A primeira Delegacia do Estado:

Dia 23.08.07, por volta das oito horas estava na  Delegacia Regional de Joinville e Marilisa  estava me aguardando com um policial que serviria de motorista numa viatura caracterizada e nos levaria até Itajaí (Posto Santa Rosa) para nos encontrarmos com o pessoal da Corregedoria (Leia-se: Zico, Ariane e Daniela). Marilisa veio ao meu encontro e foi avisando que estava sem pneu de estepe.  Fui observar mais de perto e percebi que no porta-malas havia um pneu vazio, acabei comentando:

- “Bom, vamos arriscar, paciência...”.

Iniciamos a viagem, com Marilisa sentada na frente com o policial Martins, enquanto eu fiquei sentado no banco de  trás. Já na BR 101, saindo de Joinville, resolvi iniciar uma conversa percebendo que Marilisa estava bem energizada, expansiva:

- “Escuta aqui, não esquece que a viagem é longa, heim!”

Marilisa sorriu  daquele seu jeito doce e comentou:

- “Ah, sim, tu estais dizendo isso porque eu começo assim e no final estou em frangalhos”. 

Concordei e disse para ela se poupar um pouco, deixar reservas para depois, quando estivéssemos em grupo. Em razão disso comentei:

- “Puxa, esta nossa polícia é cheia de histórias mesmo. Quanto acontecimentos  nós temos para contar, as pessoas nem imaginam como nossa história é rica, cheia de pérolas...”.

Marilisa concordou e me fez uma pergunta:

- “Escuta aqui, qual foi a primeira Delegacia de Polícia do Estado?”

Pensei um pouco e disse que aquilo mais parecia  pergunta capciosa:

- “Bom, gente, para responder essa pergunta eu tenho que fazer uma retrospectiva histórica. Tenho que começar lá com D. João VI que quando chegou no Brasil criou a Intendência-Geral.  D. João trouxe consigo de Portugal seu amigo Desembargador Paulo Fernandes Vianna... O Rio de Janeiro deixava muito a desejar e a família real quando chegou tinha no seu imaginário o ideal de Lisboa, com ruas limpas, organização..., aqui era bem diferente do Rio. Nós estávamos na época das ‘Capitanias’         e dos “juízes de fora” que no nosso caso inicialmente ficava sediado em Paranaguá e era o responsável por fiscalizar a Justiça e os trabalhos policiais nas províncias. Essa autoridade judicial  vinha regularmente até São Francisco, Desterro e Laguna... Muito provavelmente a primeira Delegacia aqui no Estado foi instalada na antiga Desterro que era a Capital da Província. Só que não começou com esse nome, era uma repartição policial e funcionava no andar térreo da antiga “Câmara de Vereadores”, junto com a “Cadeia Pública”, em frente à atual  Praça XV, no centro de Florianópolis...”. Marilisa estava mais amável, acho que depois que me distanciei ela fez algumas reflexões, afinal, era parecia um ser em evidência e ao mesmo tempo recolhimento, com seus surtos de alegrias e medos ... Lembrei quando ela disse que o “cavalo estava encilhado”, talvez aquela sua frase  significava que nós estávamos muito próximos...  Também, lembrei que não poderíamos confundir as coisas e qual seria então a  verdadeira dimensão disso?   Aproveitei para fazer um relato como  consegui aprovar o projeto das entrâncias para Delegado e como conseguimos acabar com a designação de PMs para cargos de Delegados de Polícia, muitos deles cabos eleitorais do Coronel Pacheco (ex-Secretário da Segurança no governo Kleinubing).

O Posto Santa Rosa:

Chegamos no Posto Santa Rosa por volta das nove horas e dez minutos e o pessoal da Corregedoria ainda não havia chegado. Retiramos as bagagens e liberei o policial Martins para retornar a Joinville. Marilisa pediu para ir no Banheiro enquanto eu coloquei as sacolas em cima de uma mesa, em frente a lanchonete. Quando Marilisa retornou, peguei as bagagens e a convidei para ir para dentro da lanchonete. Marilisa se mostrou preocupada que o pessoal poderia chegar a qualquer momento e com isso tive que argumentar:

- “O que é isso? Por que esse estresse? Relaxa...”.

Marilisa sorriu nervosamente e disse:

- “Eu fico preocupada...”.

Insisti:

“Relaxa, vamos tomar um café, provavelmente eles vão chegar entre nove e meia e dez horas, devem ter ido buscar a Daniela lá no Campeche e o trânsito...”. 

A estrela política salvadora?

Sentamos numa mesinha, pedimos um café e falamos sobre banalidades, nada que merecesse muita importância. Pude notar mais uma vez que Marilisa estava mais dócil comigo, mais chegada, liberada, relaxada e que tinha acalmado sua mente, espantado a sua ansiedade.  Acabamos falando de coisas como quando  ainda estávamos na viatura minutos antes falando de um projeto político para ela, de uma possível candidatura a deputada estadual, do nosso anteprojeto do “fundo de aposentadoria para os policiais  civis”, e ela me pediu que  levássemos a proposta para o Deputado Darci de Mattos que era  muito seu amigo. Lembrei que o policial Martins havia dito que fizeram uma enquête em Joinville para ver quais os vinte nomes mais valorizados no mercado das candidaturas, e o nome de Marilisa surgiu com força total... Martins ainda comentou  que freqüentava bares em Joinville e que o nome de dela era muito bem falado. Aproveitei para comentar que o ideal seria que não nos envolvêssemos em política enquanto estivéssemos na ativa, e que   ingerência política era um câncer na Polícia Civil.  Durante o café comentei   que não havia problema algum de irmos conversar com o Deputado Darci de Mattos e que se ele viesse a ser candidato poderia também faturar em cima do nosso projeto.  A certa altura da conversa Marilisa pareceu se soltar mais, a impressão era que estava gostando do curso da nossa conversa  e veio buscar minhas mãos em cima da mesa. Senti seu aperto, muito embora tivesse feito uma  cara de surpresa, como se fosse meio incômodo aquele seu gesto naquelas circunstâncias, mas essa era a Marilisa... Quanto a mim, de certa forma estava querendo me preservar, ser coerente com minhas posições, sem contar a minha timidez... Ela parece que sentiu o clima e rapidamente voltou a situação anterior,  mantendo seu sorrido, sua classe, brilho e elegância.  Interpretei que aquele gesto  significava emanação de carinho e a necessidade de por em prática seus atos para se abastecer de energias boas, muito embora pudesse até simbolizar mais que isso, tipo união de forças, amizade, cumplicidade...  Como entrei noutra e o clima era também de ser um agente da nossa história, participando ativamente dos acontecimentos, deixando a emoção tomar conta do meu presente, intervindo, agindo, gesticulando, decidindo, sentindo tudo buscando não perder os detalhes, tudo isso  de acordo com a movimentação natural das nossas vidas cruzadas. 

Durante nossa conversa  Marilisa argumentou que estava feliz porque eu estava conversando bastante, o que me fez intervir:

- “Não é bem assim, eu converso assim apenas com as pessoas que eu realmente gosto. Como gosto muito de ti...”.

Marilisa interrompeu:

- “Puxa, então eu me sinto muito honrada...”.

Interrompi:

- “Pára, né! Quem sou eu? Não sou nada para te honrar assim...”.

Marilisa interrompeu meio que eufórica com a provocação:

- “Não, tu és uma pessoa maravilhosa...”.

Interrompi:

- “Menos, Marilisa, bem menos! Não sou tudo isso, nem quero ser. Você que é maravilhosa, querida e especial. Eu sou  pequeno, não sou absolutamente nada!”

A seguir conversamos  sobre a importância da família o que me fez comentar:

- “Veja bem os teus filhos, os teus pais, irmãos, vocês brigam, bringam, mas como é bom estar com a família, nem que seja para lavar roupa suja...”.

Marilisa concordou e quando  já passava das nove horas e trinta e sete minutos  me levantei e fui até a parte de fora da lanchonete  para ver se o pessoal já havia chegado. Para minha surpresa visualizei “Ziro” ao volante da viatura da Corregedoria  achando que nós não havíamos ainda chegado. Chamei “Zico” e pedi que ele fosse até o interior da lanchonete para apanhar as  bagagens. Na sequência iniciamos nossa  viagem até a Penitenciária de São Cristóvão do Sul.