O Hotel Verde Valle:
 

Dia 23.08.07, por volta das vinte horas, tínhamos acabado de chegar na  cidade Videira trazidos numa viatura dirigida pelo camarada Delegado Regional Getúlio Scherer que nos deixou no hotel e logo retornou para Campos Novos. Tinha pensado em convidar  o Dr. Getúlio para jantar conosco, porém, estávamos todos cansados... “Zico” já estava nos aguardando no hall do Hotel Verde Valle. Depois dos registros de entrada, fui para o quarto 211, “Zico” para o 203 enquanto que Ariane e Marilisa ficaram juntas no 111. Rapidamente subi, achando que a partir daquele momento estava livre, leve e solto para respirar um pouco, escrever..., mas logo percebi que era ledo engano. Não passou mais do que cinco minutos Ariane me ligou. Fiquei intrigado e pensei: “como é que ela me descobriu tão rapidamente?” Respondi que elas poderiam se virar com a questão do lanche, da janta e que não precisavam se preocupar comigo. Resolvi sair do Hotel rapidamente e ir até o Shopping, a fim de jantar, comer algo leve e acessar a Internet. Aliás, eu tinha que digitar muitas coisas, também assistir um filme, descansar... Não havia passado mais do que cinco minutos do telefonema de Ariane, quando estava saindo do nosso hotel dei uma olhada  para a área onde da outra vez eu e Marilisa ficamos bem próximos e para minha surpresa lá estava Marilisa  “sentadinha” no mesmo lugar só me observando, com Ariane próxima. Claro que era pura coincidência porque ali era um lugar reservado de espera junto ao hall da entrada do hotel. Fiquei sem jeito e abanei, a seguir fui até a parte de fora e achei que ficaria mal se eu não retornasse e não fosse até elas dar uma explicação, saber se estavam bem... Marilisa, logo que eu me aproximei, foi perguntando:

- “Estais indo para o Shopping, lá no cyber?”

Olhei para ela e respondi:

- “Puxa, como você é intuitiva, heim!

Uma “ponte” e o infinito...:

Era isso mesmo, estava indo para aquele lugar (o Shopping) e pude observar Marilisa esbanjando um sorriso com um misto de peraltice, provocação e ao mesmo tempo protesto silencioso, com uma pitada de controle que poderia ser uma pontinha de  provação (mais provável), talvez também um desejo de  fustigar e ao mesmo tempo ignorar. Sim, poderia até ser um pouco de fantasia da minha parte, mas era provável que desse para perceber que aquilo  foi semeado durante muito tempo  naquele momento estaria se revelando poderoso demais na nossa amizade sincera e ela parecia entender  muito bem a grandeza desse processo, o que aumentaria em muito a minha responsabilidade na condução dos acontecimentos, assim tudo pareceria muito natural e verdadeiro entre nós (será que eu estaria delirando? Marilisa era  desafiante, não se entregava fácil naquele padrão emocional superior, também tinha os seus rompantes,  era  orgulhosa em determinadas situações, impetuosa, tenebrosa, cheia de jogos de cena no campo da  sensualidade pessoal, sua intuição era fina, as tramas interiores bem veladas, tudo  silencioso, invisível e ao mesmo tempo presente  (só que muito simples e poderoso...).  Marilisa comentou  que estava aguardando um contato do Deputado Vieira (Deputado Federal pelo Democratas), pois tinha acabado de receber um recado desse parlamentar que disse precisar  conversar urgente com ela. Fiquei pensando: “Puxa, uma pessoa como Marilisa, com tantos contatos, pessoas importantes na sua vida, uma família com tradição em Joinville... certamente que não teria tempo para à instituição, muito menos teria “vibe” para pensar e falar sobre poesia. Pude sentir também seu lado  “misterioso” com conteúdo plano, aliás, nisso ela parecia  disfarçar muito bem, com muita  categoria. Era sempre  fantástica em termos de energia, dificilmente alguém chegaria ao seu nível, à exceção da própria “Barbarella” e, cena “sheldonwoodiana”. Ela sabia ser naturalmente intensa quando presente e no seu melhor, sem pretender  parecer ser o que não era e nunca foi...  Logo que o Deputado Vieira fez a ligação e passou a conversar com Marilisa, resolvemos deixá-la bem à vontade, passamos  a caminhar até o pequeno Shopping de Videira a fim de comer alguma coisa e se distrair um pouco. Durante nosso trajeto “Zico” e Ariane tomaram a dianteira até que chegamos na estreita ponte que cruzava o rio, localizada bem atrás do hotel. Marilisa já havia encerrado a sua ligação e podemos seguir  mais atrás. Como as condições nos obrigavam a caminhar próximos, mais uma vez pude sentir a felicidade de Marilisa, seu jogo que produziam efeito provocante, seus risos, suas brincadeiras... Parecia incrível, a forma como ela interagia comigo,  como se fosse natural, seu corpo falava e dançava suavemente, suas frases eram melódicas, sua mente parecia livre, leve e solta. Marilisa  parecia amar aquele momento “presente”, aquele contato com pessoas tão queridas, sem precisar de “defesas”, “amarras”..., havia espaço para todo o fogo da intimidade num plano que envolvia mais do que amizades sinceras, parecia uma miragem dos “setes” nos dominando, só que era o mundo convencional que se apresentava com suas armadilhas... Conversávamos aleatoriamente sobre o que vinha à mente, nada parecia preocupar, nem passado e muito menos amanhã. Como sentia toda aquela  energia que nos envolvia, procurei respirar aqueles momentos mágicos sem perder cada detalhe, desde o barulho das águas correntes, o vento calmo tocando as folhas das árvores, as luzes da cidade... Mas, também, sentia que tinha  o controle sobre minhas emoções, os “zeros” formavam um círculo fechado, restava  gratidão e retribuir seu olhar carinhoso, cada gesto seu, desde o gingado das  mãos, o balanço do seu corpo a cada passo, a sua cabeça que se inclinada alternadamente, seus sorrisos, suas frases soltas, cheias de volúpia e amenidades, o que me levou a pensar: “Puxa vida, como ela sabe ser  naturalmente sedutora sem ser, é da sua essência, e isso poderia mexer ou provocar instintivamente os menos desavisados, os primitivos, os mais curtos, e como isso ela trabalhava sua autoestima, turbinava seus sentidos, alimentava seu interior, liberava suas endorfinas..., um “monte” de coisas boas que serviria para revitalizar,  estimular suas emoções..., o que também  lhe trazia  efeitos colaterais como a ansiedade, impulsividade, o olhar felino contido, o despertar das decepções, frustrações... Foi um daqueles nossos momentos mágicos que serviu para que pudesse absorver melhor a sua energia interior, isso e enquanto ainda transitávamos sobre a ponte eu suplicava aos “deuses do Olimpo” que parasse o tempo, que congelasse tudo, como em revistas em quadrinhos, e passei a mirar o final da ponte com o seguinte pensamento: “O final está logo ali, e  com ele, também, finda esse instante mágico, o ponto de fuga de nossas existências se esvai numa fração quântica, cessa todo essa beleza materializada em diamantes. Marilisa entregara o seu melhor, muito embora talvez não tivesse noção do que estaria acontecendo, tudo tinha haver com a sua energia, desde a difusão dos seus sentidos, a profusão da sensualidade e seus mistérios... , nada que não tivesse a minha altura em termos de busca e compreensão. A certa altura ela quase chegou a me abraçar (ou pareceu se insinuar que..., foi um momento de impulso louco, bem típico de  dois “saltimbancos” ao luar contando estrelas cadentes... E, ela parecia gostar muito daquela trama divertida, com arte, carinho...). Procurei compreender as circunstâncias, a separar o real do imaginário e  me mantive firme na superfície, logo imaginei que parecia a sua impulsividade latente falando  o mais quente da alma, que serviria como combustível para alimentar seu equilíbrio emocional e espiritual, pós a nossa viagem, o nosso dia e suas formalidade à exaustão... Aquele momento represado nos ofertava possibilidades de  liberação de neurotransmissores específicos capazes de nos transportar para  vôos  e  sonhos lúdicos inconfessáveis. Marilisa parecia nem se dar conta do que estava acontecendo e parecia querer se expandir e fazer notar,  se deixava levar e tão logo percebi aqueles “veneninhos bons” que contaminavam nossos, causavam impactos previsíveis, tratei de emergir  para a realidade, afugentei qualquer pretensão impulsiva... No nosso andar devagar, intercalado para diálogos ligeiros e  paradas para se sorver o nosso mel, acabamos conversando um pouco mais e Marilisa me perguntou se  havia notado seu corpo (acho que estávamos falando sobre alimentação...). Comentei que tinha reparado sim, ela estava com um ótima silhueta...  Depois Marilisa revelou que o Deputado Vieira quis lhe consultar se deveria passar para o PPS, pois estaria pensando seriamente em mudar de partido e queria colher a sua opinião.  Achei interessante a iniciativa desse parlamentar (irmão do Dr. Xuxo) e ela matou minha curiosidade:

- “Eu sou filiada ao PPS...”. 

Marilisa sorriu e, em seguida, saiu caminhando na frente, como se não quisesse ver minha reação, ler meus pensamentos... Lembrei que nas últimas eleições ela chegou a ser cogitada para ser candidata pelo PPS  o que me fez pensar: “Báh, como Marilisa gosta de produzir mistérios, como articula, mantém seus contatos políticos, transita no universo social, transige com pessoas de peso político..., mas isso é fazer política e parece que ela gosta também desse tipo de “veneninho”?  Sim, respirar esse universo, desde a política, à família,  fisgar a atenção de pessoas, construir relações de amizade, fazer novos contatos, ser a Delegada na vitrine, a vogal nas comissões disciplinares...,  tudo isso poderia se incorporar a  mulher cheia de pluralidade, mil e uma utilidades, desenvolvedora de contingências para interagir com as pessoas  na potência mil, seu contar a sua essência, o seu frescor ..., não acessíveis, desconhecidos e não revelados, exceto por alguns, muito  poucos que conseguiriam acessar o seu interior mais infinito”.

O efeito “madeira dura”?

Na sequência, conseguimos finalmente chegar no nosso destino (Shopping) “Zico”, como já era previsível, desapareceu (saiu à francesa talvez porque não quisesse gastar, apenas ser companhia...), e eu acabei ali com as duas queridíssimas (Marilisa e Ariane) sentado numa mesa comendo massa, carne e frango, tudo acompanhado de uns chopps bem gelados. Conversamos sobre  coisas do cotidiano, eu sentado no meio, inclusive, falamos até da vida alheia, como da  policial Rita da 6ª DP/Joinville. Marilisa pegou pesado... Acabei me referindo a uma  conversa que tive com o Delegado Mário Martins  quando o encontrei num dia  na companhia da Investigadora Policial Rita, isso num café de manhã em São Francisco do Sul. Durante a conversa comentei que   Mário veio ao meu encontro e comentou que aquilo ali era o  efeito “madeira dura”. Marilisa fez um aparte e disse...:

- “Essa mulher é fogoooooo!!!!”

A seguir conversamos sobre um monte de babagens, até sobre a novela “Paraíso Tropical” que estava passando numa “TV de Plasma”, quando apareceu a personagem Alice (que iria casar com Olavo...). Marilisa olhou para mim e disse:

“Tá vendo aquilo lá, são as Alices, não são?”

Olhei e pensei: “Por que será que ela cismo com a Alice Paludo?” e aproveitei para questionar:

- “A Alice Paludo lá de Seara estudou na mesma época comigo lá no Colégio São José em Concórdia, ela é casada há muitos anos, soube que ela mora em Seara...”.

Marilisa insistiu:

- “Sei, sei, a Alice Paludo...”.

Interrompi:

- “Sério, nunca existiu nada entre nós, tínhamos pouco contato...”.

“Diamantes de sangue”:

Mas Marilisa dava a impressão que queria saber ser existia algo muito além e é claro que eu neguei. Marilisa contou que assistiu o filme “Diamantes de Sangue” com o seu sobrinho. Fiquei feliz porque lembrei que outro dia no telefone ela tinha me pedido uma indicação e foi eu que havia sugerido aquele título. No curso de nosso bate-papo descontraído, disse para Marilisa e Ariane que nesta altura da vida eu queria mesmo era ser cada vez mais “invisível” e tentei explicar de maneira abstrata o que estava querendo dizer, e muito provavelmente elas entenderam. Em seguida, começamos nossa retirada para retornar ao nosso hotel, porém, antes  fomos tomar um cafezinho. Enquanto Ariane ficava no bar eu e Marilisa fomos olhar as vitrines das lojas. Seus olhos brilhavam ao ver as vitrines e pude constatar que ela adorava comprar coisas, parecia compulsiva e isso era outro tipo de combustível tóxico com roupagem de “delícia”.  A seguir, depois do café, fomos direto para hotel e na passagem novamente pela “pontezinha”, Ariane me perguntou que profissão eu teria seguido se não fosse Delegado. Pensei um pouco e respondi que com certeza seria médico, teria escolhido a medicina, me especializando em neurologia, com formação em biologia e especialidade em “células nervosas”. Ariante me perguntou se eu já havia plantado uma árvore e a resposta foi que já havia plantado milhares no meu sítio São Francisco...

Quando chegamos no hotel fui direto para o meu quarto. Antes passei no quarto de “Zico”, após bater na porta ele prontamente veio  me atender sem camisa e eu protestei:

- “Escuta aqui, me deixasse sozinho lá com as duas, que sacanagem foi essa, heim?”

“Zico” apenas deixou escapar um riso com certa ironia  e respondeu:

- “‘Dotor’, ‘dotor’, estou vendo o jogo do Figueira, estava ganhando de um a zero, mas o São Paulo acabou de empatar”.

Já no meu quarto fiquei pensando: “Realmente o Delegado Masson é uma pessoa que se credenciaria a ‘envelhecer’ ao lado da Marilisa, isso se não desse certo  com o seu atual namorado (Ciro). Acho que suas visitas (ou visita) à Marilisa  na Dpcami de Joinville marcou muito. Masson parecia repercutir bem o carinho e o efeito ‘barbarella’ natural de Marilisa, além disso parecia ter perfil para formar um “par perfeito”, aliado a sua suavidade no trato das palavras, seus gestos num determinado padrão harmonioso, seu excelente caráter,  sua doçura como pessoa, sabia ser amigo de verdade, cúmplice, respirava exclusivamente a vida privada enquanto que o lado profissional se afigurava pura fuga, infundia paz  por onde passava... Além de tudo isso, o  olhar “Massônico” era  penetrante, seu senso centrado no que fazia, afinal, eram muitos que poderiam ser muito bem captados pelas antenas de Marilisa que acabaria respondendo na mesma vibração. Masson também tinha um quê de homem que poderia saber sedutor, nisso a sua energia tinha um que de habilidade e instinto nato camuflado, bem diferente do outro grande amigo Delegado Mário Martins, este sim “caçador de uma espécie feminina de andróides”. Masson, naquelas circunstâncias, poderia se tornar bastante afiado e afinado, como se trabalhasse uma energia fina capaz de responder a impulsos femininos bem singulares. Com certeza tudo aquilo poderia repercutir  no senso de Marilisa caso realmente buscasse  para si uma velhice tranqüila e em companhia de alguém que pudesse lhe dar um chão gizado  dentro de parâmetros que considerassem afinidades e compromissos comuns de dois gêneros bem definidos. Masson poderia ser o cara, mas apresentava alguns senões graves, pois Marilisa se abastecia de energias complexas, tipo buraco negro (altos e baixos, explosões emocionais...), necessidade de trabalhar a tensão emocional permanente (mimos e repulsas afetivas...), a necessidade de se sentir segura, protegida... (Masson segundo seus relatos também apresentava problemas sérios com depressão...), e por aí vai...! Bom, evidente que desconhecia muito da vida privada do Delegado Masson e aí poderiam haver outros pontos pró e contra... Depois, lembrei que estaria em Piçarras dali alguns dias e iria procurar por Masson e, se pudesse tirar algumas fotos com ele para meus arquivos pessoal...