DELEGADA MARIA ELISA  (PARTE LXX):  O RESTAURANTE  CALÁBRIA (CURITIBANOS).    A LUTA PERMANENTE NA BUSCA DE ENTENDIMENTO. O VERDADEIRO SENTIDO DA VIDA E UMA “VISÃO SEMIÓTICA”.

Por Felipe Genovez | 27/02/2019 | História

"Calábria":

Dia 24.08.07, por volta das treze horas quatorze horas e trinta e cinco minutos, ainda estava na companhia de Mariliza, isso após o nosso almoço, sentado no interior do Restaurante e Pizzaria Calábria localizada no centro da cidade de Curitibanos. 

No curso da nossa conversa,  tratamos   também de política, do anteprojeto que pretendia criar o “fundo de aposentadoria para os policiais” para ser entregue ao Deputado Darci de Mattos.  Acabei fazendo uma brincadeira  com Marilisa chamando-a de “artista”, mas ela nada comentou e deu a impressão que apenas achou graça da minha provocação.  Na verdade quis chamar ela de “artista” porque na vibração política ela mudava, parecia  habilidosa, procurava acertar todas as situações por um modo fácil,  rapidamente se amoldava ao  ambiente e as pessoas que vibravam nessa energia, a impressão era que tinha dotação emocional para lidar pessoas desse nível. Já havia passado quase uns vinte ou trinta minutos que continuávamos  sozinhos naquela mesa e Marilisa, diferentemente das outras vezes, não esboçava qualquer vontade de deixar o lugar, querer ir embora para casa..., se pudesse ficava ali conversando comigo  por uma eternidade... Olhei fixo para ela e disse:

- “ Lembra o que você me disse naquele nosso encontro a última vez que aqui estivemos e ficamos bem ali do outro lado da rua, isso logo após o  almoço?”

Marilisa pensou um pouco e disse:

- “Meu Deus, como é que eu iria  lembrar disso?”

Respondi:

- “A gente começou a conversar e você queria ir para o carro, não queria conversar comigo e eu tive que segurar no teu braço para que você ficasse, lembra?”

Marilisa achou graça e ratificou:

- “Ah, sim, agora lembro, tu segurasses no meu braço e eu não fui...”.

Interrompi:

- “Sim, foi bem assim. Hoje eu te digo: ‘vamos embora?’”

Marilisa achou graça e concordou dizendo:

- “Antes eu tenho que ir no banheiro”.

Argumentei:

- “Eu estou brincando, podemos ficar, mas... “.

Marilisa:

- “Eu vou rapidinho no banheiro, já volto”.

Um agradável reencontro com o Delegado Regional Toninho:

Na sequência, disse  que não teria problema, ficaria na mesa aguardando o seu retorno. Como  ela estava demorando me levantei e me dirigi para o caixa para pagar a conta. Durante meu percurso até o caixa eis que  num canto encontrei o Delegado Regional Antonio de Curitibanos e  ficamos surpresos por nos encontrar no mesmo local sem saber um da presença do outro, dois velhos amigos...  De imediato constatei que o velho amigo  Delegado Toninho  estava na companhia de  uma policial da  “DRP”, bem mais nova que ele e  resolvi permanecer  ali aguardando  o retorno de Marilisa que quando chegou  também ficou surpresa... Em  seguida  concluímos nossa  conversa e reiniciamos a viagem para Joinville. Em Rio do Sul Marilisa e Ariane resolveram ir às compras numas lojas  anexas a um restaurante existente no trevo. Já próximo de Blumenau observei que Marilisa estava tentando conversar por meio de celular com seus filhos, relatando  que chegaria por volta das dezoito horas em sua casa. Depois, passou a digitar torpedos no seu celular, demonstrando muita habilidade com os dedos. Fiquei impressionado: “Puxa vida, ela sabe mesmo mandar torpedos com muita destreza, mostrava habilidades no manuseio com  o seu celular, digitava rápido e fiquei imaginando por que ela nunca me mandava  uma mensagem consistente já que era uma exímia “navegadora”? Também me perguntei por que ela dificilmente respondia meu  “torpedinhos” com mensagens ricas em substância, conteúdos? Por que não mandava mensagens de   carinho, manifestações de saudades, uma oração, uma dedicatória ou para tratar dos nossos projetos? Absolutamente nada, apenas o básico. Concluí que numa escala hierárquica a minha importância na sua vida realmente era de média a longa, uma questão de momento, diferentemente dos seus familiares, amigas próximas... Sim, era  verdade que quando estávamos  próximos percebia sua necessidade de me tocar, pegar no meu braço, sorrir, interagir..., mas tudo isso parecia  mais uma necessidade de preencher o vazio do momento, a oportunidade presente de alguém importante, o viver o agora, se produzir onde cativantes, absorver a energia presente..., depois, um  adeus obliquo, porque era hora de virar a página, deixar tudo para trás, e voltar à tona. Bom, não sabia  se estava  fazendo uma avaliação fria, mas era  assim que sentia integralmente. Na distância  conseguia perceber  o quanto éramos  queridos no plano das convenções, uma comissão de processo disciplinar, um Corregedor..., seria muito difícil me fazer importante na sua vida como um amigo indispensável, imprescindível, inalienável...

Chegamos em Joinville por volta de dezoito horas e fomos direto levar Marilisa na sua residência. Logo que “Zico” estacionou a viatura em frente a sua casa  ela perguntou se eu permaneceria no interior do veículo. Respondi que saltaria para me despedir com um abraço. Marilisa deu a volta e veio ao meu encontro e me deu  um beijo rapidinho. Zico estava pegando a bagagem no porta-malas e eu procurei ser “discretíssimo”, muito embora não fosse essa a minha vontade. Deixei cópia do anteprojeto do “Fundo de Aposentadoria” e da “Emenda Constitucional” (criação da Procuradoria-Geral de Polícia). A seguir  deixamos acertado que ela faria o contato com o Deputado Darci de Matos e qualquer coisa era só me chamar que eu me faria presente. Marilisa ainda disse:

- “Ah, Felipe, se o pessoal começar a fazer onda aqui, não quiser, se ficar criando caso, vamos nós dois, tá certo?”

Concordei e Marilisa veio novamente ao meu encontro para um segundo abraço e mais um beijo. Achei aquele seu gesto muito bonito, dava a impressão de como ficamos importantes um para o outro, como era bom aquele nosso sentimento, como havia confiança, sinceridade, pureza, verdade, o que me fez aliviar o peso das preocupações anteriores. Novamente procurei ser discreto, no entanto, meu beijo no seu rosto foi mais molhado, procurei com aquele gesto demonstrar não um contato seco, mas algo mais emblemático, tórrido e significativo,  para que demonstrasse quem éramos e fertilizar sementes que pudessem fortalecer nossas relações e para que pudéssemos seguir juntos para fazer a diferença em termos de lutar por projetos institucionais. Assim encerramos nosso último contato. 

Logo a seguir, apanhei meu carro no estacionamento da Delegacia Regional de Joinville e iniciei viagem para  São Francisco do Sul. No trajeto solitário fiquei pensando em tudo o que aconteceu naquela nossa viagem de trabalhos para o meio oeste, não sabendo se conseguiria fazer uma avaliação  real sobre a repercussão desses acontecimentos em nossas vidas. Mas a verdade era  que ela percebeu que algo mudou na nossa relação,  não iria mais quer perder aquilo que esteve tão próximo, fortalecer nossos vínculos de amizade, unir nossos espíritos,  lutarmos juntos por algo significativo, relevante e certamente poderia melhorar em muito a vida dos nossos policiais.