachadel aparentemente encontra-se ruim de saúde, dando a impressão que com  algum problema relacionado a  depressão. Mário Martins ainda disse que exigiu que ele assinasse um termo requerendo férias atrasadas, da época em que era Corregedor-Geral  (quatro meses). Na sequência, Mário Martins comentou  que fez aquilo porque não tinha  os comprovantes das férias suspensas e assim passaria  a responsabilidade para ele. Achei um procedimento  infantil da parte de Mário Martins porque não o eximiria  de informar a administração esses fatos, já que férias suspensas ou interrompidas teriam que   estar comprovadas.  Mário Martins ainda relatou que os processos de aposentadorias dos policiais civis estavam todos  comprometidos porque o Tribunal de Contas e a Secretaria da Administração entendiam  que a matéria ainda não havia sido  regulamentada e que estavam  se baseando numa decisão do Tribunal de Justiça no caso do Delegado Valquir Sgambatto. Nesse caso, a concessão de  aposentadoria teria ficado  condicionada  ao exercício de cargo estritamente policial  por, no mínimo, trinta anos de serviço e no caso do Delegado  Rachadel faltariam ainda uns três anos. Mário Martins relatou  ainda que o Delegado Marlus Malinverni teve dois infartos e quase morreu. Fiquei impactado e lembrei do Delegado Acioni: 

- “Puxa, então todos que trabalharam na Coordenação da Central de Polícia estão morrendo...”.

Mário ainda contou que o Delegado Marlus não retornava mais ao serviço ativo e que procurou visitar o mesmo na “SOS Cárdio”, mas soube que ele já havia tido  alta. Mário Martins com aquele seu humor titânico, aos risos, relatou  que quando esteve naquele estabelecimento médico encontrou a Delegada Edselmar sentada na recepção e foi ela que relatou que o Delegado  Marlus havia deixado o hospital. Mário Martins afirmou  que o esposo da Delegada Edselmar  (Delegado Renato Risadinha) estava numa maca bem  na sua frente, vítima de um  infarto. Fiquei pensando: “O jeito é a gente se cuidar, a começar por mim com essas dores de cabeça, em especial está última que foi resultante da viagem que fiz pela Corregedoria pelo oeste junto com Marilisa, Ariane, Zico e Daniela. Acabei no sábado de madrugada na Clínica Imagem, próximo à Beira Mar Norte, e até agora ainda não me recuperei totalmente, com tonturas, dores num nervo interno do pescoço (lado direito), náuseas, mal estar, não conseguia mexer a cabeça livremente no sentido rotacional, mas navegar era preciso e estava ali  pronto para viver e registrar tantas emoções...”.

Às dezesseis horas recebi uma ligação do Delegado Juraci  Darolt, ex-Delegado Regional de Polícia de  Blumenau e aproveitei para falar um pouco da omissão dos Delegados Regionais e como eram  responsáveis por muito das mazelas e atrasos  institucionais. Darolt fez seu comentário:

- “Ah, doutor, o senhor tem inteira razão. Eu vejo que realmente a política é muito nociva para nossa instituição, o senhor imagina, colocaram um Delegado novinho na DRP de Blumenau, lá no meu lugar...”.

Provando do próprio veneno?

Interrompi:

- Sim, mas Darolt a gente já conversou muito sobre isso, a gente já falou que a ingerência política é como um câncer, lembra? Se os Delegados Regionais se conscientizarem do poder que têm poderiam ajudar muito. Eu tenho certeza que se houvesse um colégio de Delegados Regionais, um presidente, um secretário, uma reunião cada mês numa região, muita coisa seria evitada, e daria mais força para os próprios Delegados Regionais. Sim, eu sei que a cúpula não iria gostar, imagina, os Delegados Regionais pressionando, cobrando...? O Secretário também não iria gostar, mas tudo isso faz parte do jogo democrático, da nossa luta...”.

Darolt me interrompeu:

- “Doutor, o senhor tem inteira razão, eu concordo. O senhor acha que eu devo pedir a minha aposentadoria  ou devo aguardar mais um pouco? O senhor sabe que a família tem uma fábrica de confecções de roupas...”.

Interrompi:

- “Bom, tu sabes que a PM aprovou recentemente a lei do ‘Fundo de Aposentadoria’ deles, sabes né?”

Darolt:

- “Não, doutor, não sei de nada”.

Continuei:

- “Pois é, o nome não é ‘fundo’, é uma indenização, quando se aposentam têem direito a um vencimento por ano trabalhado...”.

Darolt me interrompeu:

- “Mas doutor, se eu me aposentar eu tenho direito depois de requerer, não tenho?”

Procurei ter calma e explicar a situação:

- “Não, Darolt. A lei vige a partir da sua publicação, não há possibilidade de  efeito retroativo, só beneficiará os que se aposentarem no futuro, após a vigência da nova lei, entendes?”

Darolt lançou uma última:

- “Eu ando muito frustrado com tudo, acho que nossa instituição não tem futuro, estou muito descrente de tudo...”.

Interrompi:

- “Olha Darolt, a gente tem que ser otimista, temos que pensar grande. Tudo na vida tem dois lados (“tem vários”, pensei naquele momento...). Por exemplo, a tua casa, você pode olhar para ela e reclamar que não tem uma piscina térmica coberta, falta uma refrigeração central, o piso poderia ser melhor... Mas se você for olhar por outro ângulo a tua casa tem tantas coisas boas... Assim é a nossa instituição...”.

Darolt pareceu que se conformou e disse:

- “Doutor, sempre é um prazer falar com o senhor. Como o senhor me acalma,  agora eu já estou um pouco melhor...”.

Fiquei meio que passado, porque Darolt tinha  a minha idade e me tratava com de forma reverencial, enquanto eu era direto, sem cerimônias..., coisas do tipo que a gente acabava tendo que entender porque se transformava numa figura  mitificada. Em seguida lembrei dos tempos que Darolt estava à frente da Delegacia Regional de Blumenau e algumas vezes estive conversando com ele avisando que a falta de hierarquia era terrível para a saúde institucional e que ele a qualquer momento poderia deixar o cargo e ser substituído por um Delegado bem mais novo e graduado. Darolt parecia não dar ouvidos, apesar do jogo de habilidades nos contatos com colegas e superiores. O destino de Darolt foi perder o cargo por ingerências políticas, e quem assumiu o seu lugar foi um Delegado Substituto...